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Censura e política
O desejo de proteção contra a dissidência vem da insegurança: a esquerda não quer ouvir pontos de vista opostos devido ao medo de estar errada e inadequada, argumentam Michael Shellenberger e Alex Gutentag.| Foto: Eli Vieira com Dall-E

Jornalistas dos Twitter Files, membros republicanos do Congresso americano e ativistas conservadores têm perseguido pesquisadores da desinformação, dizem os principais meios de comunicação. Eles têm acusado falsamente de censura pessoas como Renée Diresta, do Observatório da Internet de Stanford, e Kate Starbird, da Universidade de Washington, argumentaram o New York Times, a revista New Yorker, o Washington Post, a emissora PBS, a rádio NPR, o jornal The Guardian, os sites Daily Beast e Tech Crunch, além muitas outras publicações. Diresta e Starbird, afirmam esses veículos, estavam apenas ajudando as plataformas de mídia social a detectar formas perigosas de desinformação, que poderiam levar a danos no mundo real.

Além disso, dizem os meios de comunicação, toda a ideia de que há "censura governamental" é uma teoria da conspiração. Tudo o que está acontecendo é a moderação de conteúdo para proteger os usuários, a conversa online e a democracia.

Mas agora, as mesmas publicações que descartaram e negaram a realidade da censura financiada, exigida e forçada pelo governo estão soando o alarme sobre a censura generalizada de vozes progressistas nas redes sociais.

"Desde que o sangrento conflito entre Israel e o Hamas se intensificou em guerra neste mês, criadores focados na Palestina têm usado cada vez mais a 'língua do algoritmo' — uma coleção de frases, grafias especiais e palavras-código — para evitar que suas postagens sejam removidas ou suprimidas pelas redes sociais", lamentou Naomi Nix com Taylor Lorenz e Will Oremus do Washington Post. "Sua retórica reviveu o escrutínio de anos sobre como empresas de tecnologia como Meta, YouTube e TikTok policiam suas plataformas durante momentos de violência intensificada entre israelenses e palestinos."

Engraçado — não houve "escrutínio de anos" por parte do Washington Post quando conservadores e outras vozes desfavorecidas estavam sendo censuradas.

Pelo contrário, o Washington Post publicou pelo menos quatro longos artigos descartando a censura revelada pelos Twitter Files e pelo processo Missouri vs. Biden, que está indo para a Suprema Corte. [N. do T.: nesta ação, os estados do Missouri e da Luisiana estão processando o governo federal americano por violar a Primeira Emenda da Constituição, que protege a liberdade de expressão, ao usar as redes sociais para remover do espaço público expressões dentro da lei. O governo Joe Biden perdeu em primeira instância e no recurso, o caso será decidido na Suprema Corte até 2024.]

Em contraste, em sua história sobre a censura de vozes pró-Palestina, o Washington Post expressa grande ceticismo em relação às Big Tech e simpatia pelas pessoas censuradas — o oposto exato de como tratou a questão quando eram não-esquerdistas que estavam sendo censurados. "A Meta disse em um post de blog nesta semana que a empresa corrigiu bugs que impediam que as postagens de alguns usuários, vídeos efêmeros conhecidos como stories e vídeos curtos conhecidos como reels aparecessem adequadamente", escreveram Nix, Lorenz e Oremus. "Mas nem todos os usuários de redes sociais focados na Palestina acreditam na explicação da Meta."

Na verdade, o Washington Post, como a maioria dos meios de comunicação, passou anos negando que a censura estava ocorrendo, mesmo enquanto pediam mais dela. Entre os que pediam mais censura estava Lorenz, que contribuiu para a reportagem do jornal lamentando a censura de vozes palestinas. Lorenz repetidamente exigiu mais censura para proteger jornalistas de "turbas online", "assédio online", do "movimento incel online", "misoginia", "deturpações desenfreadas" e muito mais. No início de 2022, Lorenz defendeu uma proposta de criação de um conselho de censura governamental, por fim abandonada pelo governo Biden após provocar indignação, e afirmou que o conselho morreu devido à "desinformação".

Certamente houve um aumento preocupante nas demandas por censura e listas negras desde os ataques do Hamas em 7 de outubro. A Universidade de Nova York parece estar investigando uma estudante que disse: "Israel é totalmente responsável por essa tremenda perda de vidas". Autoridades governamentais estão ameaçando cortar o financiamento de faculdades por coisas que os alunos disseram e até mesmo exigindo sua expulsão. O Sistema Universitário Estadual da Flórida advertiu incorretamente que os apelos para que Israel "seja apagado do mapa" são "atividades criminosas". O ex-presidente Donald Trump pediu o banimento nos campi universitários daqueles que expressam "ódio aberto contra Israel e os EUA". E autoridades políticas, incluindo o Procurador-Geral de Nova York, estão exigindo maior censura nas redes sociais para deter a propagação de "retórica violenta".

Mas o alarme que os meios de comunicação estão levantando está em nítido contraste com a indiferença, na melhor das hipóteses, e a hostilidade, na pior, às evidências de censura governamental e não governamental de uma variedade de pontos de vista e vozes desfavorecidos relacionados às mudanças climáticas, Covid, Ucrânia e tráfico de influência da família Biden.

Philip Bump, do Washington Post, opinou em dezembro passado que o tesouro de documentos internos do Twitter "não mostra o que é alegado por Musk e os escritores encarregados de fazer seleção enviesada dos arquivos de e-mail do Twitter. O que as evidências de verdade mostram, em vez disso, é uma resposta muitas vezes improvisada ao que aconteceu em 2016, uma resposta que às vezes é desajeitada ou duvidosa, mas não uma resposta que mostre de forma óbvia uma instituição federal tentando remodelar o resultado de uma eleição."

Parte da cobertura da imprensa convencional sobre a censura de posições pró-Palestina parece manipulação psicológica. "As preocupações com a censura e o shadowban [redução de alcance proposital] são perenes nas redes sociais", escreveu Chris McGreal do Guardian no sábado, "mas os riscos são muito maiores durante tempos de guerra..." Tudo isso é uma mudança dramática em relação à cobertura do Guardian em dezembro passado. Os Twitter Files, escreveu seu colunista de tecnologia na época, "falharam em alcançar seus objetivos aparentes. O fio condutor de todo o exercício é que o Twitter é um foco de viés de esquerda, explicitamente alinhado com o Partido Democrata dos EUA, e com medidas injustificadas para censurar a expresão por motivações políticas. As postagens em si mostram pouco disso."

O Tech Crunch, que descartou preocupações sobre censura levantadas pela cobertura dos Twitter Files no início deste ano como nada mais do que picuinhas sobre moderação de conteúdo, agora faz publicações com um tom alarmista sobre a moderação de conteúdo de vozes palestinas desfavorecidas. Os Arquivos do Twitter, argumentou Devin Coldeway, mostram a equipe de moderação de conteúdo do Twitter "lidando com circunstâncias em evolução e descobrindo em tempo real como a empresa deveria responder". Contraste essa atitude blasé com uma reportagem dele da semana passada, com título "Meta tem um problema de viés de moderação, não apenas um 'bug', que está suprimindo vozes palestinas". Suprimindo? Sim, disse o Tech Crunch. "É o mais recente em uma longa história de incidentes nas plataformas da Meta que refletem um viés inerente contra usuários palestinos", escreveu o autor.

Por anos, a esquerda insistiu que cancelar, colocar em listas negras, shadowban e censura eram ações legítimas para punir pessoas com pontos de vista indesejáveis, proteger a segurança e combater a desinformação. Agora que a esquerda pode ser alvo dessas táticas, eles passam a defender o que muitos de nós estamos dizendo nesse tempo todo: a censura causa muito mais mal do que bem. Mas a esquerda ainda não reconheceu seus padrões duplos. Por que será?

Aos amigos, tudo, aos inimigos a censura

A explicação mais simples para a hipocrisia da esquerda sobre censura é simplesmente que eles favorecem a liberdade de expressão para si mesmos e censura para seus inimigos. Evidências disso podem ser encontradas em praticamente todos os artigos de notícias convencionais sobre os Twitter Files. Em dezembro passado, o Guardian até reconheceu que os Twitter Files mostravam censura, mas que tal censura deveria ser bem-vinda porque era contra a direita política. "Como muita coisa relacionada à política americana", opinou o colunista de tecnologia do Guardian, Alex Hern, "os arquivos caem por terra se você considerar a direita americana como uma exceção. Se você tem regras contra desinformação eleitoral e apenas um partido se envolve em uma campanha sistemática de desinformação eleitoral, não é um resultado irrazoável que esse partido seja o foco dos esforços de moderação."

Por anos, a revista Wired insistiu que desinformação e informações erradas resultavam em prejuízos no mundo real, incluindo a eleição de Trump, e que mais censura nas redes sociais era necessária. A própria Diresta escreveu vários artigos para a Wired fazendo essa alegação. Os artigos de Diresta pediam abertamente uma expansão radical da censura de pontos de vista desfavorecidos: "Ativistas antivacina estão usando o Twitter para manipular um projeto de lei da vacina", foi o título de um artigo de 2015 em que Diresta reclamou que o Twitter não estava censurando suficientemente os céticos quanto a vacinas. Em 2018, a Wired publicou outro artigo dela, "Liberdade de expressão não é o mesmo que liberdade de alcance", que pedia a censura do presidente dos Estados Unidos [Trump]. E em 2021, ela pediu ainda mais shadowban em um artigo de título "Como parar a desinformação antes que ela seja compartilhada".

Mas agora, diz a Wired, é a censura, não a desinformação, que está causando danos no mundo real. "Palestinos afirmam que a 'censura' nas redes sociais está colocando vidas em perigo", lê-se na manchete da Wired denunciando a censura nas redes sociais de palestinos em Gaza e em todo o mundo.

"Nas redes sociais, o shadowban é difícil de provar", observou a Wired. "Mas usuários em todo o mundo dizem que quaisquer postagens contendo conteúdo palestino, ou menções a Gaza, recebem visualizações e engajamento atipicamente baixos. Em alguns casos, usuários do Instagram não foram autorizados a comentar em outras postagens, com uma mensagem pop-up que dizia: "Restringimos certas atividades para proteger nossa comunidade. Com base no seu uso, esta ação estará indisponível para você até [data]. Diga-nos se você acha que cometemos um erro".

O Tech Crunch desmereceu a publicação da jornalista Bari Weiss cobrindo os Twitter Files sobre o shadowban de vozes desfavorecidas porque "mostra apenas exemplos de ações de moderação que afetam um punhado de contas conservadoras marginais". As chamadas "contas marginais" incluíam a do professor da Universidade de Stanford, Jay Bhattacharya, um pensador líder global sobre como responder a pandemias.

Philip Bump, do Washington Post, promoveu abertamente uma maior censura de pontos de vista desfavorecidos, com o argumento paternalista de que as pessoas comuns estão sobrecarregadas com informações demais que devem passar por curadoria. "Um dos ensaios mais importantes que avaliam a forma como enormes quantidades de informações estão disponíveis online", escreveu Bump, é "Contra a transparência", de Lawrence Lessig. "Para entender algo — um ensaio, um argumento, uma prova de inocência — requer uma certa quantidade de atenção", escreve Lessig. "Mas em muitas questões, a média, ou mesmo a quantidade racional de atenção dada para entender muitas dessas correlações e suas implicações difamatórias, é quase sempre menor do que a quantidade de tempo necessária."

Chris McGreal, do Guardian, até conseguiu promover a censura dos inimigos do Guardian na mesma frase em que denunciava a censura dos amigos do jornal. "À medida que as pessoas procuram freneticamente informações confiáveis online, à medida que a desinformação prolifera no X, o ambiente exacerbado só está sendo piorado por alegações de shadowban, disse [a advogada Nora] Benavidez."

Mas tal parcialidade deveria ser problemática para jornalistas que afirmam ser justos — e para defensores da liberdade de expressão. Afinal, não é defesa da liberdade de expressão se é apenas para o seu time e não para os seus oponentes.

A maioria das pessoas da esquerda não parece perceber que estão se contradizendo ao lamentar a censura de vozes pró-Palestina. Na segunda-feira (23), o ex-presidente Barack Obama pediu um "diálogo respeitoso" entre pessoas que discordam sobre Israel, mas apenas um ano atrás, Obama pediu uma maior censura nas redes sociais de pontos de vista dos quais ele discorda e pediu que o governo dos EUA criasse "uma estrutura regulatória" para limitar o discurso online.

Desde 2016, a esquerda tem adotado cada vez mais uma abordagem tribal, em vez de liberal, para a política. Ao combater o que viam como a ameaça do fascismo e da supremacia branca, a esquerda decidiu, em grande parte, abandonar os princípios básicos da democracia liberal e aplicar diferentes direitos de expressão e até mesmo direitos legais a diferentes pessoas com base em uma distinção amigo/inimigo.

A esquerda também desfrutou de um senso de privilégio, já que seu controle de grandes instituições lhe deu o poder de censurar e cancelar pontos de vista desfavorecidos à vontade. As gerações mais jovens da esquerda, que favorecem a censura, provavelmente têm pouca consciência ou compreensão dos tempos em que era a esquerda, e não a direita, a mais afetada por tal censura. Sua preferência por censura e cultura do cancelamento, em geral, reflete o mimo e a crença de que têm direito à proteção contra ideias com as quais não concordam.

O Guardian, por exemplo, incentivou a autocensura, desencorajando as pessoas a lerem sobre os Twitter Files. "Eu li os 'Arquivos do Twitter' de Elon Musk para que você não tenha que ler", escreveu o jornal. "Os vazamentos não revelam um antro de viés de esquerda na empresa de rede social — apenas um bilionário hipersensível reacendendo as guerras culturais de anos atrás."

Esse desejo de proteção contra a dissidência vem, em última instância, da insegurança. A esquerda não quer ouvir pontos de vista opostos devido ao medo de estar errada e inadequada. Seu endosso à censura de críticas às vacinas contra Covid, por exemplo, provavelmente nunca se tratou apenas de "salvar vidas" ou mesmo garantir o sucesso da campanha de vacinação. Como os executivos do Facebook observaram internamente, censurar a hesitação em relação à vacina e relatos de efeitos colaterais realmente aumenta a desconfiança em relação às vacinas e é, portanto, contraproducente.

Um dos principais propósitos desse tipo de censura era proteger o ego da esquerda. Se as pessoas fossem livres para expressar opiniões nas redes sociais que criticassem a segurança e eficácia das vacinas contra Covid, isso minaria a autopercepção da esquerda como o lado "bom" tentando salvar vidas, lutando contra o lado "ruim" que não se importava com vidas. Dessa forma, o projeto de censura da esquerda era uma oferta decadente e hedonista para preservar um senso de superioridade. O prazer que a esquerda derivava de censurar seus inimigos vinha de como essa censura aliviava suas próprias inseguranças e dúvidas sobre si mesma.

Liberdade de expressão para todos

Há poucas semanas, a imprensa estava citando a Anti-Defamation League [sigla ADL, Liga Antidifamação, ONG dedicada a combater o antissemitismo] para exigir que Elon Musk censurasse mais vozes conservadoras online em nome do combate ao antissemitismo. Como o Public [jornal-newsletter dos autores deste artigo] foi o primeiro a noticiar, a ADL contava como antissemitas as postagens nas redes sociais que simplesmente criticassem George Soros sem nunca mencionar que ele é judeu. Na segunda-feira (23), o Guardian lamentou que a emissora MSNBC estava dando palco ao seu líder. "Jonathan Greenblatt", escreveu o Guardian, "apareceu na MSNBC [e] teve permissão para fazer um longo e incontestado discurso no qual ele comparou a discussão das causas mais amplas do conflito e das políticas israelenses ao apoio ao terrorismo."

Os jornalistas publicaram tantos artigos denunciando a censura nas redes sociais de vozes palestinas que até estão criticando uns aos outros por não publicarem ainda mais artigos. No dia 21 de outubro, o Daily Beast atacou o Guardian por supostamente deixar morrer uma coluna sobre a censura "macartista" de vozes palestinas por razões políticas. (O Guardian nega.)

O Daily Beast ignora o fato de que o Guardian já havia publicado não uma, mas duas reportagens sobre a censura nas redes sociais de vozes palestinas progressistas. "Opiniões pró-Palestina enfrentam repressão nos EUA em meio à guerra entre Israel e Hamas", dizia o título da segunda reportagem, que foi publicada no sábado (21). "Conferências foram abruptamente canceladas, aparições na imprensa suprimidas e exigências foram feitas para demitir críticos das políticas israelenses."

A indignação da imprensa sobre a censura de vozes pró-Palestina fez as plataformas de redes sociais se apressarem para acabar com a censura. As perguntas do Washington Post forçaram pelo menos uma empresa de rede social a parar de censurar. "Depois que o Washington Post enviou perguntas ao TikTok sobre o vídeo, o som foi restaurado." Um porta-voz da Meta disse que um "bug" causou parte do problema. "Corrigimos um problema que brevemente causou traduções inadequadas do árabe em alguns de nossos produtos", disse o comunicado, "Pedimos desculpas sinceramente por isso ter acontecido."

Enquanto isso, alguns à direita parecem defender a censura. Depois que a França proibiu totalmente todos os protestos pró-palestinos, o podcaster conservador americano Dave Rubin elogiou a decisão no X, dizendo "Talvez o Ocidente tenha uma chance."

Tudo isso é, portanto, uma má notícia para quem se preocupa com a liberdade de expressão para todos e com a proteção da democracia liberal. Mostra que muitas das pessoas que supostamente estão comprometidas com a liberdade de expressão, seja à esquerda ou à direita, realmente só a apoiam quando é para o seu próprio grupo. Revela que, por baixo de nossas mentes racionalistas, ainda existe um cérebro altamente tribal e reptiliano.

Ao mesmo tempo, a indignação com a censura por parte dos progressistas e da imprensa é muito boa, já que agora eles se encurralaram. "Tudo o que estamos pedindo é para nos dar os mesmos direitos exatos", disse a jornalista palestina Leen Al Saadi, que diz ter sido censurada repetidamente. "Não estamos pedindo mais. Estamos literalmente apenas pedindo à Meta, ao Instagram, a cada canal de transmissão, a cada veículo de imprensa, para nos dar o respeito que merecemos". Isso é literalmente tudo o que os signatários da Declaração de Westminster e os defensores da Primeira Emenda estão pedindo também.

E a maioria à direita ainda se opõe à censura.

O episódio também mostra o problema com os esforços europeus para regular a expressão de alguma forma. "Como defensor da liberdade de expressão, acho que a polícia só deve interferir na fala se ela estiver realmente incitando à violência", escreveu Brendan O'Neill na revista The Spectator. "Não quero que a polícia prenda islamistas radicais ou qualquer outra pessoa que apenas diga coisas feias ou desagradáveis. Mas, ao mesmo tempo, não quero que a polícia faça vista grossa para o papo da guerra santa. Não é trabalho deles emitir pronunciamentos religiosos ou políticos."

Nos Estados Unidos, não é trabalho da polícia fazer isso. É apenas o trabalho da polícia britânica porque o Reino Unido tem restrições muito maiores sobre a expressão do que nós nos EUA.

Muitos americanos não parecem desejar que os EUA censurem mais. Em resposta ao endosso de Rubin à censura francesa dos palestinos, os comentaristas responderam: "Não. Deixe-os protestar. Deixe todos os verem. Exponha-os". Outro disse "o discurso é protegido pela Primeira Emenda... não cometa o mesmo erro dos identitários [woke]".

Escrevendo no Free Press, Nadine Strossen, ex-presidente da ACLU [União Americana de Liberdades Civis], e Pamely Persky, uma psicóloga social, explicaram por que até mesmo os antissemitas merecem direitos de expressão. "Enquanto judias e defensoras da liberdade de expressão", escreveram elas, "acreditamos que, por mais doloroso que seja ouvir um discurso que pede a nossa eliminação, devemos resistir ao impulso de silenciá-lo".

Essa posição não é apenas idealista — é prática. Strossen e Persky defenderam que "o diálogo é melhor para derrotar a crueldade do que o silêncio. Por mais desanimadas que possamos estar a respeito do poder de tal boa vontade, a história não nos deixa dúvidas: a censura é garantia de fracasso".

E a Foundation for Individual Rights and Expression (FIRE, "Fundação por Direitos Individuais e de Expressão", trad. livre), que está desempenhando o papel que costumava ser da ACLU, tem sido eloquente em sua defesa da liberdade de expressão para pontos de vista pró-israelenses e pró-palestinos. "Em tempos de crise ou agitação, esse princípio enfrenta seu maior teste", observou Aaron Terr da FIRE na semana passada. "Quando eventos trágicos despertam sentimentos compreensivelmente intensos de tristeza e raiva, as pessoas tendem a ter pouca paciência para a expressão que inflama essas emoções. Isso é da natureza humana. Mas não podemos deixar que a indignação com as expressões que consideramos repreensíveis nos cegue para a sabedoria da Primeira Emenda e o perigo de dar poder ao governo para policiar o que dizemos. É ainda mais importante aderir aos princípios da liberdade de expressão durante tempos de crise, quando as paixões crescentes criam um risco aumentado de autoritarismo."

©2023 Public. Publicado com permissão. Original em inglês.

Conteúdo editado por:Eli Vieira
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