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Washington cruzando o rio Delaware, pintura de Emanuel Leutze, feita em 1851, mostra o primeiro presidente dos Estados Unidos em momento crucial na Guerra da Independência
Washington cruzando o rio Delaware, pintura de Emanuel Leutze, feita em 1851, mostra o primeiro presidente dos Estados Unidos em momento crucial na Guerra da Independência| Foto: Reprodução

O primeiro presidente dos Estados Unidos não era oficialmente filiado a nenhum partido político. George Washington permaneceu no cargo entre 1789 e 1797, um período de transição e consolidação da independência do país. Foi quando aconteceu também a construção e a inauguração da capital.

Mas, rapidamente, ainda durante o governo de Washington, dois grupos distintos iniciariam uma tradição: desde então, o sistema político americano se mostrou consistentemente bipartidário na prática, ainda que a existência de outras agremiações seja autorizada e sempre tenha acontecido. Atualmente existem sete grupos em atividade, ainda que cinco deles não contem com nenhum governador, nenhum senador e nunca tenham conseguido eleger um presidente.

Desde meados dos anos 1850, os partidos Republicano e Democrata dividem o poder, não apenas no Executivo como no controle da maioria do Legislativo, com as consequentes indicações para os principais postos do Judiciário.

Em 5 de novembro de 2024, os eleitores americanos vão às urnas para a 60ª eleição presidencial quadrienal da história do país. E, mais uma vez, as duas principais agremiações políticas irão centralizar as atenções.

Elas surgiram depois da fundação do país, se consolidaram no poder e acumularam conquistas e erros. Suas ideologias e propostas foram ajustadas ao longo do tempo, assim como o perfil de eleitorado que elas atraem. Começamos agora a contar a história do sistema partidário norte-americano, e mais especificamente a trajetória do Partido Republicano e do Partido Democrata. Este é o primeiro texto da série.

1. Fundação e Conflitos Iniciais (1780-1820)

Em geral, os fundadores na nova nação independente não confiavam totalmente no sistema partidário tradicional, e por isso mesmo não previram a existência de tais agremiações na Constituição americana. Como aponta o historiador Richard Hofstadter no livro 'The Idea of a Party System: The Rise of Legitimate Opposition in the United States' (“A Ideia de um Sistema Partidário: A Ascenção da Oposição Legítima nos Estados Unidos”, sem versão em português), os primeiros líderes do país “não acreditavam nos partidos como tais, desprezavam aqueles que conheciam como modelos históricos, tinham um grande terror do espírito partidário e das suas consequências nefastas”.

No entanto, ele prossegue, “quase assim que o seu governo nacional entrou em funcionamento, acharam necessário estabelecer partidos”. E o primeiro foi o Partido Federalista, inspirado em uma coleção de 85 artigos e análises de Alexander Hamilton, John Jay e James Madison. Eles defendiam que a federação deveria se manter fortalecida por um governo central forte, que incentivasse a industrialização do país.

27/08/1787: É publicado o primeiro dos chamados Papéis Federalistas, uma coleção de 85 artigos escritos por Alexander Hamilton, John Jay e James Madison. Os documentos inspirariam a criação, dois anos depois, do Partido Federalista, o primeiro agrupamento político da história americana.

Logo na virada da década de 1790, este grupo já contava com a oposição dos chamados não-federalistas, que em 1792, por iniciativa de Thomas Jefferson, dariam origem ao Partido Democrata-Republicano. Este grupo era defensor da concessão de maior poder às províncias e ao incentivo a um sistema de produção predominantemente agrário. Enquanto os federalistas eram mais ligados às províncias do norte do país, os democratas-republicanos se vinculavam com maior força ao sul.

Surgia assim a primeira versão do sistema partidário nacional, sustentado na oposição entre dois grupos adversários. John Adams, o segundo presidente do país, era federalista, num momento de grande domínio deste grupo.

No entanto, seu sucessor foi Jefferson — a ele se seguiram três integrantes do Partido Democrata-Republicano, que ocupou um vácuo deixado pela perda de prestígio dos federalistas depois que eles se recusaram a apoiar a Guerra Anglo-Americana de 1812. Em 1835, o Partido Federalista deixaria de existir, apenas um ano depois da fundação de seu sucessor, o Partido Whig.

13/05/1792: Em oposição aos federalistas, Thomas Jefferson funda o Partido Democrata-Republicano, que defendia o liberalismo, o republicanismo, as liberdades individuais e o livre comércio – e não se opunha à escravidão. Em 1801, Jefferson se tornaria presidente como sucessor de John Adams, o único integrante do Partido Federalista a chegar ao posto.

No fim da década de 1820, os democratas-republicanos dariam sofreriam uma divisão, que daria origem ao Partido Democrata. Surgia dessa forma uma nova bipolaridade política, entre o Partido Whig e o Partido Democrata.

Em suas origens, os democratas atuavam em defesa de uma base eleitoral bastante diferente da atual. “Demorou terrivelmente para que o autoproclamado ‘partido do povo’ acolhesse o apoio e lutasse pelas necessidades dos americanos cuja pele não era branca e cujo género não era masculino”, relata Michael Kazin em 'What It Took to Win: A History of the Democratic Party' (“O que Foi Necessário para Vencer: uma História do Partido Democrata”, sem versão em português). “Durante o primeiro século da sua existência, o Partido Democrata foi de fato uma organização que solicitava os votos apenas dos homens brancos e negligenciava ou menosprezava todos os outros”.

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