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A adolescência não é a época nem do bom gosto nem da sabedoria, e é por isso que alguns políticos querem reduzir a idade para que as pessoas possam votar.
A adolescência não é a época nem do bom gosto nem da sabedoria, e é por isso que alguns políticos querem reduzir a idade para que as pessoas possam votar.| Foto: Pixabay

A adolescência não é a época nem do bom gosto nem da sabedoria, e sem dúvida é por isso que alguns políticos querem reduzir ainda mais a idade para que as pessoas possam votar. Afinal, o que muitos políticos mais valorizam no eleitorado é sua credulidade.

Na França, uma menina de 16 anos conhecida apenas como Mila — embora se saiba, por causa de suas redes sociais, que ela é lésbica, reclama do país, tem um piercing no nariz e pinta os cabelos de vermelho — fez comentários vulgares sobre a religião como um todo e especificamente sobre o islamismo num vídeo.

Como era de se esperar, a crítica dela não era especialmente profunda do ponto de vista filosófico. “Odeio religião”, disse ela. “O Corão só tem ódio. O islã é uma porcaria (...). Sua religião é uma droga (...)”. É aquele tipo de conversa de adolescente ou de bar que antes estava restrita a um círculo. Hoje ela pode ser transmitida a milhões de pessoas numa questão de segundos.

Naturalmente, Mila rapidamente se percebeu no olho de um furacão. Ela recebeu centenas de mensagens ameaçadoras, incluindo ameaças de morte. Ela deixou de ir à escola por questões de segurança. Na verdade, ela fica escondida em casa, onde agora pretende continuar com seus estudos.

Uma autoridade do Conselho Francês da Fé Muçulmana, Abdallah Zekri, disse no rádio que se opõe às ameaças de morte – mas acrescentou que quem planta vento colhe tempestade. Em outras palavras, Mila está recebendo o que merece. Pior ainda, a ministra da Justiça, Nicole Belloubet, disse numa entrevista que “o insulto à religião é obviamente um ataque à liberdade de consciência”. Esse comentário, por sua vez, atraiu muitas críticas. As críticas de Mila talvez tenham sido rudes, mas não afetaram a liberdade de ninguém. Não existe direito a não se sentir ofendido. É difícil não acusar a ministra da Justiça de covardia.

Duas investigações policiais tiveram início, a primeira sobre Mila e a segunda sobre os que a ameaçaram. A primeira, que jamais deveria ter existido, foi rapidamente encerrada. Como disse a própria menina, os muçulmanos não compõem uma raça e ela não incitou ninguém ao ódio – exceto, talvez, contra ela mesma. Mila apenas expressou uma crença ou atitude. Quanto à segunda investigação, sobre aquelas que a ameaçaram de morte, tendo a apostar que não dará em nada.

Quando eu tinha a idade de Mila, eu era uma espécie de “ateu de vila”, mas jamais me ocorreu me expressar como ela fez. Ao contrário, eu tentaria refutar o argumento ontológico de qualquer um que o expressasse. Curiosamente, o aumento no escopo e duração da educação da população desde a minha juventude parece coincidir com o declínio na civilidade do discurso.

Theodore Dalrymple é editor colaborador do City Journal, ocupa a cadeira Dietrich Weismann no Instituto Manhattan e é autor de vários livros.

© 2020 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês
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