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Restos de plástico, na forma de 1,8 trilhão de pedaços, ocupam no Oceano Pacífico uma área três vezes maior que a França | SEYLLOU/AFP
Restos de plástico, na forma de 1,8 trilhão de pedaços, ocupam no Oceano Pacífico uma área três vezes maior que a França| Foto: SEYLLOU/AFP

No total, 79 mil toneladas de restos de plástico, na forma de 1,8 trilhão de pedaços, ocupam no Oceano Pacífico uma área três vezes maior que a França, na região entre a Califórnia e o Havaí, segundo uma equipe de pesquisadores. 

A quantidade de plástico encontrada nessa área, conhecida como a Grande Mancha de Lixo do Pacífico ou Ilha de Lixo do Pacífico, está “crescendo exponencialmente”, de acordo com os pesquisadores, que usaram dois aviões e 18 barcos para medir a poluição oceânica. 

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“Nós queríamos ter uma imagem clara e precisa da aparência da situação”, disse Laurent Lebreton, o oceanógrafo líder da Fundação de Limpeza do Oceano e principal autor da pesquisa. 

A porção de lixo já havia sido descrita antes. Mas essa nova pesquisa estima que a massa de plástico depositada no local é 16 vezes maior do que se acreditava, e continua a aumentar por causa das correntes oceânicas e pela falta de cuidado humano no mar e na terra. 

Origem dos dejetos

A “mancha” não é uma ilha ou uma massa única, o que faz com que alguns cientistas questionem o nome dado a ela. Ela é na realidade uma área com um grande volume de plástico, cuja concentração aumenta conforme se aproxima do centro. Os pedaços variam entre pequenos flocos a redes descartadas de pesca – que formam 46% do material, segundo a pesquisa. 

O estudo foi conduzido pela Fundação de Limpeza do Oceano e contou com pesquisadores de instituições da Nova Zelândia, Grã-Bretanha, França, Alemanha, Dinamarca e dos EUA, que publicaram os resultados na revista Scientific Reports. 

Existe uma clara distinção entre o crescimento da massa de plástico dentro da porção – que está aumentando – e o tamanho geral da porção, que parece não mudar. O que acontece é que o lixo está se acumulando ou ficando mais denso dentro da mancha.

O plástico está vindo provavelmente dos países do Pacífico, segundo Lebreton. Mas poderia ter origem em qualquer lugar, já que o plástico viaja por todos os oceanos e já foi encontrado até em águas do Ártico, onde pouquíssimos humanos vivem. Alguns restos provavelmente vieram do tsunami de 2011, que devastou o Japão e levou grandes quantidades de lixo para o mar, segundo o estudo. 

A mancha está localizada numa área de correntes fracas, onde os restos chegam e permanecem, diminuindo ainda mais a velocidade da corrente. 

O estudo também descobriu que, baseando-se em pesquisas anteriores à década de 1970, a quantidade de plástico na mancha está crescendo constantemente já que chegam mais detritos do que saem – resultando então num “crescimento exponencial” da quantidade de lixo. 

“Nós achamos que há mais e mais plástico se acumulando nessa área”, disse Lebreton. 

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O que não vemos pode ser ainda muito maior

O aspecto mais surpreendente das descobertas – e talvez o mais perigoso – foi o grande número de redes de pesca encontrado, de acordo com Chelsea Rocham, uma professora assistente da Universidade de Toronto que estuda o plástico marinho, mas que não fez parte da equipe dessa última pesquisa. 

“Isso sugere que talvez estejamos subestimando como os restos da pesca estão viajando pelos oceanos”, ela disse por email. “O entrelaçamento e o abafamento com redes de pesca é um dos efeitos mais prejudiciais que vimos na natureza”. 

O aumento do plástico é um fato coerente com outras descobertas de pesquisas conduzidas em terra, que mostram que os volumes de lixo que entram nos oceanos são grandes e estão aumentando, de acordo com Jenna Jambeck, uma engenheira ambiental da Universidade de Georgia que estudou o processo de descarte do plástico. 

Em uma pesquisa de 2015, Jambeck descobriu que os homens estão enchendo os oceanos com um número estimado de oito milhões de toneladas de plástico por ano, número que deve crescer em 22% até 2025. 

Isso confirma o que está sendo visto no oceano, na forma de uma mancha de acúmulo de lixo no Pacífico, ainda que Jambeck aponte que parte do plástico afunda e se acumula no fundo do oceano, e que as redes de pesca são jogadas dos barcos, não da terra, e, portanto, não entram nas estatísticas da sua pesquisa. 

“Segundo a lógica, se planejamos que isso aumente anualmente em termos de descarte, o que veremos é um aumento disso no oceano”, disse Jambeck. 

Jambeck e os pesquisadores do Instituto concordam que existe menos plástico sendo acumulado na mancha do que indo para o fundo dos oceanos – e o próprio estudo mostra isso quando se compara com a quantidade de lixo sendo descartado anualmente e o volume da mancha – a pesquisa esperava números maiores para a área. 

Claramente, muito plástico está afundando e prejudicando relevo oceânico ou até mesmo as profundezas do mar. 

Nesse sentido, a Grande Mancha de Lixo do Pacífico é, no fim das contas, apenas o sintoma externo mais dramático de um problema mais profundo de volumes enormes de lixo humano chegando a lugares onde não deveriam estar. 

“Os resultados são alarmantes e mostram a urgência da situação”, disse Lebreton. 

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