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Proteção contra Covid-19
Mulheres andam pelas ruas do Rio de Janeiro fazendo diferentes escolhas quanto à sua proteção contra a Covid-19 ao ar livre.| Foto: EFE/ Antonio Lacerda

Um novo estudo feito com prisioneiros de 35 presídios da Califórnia descobriu que a variante ômicron, forma dominante da Covid-19 há um ano, tem sua transmissão reduzida a níveis similares tanto pela infecção prévia, que gera a imunidade natural, quanto pela vacinação, mas que os riscos de transmissão permanecem altos nos dois casos. A imunidade híbrida, derivada tanto de infecção prévia quanto de vacinação, teve o melhor resultado na redução de risco de transmissão: 40%, comparado a 23% da imunidade natural e 22% da imunidade vacinal.

Os pesquisadores, liderados por Nathan C. Lo, da Divisão de HIV, Doenças Infecciosas e Medicina Global da Universidade da Califórnia em São Francisco, consideraram o risco de transmissão entre indivíduos que compartilhavam cela, com isolamento por paredes e portas sólidas, em um período de cinco meses encerrado em maio de 2022. Na amostra final foram incluídos 111.687 presidiários, quase a totalidade deles homens (97%). Foram 22 mil casos confirmados de Covid e 31 hospitalizações.

A maioria dos infectados foi posta em quarentena ou isolamento após o teste positivo. Para avaliar a transmissão para os companheiros de cela, foi considerado infeccioso o período de cinco dias após o teste positivo, e os companheiros só foram incluídos no estudo se passaram ao menos um dia com a pessoa infectada. O risco de transmissão para todos os casos de compartilhamento de cela foi de 30%. Dos companheiros não vacinados, foi 36%; dos vacinados foi 28%; e, dos que tinham imunidade natural de infecção prévia, o risco de transmitir foi de 23%

O estudo, que foi publicado na revista Nature Medicine, apoia doses de reforço: cada dose adicional foi associada a uma média de 11% de redução adicional no risco de transmissão para o colega de cela. É importante considerar, no entanto, que o risco de miocardite e outros efeitos colaterais das vacinas são sensíveis ao sexo e à idade dos pacientes, sendo homens jovens (16-24 anos) o grupo com maior risco. Por isso, uma análise custo-benefício considerou antiético que universidades exijam dose de reforço dos estudantes.

A proteção contra transmissão é sensível ao tempo: para cada cinco semanas que se passaram desde a última dose da vacina, novas infecções tinham 6% maior chance de transmissão para o colega de cela, o que reflete o já conhecido decaimento da imunidade vacinal com o tempo. Já a imunidade natural, mais duradoura, não mostrou uma relação entre o tempo desde a última infecção e um aumento da infecciosidade. Importante lembrar que as infecções prévias que deram em imunidade natural foram com outras variantes do vírus SARS-CoV-2. A variante ômicron mostrou-se habilidosa em driblar todos os tipos de imunidade prévia por causa de mudanças em seu material genético.

Mais investigação da imunidade natural

Antes da proeminência conquistada na Copa do Mundo, o Catar estabeleceu-se durante a pandemia como um dos países com as melhores pesquisas sobre as diferentes proteções imunológicas contra a Covid-19. Laith J. Abu-Raddad, professor da Universidade Cornell em Doha, foi o líder de muitos desses estudos. Um dos últimos foi publicado na revista médica The Lancet em novembro passado. O estudo buscou comparar a imunidade natural com a imunidade vacinal da Pfizer (com a BioNTech) e da Moderna, as duas fabricantes de vacinas baseadas em mRNA (material genético do vírus instruindo o organismo humano a fabricar a proteína viral de espícula).

Como nos outros estudos de Abu-Raddad, toda a população do Catar foi considerada, com dados do Ministério de Saúde Pública do país. São informações completas desde fevereiro de 2020 até maio de 2022, com amostra total de 805 mil indivíduos. Importantemente, o país tem uma população jovem, com menos de 9% acima dos 50 anos, e diversa, com 89% sendo imigrantes de mais de 150 países.

A incidência de infecção para quem tinha imunidade natural foi de 9,7%, para quem só tinha a imunidade vacinal da Pfizer, foi 18,9% (quase o dobro) em um acompanhamento de 300 dias. Os cientistas observaram um rápido crescimento de infecções entre os naturalmente protegidos com o advento da variante ômicron no fim de 2021. Esse crescimento foi ainda maior em quem só dispunha da proteção vacinal.

Quanto ao risco de Covid-19 severa, crítica ou fatal, a imunidade natural também se mostrou melhor que a vacinal, mas o resultado tem mais incerteza por causa da raridade desses casos com a variante ômicron. Os resultados para a imunidade vacinal da Moderna foram similares, com risco de infecção próximo do dobro daquele para quem tinha imunidade natural. Isolando a população acima dos 50 anos, os resultados são praticamente os mesmos.

Especulando sobre a superioridade observada da imunidade natural, os autores pensam que pode ter a ver com o modo como os dois tipos de imunidade atuam sobre o revestimento das vias aéreas superiores. “A vacinação induz a imunidade sistêmica que pode não ser retida nos tratos respiratórios superiores, diferente da infecção natural, que induz imunidade na mucosa [o revestimento] de mais longo prazo e mais forte no local de entrada e replicação do vírus”, hipotetizam os cientistas.

“Embora a infecção natural tenha sido associada à proteção mais forte”, concluem, “a vacinação permanece a ferramenta mais segura contra a infecção e a hospitalização e morte por Covid-19”. Importantemente, o estudo não considerou as doses de reforço, que devem (como sugere o estudo das prisões) reduzir a diferença entre os dois tipos de proteção, e também não considerou a imunidade híbrida, que tem se mostrado superior às isoladas à vacina ou infecção prévia em diferentes estudos.

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