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Militares israelenses observam casa destruída por terroristas do Hamas no kibutz de Kfar Aza, onde cerca de 100 pessoas morreram em 7 de outubro
Militares israelenses observam casa destruída por terroristas do Hamas no kibutz de Kfar Aza, onde cerca de 100 pessoas morreram em 7 de outubro| Foto: EFE/Manuel Bruque

Quando surgiram as primeiras imagens de civis palestinos comemorando os ataques terroristas do Hamas em 7 de outubro, era difícil estimar se eles faziam eram parte de uma minoria pró-terrorismo ou se representavam um sentimento majoritário. Não havia dados confiáveis à disposição, e manifestações públicas contra o grupo terrorista não são permitidas.

Mas agora, um novo estudo do Centro Palestino de Política e Pesquisa mostra o que a população da Palestina pensa sobre o episódio. E os resultados são chocantes.

Os ataques de 7 de outubro atingiram crianças, mulheres e idosos de forma indiscriminada; além disso, causaram uma reação arrasadora de Israel na Faixa de Gaza. Ainda assim, o Hamas se tornou mais popular entre os palestinos desde então.

Os dados revelam a complexidade da situação com a qual Israel terá de lidar depois de superar os focos de resistência do Hamas na Faixa de Gaza.

Apoio político migra para o Hamas

A Palestina é formada por duas regiões geograficamente separadas: a Faixa de Gaza e a Cisjordânia. No ponto mais próximo, a distância entre as duas áreas é de 40 quilômetros. Isso levou à formação de dois governos praticamente independentes. Na Faixa de Gaza, o Hamas está no comando desde 2007. Na Cisjordânia, quem governa é o Fatah — que, embora também tenha um braço armado, é reconhecido pela comunidade internacional como legítimo porta-voz da Autoridade Palestina.

O levantamento divulgado nesta quarta-feira (13) foi feito entre 22 de novembro e 2 de dezembro, e entrevistou 750 pessoas nas duas partes da Palestina.

Na Cisjordânia, o apoio ao Hamas quase triplicou em uma comparação com o levantamento anterior, feito em setembro. Na Faixa de Gaza o índice cresceu ligeiramente. Já o apoio à Autoridade Palestina caiu nas duas regiões.

Quando perguntados sobre o grupo político que apoiam, 43% dos palestinos disseram preferir o Hamas, ante 17% que apoiam o Fatah. Em setembro, o Fatah era o grupo mais popular (26% de apoio contra 22% do Hamas).

Depois dos ataques, o apoio ao Hamas passou de 38% para 42% na Faixa de Gaza e de 12% para 44% na Cisjordânia. Os demais entrevistados disseram apoiar partidos menores ou não souberam responder.

“Vale ressaltar que há diferenças significativas nas atitudes dos moradores da Cisjordânia quando comparadas às dos moradores da Faixa de Gaza a respeito do quão correta foi a decisão do Hamas", afirma o relatório, que prossegue: "As atitudes dos moradores de Gaza tendem a demonstrar um grau maior de ceticismo sobre essa decisão".

O sinal mais preocupante da pesquisa talvez seja o de que uma ampla maioria dos palestinos votaria em Ismail Haniyeh, o líder do Hamas, em uma eventual eleição contra o atual líder da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas. Tanto na Faixa de Gaza quanto na Cisjordânia, Haniyeh teria mais de 70% dos votos nesse cenário.

Palestinos não veem crimes de guerra do Hamas

As cenas de celebração depois dos atentados de 7 de outubro de fato representavam o sentimento da maioria dos palestinos.

De acordo com a pesquisa, 72% dos palestinos aprovam e 22% desaprovam os ataques. Na Cisjordânia, o apoio é bem mais alto (82%) do que na Faixa de Gaza (57%). O resultado mostra um realinhamento na opinião pública palestina já que, na última década, o Hamas tinha sido mais popular na Faixa de Gaza do que na Cisjordânia.

O estudo também mostra que a maioria dos entrevistados (52%) culpa Israel pelo sofrimento da população de Gaza em meio à guerra atual; 26% culpam os Estados Unidos e 11% afirmam que a responsabilidade é do Hamas.

Segundo a pesquisa, 72% dos palestinos estão satisfeitos com a atuação do Hamas na guerra; 85% na Cisjordânia e 52% na Faixa de Gaza. Já o apoio ao Fatah ficou em 22%, com níveis praticamente iguais nas duas partes da Palestina.

Os palestinos também enxergam uma assimetria nos abusos às normas internacionais sobre guerra: 95% dos entrevistados afirmam que Israel cometeu crimes de guerra no atual conflito; apenas 10% deles dizem que o Hamas fez o mesmo.

A discrepância pode, em parte, ser explicada pela falta de acesso a fontes de informações independentes. Segundo a pesquisa, 85% dos palestinos não viram os vídeos documentando os atos de violência do Hamas. Apenas 7% dos entrevistados disseram acreditar que o Hamas cometeu as atrocidades. Mais uma vez, o grupo que é diretamente governado pelo Hamas demonstrou ter mais clareza quanto aos atos terroristas: o número foi muito maior entre a população da Faixa de Gaza (16% contra 1% na Cisjordânia).

A diferença entre as duas áreas da Palestina também é visível quando a pergunta se refere a abusos cometidos pelo Hamas: na Faixa de Gaza, o número dos que atribuem crimes de guerra ao grupo (17%) é bem mais alto do que na Cisjordânia (5%).

O instituto responsável pela pesquisa é comandado por Khalil Shikaki, doutor em Ciência Política pela Universidade de Columbia, em Nova York, e pesquisador da Universidade Brandeis, em Massachusetts. O levantamento foi feito em parceria com a Fundação Konrad Adenauer.

Maioria não quer dois Estados

O levantamento também mostra que, de forma geral, os palestinos não confiam em países não muçulmanos. Dentre os principais atores internacionais, menos de 1% dos palestinos têm uma visão favorável dos Estados Unidos; 6% deles estão satisfeitos com a atuação da ONU e 22% veem a Rússia favoravelmente (o maior índice entre países não muçulmanos).

“Os achados indicam que a guerra em andamento entre o Hamas e Israel na Faixa de Gaza teve um impacto significativo em uma série de temas internos da Palestina e nas relações entre a Palestina e Israel”, afirma o relatório.

A maioria dos palestinos é cética quanto à possibilidade de paz. O apoio à criação de dois Estados está em 34% — praticamente o índice de setembro. Mais de dois terços (69%) afirmam que o confronto armado (intifada) pode romper o impasse com Israel. O percentual cresceu em comparação com setembro.

Os números indicam que, para Israel, uma eventual vitória militar em Gaza deve ser apenas a primeira etapa de um longo processo.

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