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Soldados israelenses na fronteira com a Faixa de Gaza, nesta quarta-feira: poupar os civis está no protocolo de Israel na área
Soldados israelenses na fronteira com a Faixa de Gaza, nesta quarta-feira: poupar os civis está no protocolo de Israel na área| Foto: EFE/ Atef Safadi

A tentativa de se colocar no lugar do outro com fins empáticos resulta num limite: podemos nos aproximar e sentir em nós o que a emoção do outro nos provoca, mas não podemos afirmar que sentimos exatamente o que e como o outro sente.

Quando se trata de dados históricos, a aproximação esbarra num limite ainda maior, pois aqui não estão em questão emoções, mas, sim, acontecimentos em contextos sócio-históricos específicos e nos quais os indivíduos ou grupos envolvidos atuam conforme seus posicionamentos, muitas vezes distantes ou antagônicos e sem a busca de aproximação empática.

Desde o dia 7/10, com o ataque terrorista do Hamas em território israelense, as narrativas sobre as aspirações de judeus/israelenses e árabes/palestinos ganharam as mídias e redes sociais, nem sempre com informações fiéis aos fatos históricos envolvendo os principais atores. Pior, muitas vezes há inversão, negação e falsas acusações numa manipulação dos fatos ocorridos. Senão, vejamos.

Os palestinos não chegaram a ter um país desde a resolução da ONU de 29/11/1947, quando não aceitaram a proposição de criação de dois Estados, o Estado de Israel e o Estado da Palestina na região na qual nunca antes havia sido instituído um país. Desde 1948, quando foi criado em conformidade com a resolução das Nações Unidas, Israel atravessou várias guerras e tentativas de acordo de paz – inclusive a Guerra da Independência, menos de 24 horas após a sua proclamação. Em nenhuma delas negou a existência do povo palestino – ao contrário, reconheceu a necessidade de, diplomática e pacificamente, negociar a questão de modo a garantir a segurança dos dois povos.

De outra parte, palestinos se sentiram ultrajados por, uma vez perdida a Guerra da Liberação – assim chamada pelos árabes a Guerra da Independência de Israel, iniciada pelo Egito, Jordânia, Líbano, Síria e Iraque - terem que se retirar dos territórios israelenses. Desde então, a insatisfação se instalou entre palestinos e países árabes. Em casos extremos, grupos terroristas, como o Hamas, chegam a objetivar eliminar por completo o Estado de Israel e, ampliando, todos os judeus.

As recentes ações do Hamas se enquadram como terroristas por terem sido perpetradas em ataque surpresa contra alvos civis – israelenses e turistas - entre os quais, os que não morreram no ato, sofreram torturas e mortes bárbaras, conforme registros dos próprios perpetradores. Em resposta, as reações de Israel vêm buscando poupar a vida de civis na área da faixa de Gaza cumprindo, inclusive, com o aviso prévio para sua retirada antes de uma contraofensiva. Isso é respeitar as vidas dos palestinos e das pessoas de diversas origens que lá se encontram.

Além dos ataques terroristas, Israel também sofre, ao longo da sua história, com difamações e alusões negativas repetidas inúmeras vezes. Entre essas difamações, conceitos referentes a violações em outros contextos – como genocídio, nazismo, apartheid - têm sido utilizados. Por serem palavras de força e com apelo imagético, conseguem sugestionar pessoas que desconhecem o seu sentido original. Genocídio é a ação intencional de destruir um grupo nacional, étnico, cultural ou religioso; nazismo é uma proposta político-partidária com ideologia racista e eugênica que promoveu o genocídio dos judeus e outros grupos considerados indesejáveis quando esteve no poder na Alemanha de 1933 a 1945; apartheid, ou identidade separada, refere-se à política racista instituída por uma minoria branca sobre maioria negra que vigorou na África do Sul de 1948 a 1994. Nenhuma dessas políticas foi perpetrada pelo Estado de Israel. Ademais, os árabes palestinos que vivem em Israel têm plena cidadania, inclusive com assento na Knesset, o Parlamento israelense.

Com esses esclarecimentos, buscamos contribuir para superar as guerras de narrativas com um verdadeiro exercício dialógico de se colocar no lugar do outro, sem a necessidade de inversões dialéticas que, num formalismo puro, chegam a alterar os dados da História.

Sofia Débora Levy é psicóloga clínica e escritora, membro do Conselho Acadêmico da StandWithUs Brasil.

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