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O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, durante a coletiva de imprensa oferecida no segundo dia da cúpula da OTAN realizada em Madri., no dia 30 de junho de 2022.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, durante a coletiva de imprensa oferecida no segundo dia da cúpula da OTAN realizada em Madri., no dia 30 de junho de 2022.| Foto: EFE/Juan Carlos Hidalgo

No último sábado de abril, diante de uma multidão extasiada de jornalistas e subcelebridades, o presidente Biden declarou a imprensa americana uma instituição indispensável, necessária para a própria sobrevivência da república.

“A imprensa livre é um pilar — talvez o pilar — de uma sociedade livre, não o inimigo”, disse o presidente no jantar da Associação de Correspondentes da Casa Branca, referindo-se a uma crítica notória à mídia feita pelo ex-presidente Donald Trump.

Então ele brincou: “De várias maneiras, este jantar resume meus primeiros dois anos no cargo. Falarei por dez minutos, não responderei a nenhuma pergunta e sairei alegremente.”

Os participantes do jantar explodiram em gargalhadas.

Embora o presidente diga que respeita e admira a imprensa, suas ações sugerem o contrário. Sua recusa em responder a perguntas, por exemplo, sugere que ele despreza a mídia tanto quanto seu antecessor. Nesse sentido, Biden tem muito em comum com o público, que tem uma visão esmagadoramente obscura do jornalismo moderno. Na verdade, de acordo com os dados mais recentes de uma pesquisa da Gallup, apenas 16% dizem ter “muita” ou “bastante” confiança em “jornais” e “notícias na Internet”. Menos ainda — 11% — disseram o mesmo sobre "notícias de televisão". O que quer dizer que o jornalismo moderno está talvez um ou dois degraus acima na escala de popularidade do que a sífilis.

Há uma razão pela qual o público desconfia da imprensa. É muito simples: muitos jornalistas se comportam de maneira não confiável. Somente na semana passada, repórteres de vários grandes veículos produziram ou promoveram, propositalmente ou acidentalmente, informações enganosas ou totalmente falsas.

Um repórter da National Public Radio (NPR), por exemplo, acusou falsamente o Twitter, e especificamente o CEO do Twitter, Elon Musk, de censurar a cobertura nada lisonjeira da NPR sobre a plataforma de mídia social. Nada disso era verdade.

“A história parece estar bloqueada no [Twitter]”, afirmou o repórter de tecnologia Bobby Allyn sobre sua tentativa de compartilhar uma reportagem intitulada “Elon Musk ameaça reatribuir o endereço @NPR no Twitter para 'outra empresa'”.

Colegas jornalistas, incluindo Justin Baragona, do Daily Beast, e Radley Balko, ex-colunista de opinião do Washington Post, foram rápidos em ampliar a falsa alegação de Allyn, acumulando centenas de curtidas e retuítes combinados. Allyn até postou todo a reportagem no Twitter, carregando fotos da história em parcelas. Acontece, no entanto, que o Twitter não bloqueou nada. Allyn simplesmente postou um link ruim, um erro que ele corrigiu mais tarde com uma nota de duas palavras: “link melhor”.

Opa! Agora sim.

Enquanto isso, a CNN publicou umas notas caracterizando de maneira distorcida textos privados do ex-apresentador da Fox, Tucker Carlson. Pensando bem, a palavra “distorcida” é muito generosa. Os textos da CNN são totalmente enganosos.

“Em uma mensagem de texto recém-revelada”, dizia o texto da CNN, “o apresentador demitido da Fox News Tucker Carlson fez um comentário racista e disse que se viu torcendo brevemente que uma multidão de apoiadores de Trump matassem uma pessoa”.

Para registro, aqui está o que Carlson disse (grifo meu):

"Algumas semanas atrás, eu estava assistindo a um vídeo de pessoas brigando nas ruas de Washington. Um grupo de apoiadores de Trump cercou um garoto Antifa e começou a espancá-lo até a morte. Foram três contra um, pelo menos. Saltar sobre um cara assim é obviamente desonroso. Não é assim que os brancos lutam. No entanto, de repente, me vi torcendo pela multidão contra o homem, esperando que eles o acertassem com mais força, o matassem. Eu realmente queria que eles machucassem o garoto. Então, em algum lugar no fundo do meu cérebro, um alarme disparou: isso não é bom para mim. Estou me tornando algo que não quero ser. O canalha Antifa é um ser humano. Por mais que eu despreze o que ele diz e faz, por mais que tenha certeza de que o odiaria pessoalmente se o conhecesse, não deveria me vangloriar de seu sofrimento. Eu deveria estar incomodado com isso. Devo lembrar que em algum lugar alguém provavelmente ama esse garoto e ficaria arrasado se ele fosse morto. Se eu não me importo com essas coisas, se reduzo as pessoas à sua política, como posso ser melhor do que ele?"

A frase em itálico certamente merece um julgamento próprio. No entanto, compare o que Carlson realmente disse e a totalidade de seus comentários com o que a CNN relatou. Você chamaria a caracterização da CNN — omitindo as partes em que Carlson claramente condena a sede de sangue — de justa?

Em um fenômeno já familiar, as redações também insistiram esta semana em se referir a um imigrante ilegal acusado de massacrar uma família de cinco pessoas como um “homem do Texas”:

“Várias pessoas foram presas em conexão com o homem do Texas acusado de matar cinco vizinhos a tiros”, informou o Washington Post.

O atirador suspeito, Francisco Oropeza, de 38 anos, é cidadão mexicano. Ele foi deportado pelo menos quatro vezes entre 2009 e 2016, de acordo com funcionários da imigração. No entanto, para a imprensa, Oropeza é um “homem do Texas”, não um cidadão mexicano ilegalmente nos Estados Unidos.

“O homem do Texas acusado de matar 5 vizinhos está sob custódia”, diz a manchete da NPR.

“A polícia diz que o homem do Texas suspeito de matar cinco pessoas, incluindo um menino de 9 anos, foi preso após uma busca de vários dias”, informou a CBS News.

A Reuters então encerrou com uma manchete auto-refutável: “Um homem do Texas acusado de matar cinco vizinhos foi deportado quatro vezes”. O “deportado quatro vezes” parece estar em conflito com a designação de “homem do Texas”.

Por fim, em um ato muito familiar de subserviência aos poderosos, o PolitiFact [agência de checagem americana] foi defender esta semana a presidente do sindicato da Federação Americana de Professores (AFT na sigla em inglês), Randi Weingarten, montando uma defesa ridícula e fina como papel em resposta aos críticos que observaram, corretamente, que ela foi uma grande defensora do fechamento de escolas durante a pandemia de Covid-19.

“É enganoso sugerir que [Weingarten] não queria reabrir as escolas”, declarou o PolitiFact, administrado pelo Poynter Institute, uma organização sem fins lucrativos com foco na ética na mídia.

Não, não é enganoso. Weingarten se opôs absolutamente à reabertura.

“Enquanto educadores, pais e alunos lutavam durante o início da pandemia de COVID-19 para equilibrar o aprendizado com as regras de segurança da saúde, a presidente do sindicato dos professores, Randi Weingarten, também lutava”, afirma o PolitiFact. “Weingarten defendeu abordagens personalizadas que priorizassem as necessidades de segurança de distritos, educadores e alunos individuais, mas não endossou um retorno total ao aprendizado presencial em todo o país.”

Acrescenta: “O plano de reabertura da AFT, divulgado pela primeira vez em abril de 2020, priorizou a manutenção da distância física entre as pessoas, estabelecendo protocolos de teste COVID-19 e envolvendo funcionários das escolas e pais nessas decisões. Também pediu ajuda federal para ajudar as escolas a se prepararem”.

“Necessidades de segurança priorizadas” é uma maneira organizada e eufemística de caracterizar as ações e a retórica de Weingarten na época, concedendo a ela uma enorme margem de manobra para reescrever a história. Mas também é um pouco óbvio demais, e os pais, ao que parece, têm memórias vívidas sobre o que aconteceu com as escolas de seus filhos durante os anos de pandemia.

O que o PolitiFact e a própria Weingarten convenientemente omitem de sua tentativas de recontar a história são o “ridículo das demandas sindicais, a mudança constante de critérios, a histeria dos protestos usando caixões e o grau em que o fechamento das escolas americanas estava fora de sintonia com o resto do mundo desenvolvido, a maioria severamente em estados e cidades democratas”, como observa Liz Wolfe, da revista Reason.

Tudo isso serve para dizer: o PolitiFact claramente está se dobrando aos poderosos, e desafiando os fatos.

Biden não está errado quando diz que a imprensa desempenha um papel fundamental no funcionamento de uma república saudável. Seria bom se mais jornalistas vissem dessa forma, o que poderia levá-los a levar seus trabalhos mais a sério — mais do que temos visto ultimamente. Talvez então o próprio Biden tratasse a indústria com mais respeito e respondesse a algumas perguntas.

Becket Adams é colunista da National Review e do Washington Examiner. Ele também é o diretor de programa do Centro Nacional de Jornalismo.

©2023 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.
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