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Onda de calor, França, Europa
Pessoas se abrigam do calor à sombra do Palácio Real de Paris em agosto de 2023.| Foto: EFE/ Edgar Sapiña Manchado

Agosto tem sido um mês quente aqui na Geórgia [estado americano] e em muitos outros estados. A onda de calor também está assando o sudeste da França, onde "alertas vermelhos" estão avisando as pessoas e seus animais para se abrigarem.

Essa notícia me fez lembrar de outro agosto escaldante na França há apenas 20 anos. Aquele, em 2003, teve um número de mortes assombroso que questionou o que pode acontecer quando as pessoas esperam que o governo cuide delas. Escrevi sobre isso na época, enquanto servia como presidente do Centro Mackinac de Políticas Públicas em Michigan, e — perdoem o trocadilho — as coisas esquentaram para mim também por isso. Mas acho que foi uma lição que merece outra visita uma geração depois. Então aqui estão minhas observações daquele agosto quente de 2003, intitulado "Fritados pelo Estado de Bem-Estar Social Francês":

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"Quase 15.000 Mortos na Onda de Calor", estampava uma manchete recente.

Deve ser algum canto distante do planeta que ninguém nunca ouviu falar, pouco conhecido e esquecido por Deus, pensei. Não, era a França.

Considere a enormidade do que aconteceu em agosto. Quando o sol saiu e as temperaturas subiram para algo abaixo do que El Paso [no Texas] suporta durante quatro meses a cada ano, impressionantes 14.802 pessoas, principalmente idosos, morreram na França. O equivalente proporcional nos Estados Unidos, onde cem mortes por calor provocariam um inquérito do Congresso, seria de 72.000. Isso é uma população do tamanho da cidade de Kalamazoo, Michigan.

Como é possível que uma onda de calor elimine quase 15.000 pessoas em uma nação moderna — uma que se orgulha de ter criado uma das "redes de segurança" de bem-estar social mais extensas do mundo? Talvez a rede de segurança seja na verdade um cobertor sufocante.

A França tem uma rede cara de benefícios financiados publicamente que começa a fluir do seio da babá nacional desde o nascimento. Quando uma mulher tem seu primeiro filho, ela recebe um cheque. Cada filho subsequente gera um aumento em sua mesada mensal, cortesia dos pagadores de impostos.

Quando a criança se aposenta seis décadas e uma infinidade de outras doações depois, ela recebe uma generosa pensão do Estado. A mensagem que cada cidadão francês recebe durante toda a vida é que o governo está lá para cuidar dele. E quanto à responsabilidade moral que cada um de nós tem de cuidar um do outro? Essa é a tarefa de algum departamento em algum lugar de Paris.

Então, quando milhares de idosos estavam torrando em agosto, seus amigos e parentes tiraram férias. Por que eles assumiriam uma responsabilidade que o Estado assumiu por eles? Além disso, depois que o governo francês extrai um dos maiores impostos per capita da Europa, os cidadãos não têm muito dinheiro sobrando para cuidar de seus idosos de qualquer maneira.

O economista Edward Hudgins argumenta que o Estado de bem-estar social francês "é baseado na premissa de que os adultos devem ser tratados como crianças que não conseguem manter empregos ou ganhar dinheiro suficiente para sustentar suas famílias, pagar por seus próprios cuidados de saúde ou economizar para a aposentadoria sem a ajuda do Estado. Pior ainda, o governo e a moralidade predominante da França ensinam que os indivíduos têm pouca responsabilidade moral de assumir o controle de suas próprias vidas... O Estado de bem-estar social que pretende amar a humanidade cria anões morais que se sentem absolvidos da responsabilidade de cuidar de seus entes queridos."

Os americanos também ergueram um Estado de bem-estar social, mas não tão "avançado" a ponto de nossa inclinação para o individualismo robusto, responsabilidade pessoal e famílias fortes ter desaparecido. Muitos europeus nos veem como insensíveis e desinteressados porque não esperamos que o Tio Sam nos mime do berço ao túmulo. Mas, por ainda cuidarmos em grande parte de nós mesmos e daqueles ao nosso redor, não morremos aos milhares quando a temperatura sobe.

Como a França pode reviver as atitudes e instituições que formam a base de uma sociedade civil forte — uma sociedade composta por crianças que com o tempo crescem para se tornar adultos independentes e dignos do próprio respeito?

Certamente, os franceses nunca poderão fazer isso abraçando cegamente programas governamentais que eliminam iniciativas privadas ou questionando os motivos daqueles que levantam questões legítimas sobre esses programas governamentais. Eles não podem restaurar a sociedade civil se não tiverem confiança em si mesmos e acreditarem que o governo tem o monopólio da compaixão. Eles nunca chegarão lá se taxarem as pessoas até o limite e depois, como crianças que nunca aprenderam aritmética, reclamarem que as pessoas não podem arcar com certas necessidades.

Os franceses só poderão avançar na sociedade civil quando levarem a sério a substituição de programas governamentais por iniciativas privadas, quando a discussão ultrapassar raciocínios tão infantis como "Se você quer cortar subsídios do governo, deve ser a favor de deixar os idosos passarem fome". Eles farão progresso quando a cura "o governo é a resposta" for reconhecida pelo que é — uma falsa caridade, uma evasiva e uma resposta simplista que não resolve bem o problema, mesmo que faça seus defensores se sentirem superiores com uma autossatisfação pretensiosa.

O que aconteceu na França na onda de calor do último verão deve ser atribuído pelo menos em parte ao Estado de bem-estar social francês e suas consequências sociais. Aqueles com uma lista interminável de coisas que querem que o governo faça por nós precisam pensar muito e seriamente sobre isso.

©2023 Foundation for Economic Education. Publicado com permissão. Original em inglês.

Conteúdo editado por:Eli Vieira
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