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Ministros de Lula frustram apoiadores e militantes que esperavam diversidade
| Foto: EFE/ Andre Borges

Se a expectativa dos movimentos de esquerda que apoiaram a eleição de Lula, em especial os mais identitários, era a construção de um ministério "inclusivo", com paridade entre homens e mulheres, maior presença de negros e outras minorias, os primeiros anúncios do presidente eleito frustraram quem nutria essa ideia.

Pouco antes do anúncio dos cinco primeiros nomes de seus ministros - homens, de meia idade, brancos (apenas Flávio Dino se autodeclara pardo junto ao Tribunal Superior Eleitoral) - Lula afirmou: "Vocês devem estar pensando: 'presidente Lula, não tem mulheres, não tem negros?'. Vai chegar uma hora que vocês vão ver mais mulheres aqui do que homens, vai chegar uma hora que vocês vão ver a participação de muitos companheiros afrodescendentes aqui”.

Durante a coletiva com a imprensa, ao ser questionado sobre a falta de diversidade, Lula apontou para o ex-governador do Maranhão e futuro ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), e disparou: "Não entendo você pensar que esse cara é branco. Se ele fosse perguntado pelo IBGE, no mínimo ele ia dizer que era pardo".

Na sequência, Lula garantiu que vai "tentar montar um governo que seja a cara da sociedade brasileira em sua total plenitude". "Quando você monta um governo, monta olhando o conjunto da sociedade brasileira (…) e vai escolher das pessoas que são aptas para determinadas funções. Esses companheiros que estão aqui são aptos, eu diria são pessoas da mais extraordinária qualificação e qualidade para exercer a função que lhes foi delegada. Vai ter outros ministérios e vocês vão ver que vamos colcoar muita gente para participar", disse.

Paridade como meta política

Durante um debate na Band, em agosto, Lula preferiu não se comprometer com a paridade numérica de gênero em seu ministério. “Você vai indicar quem tem capacidade para o cargo. Pode até ter maioria de mulheres, mas não se pode assumir o compromisso numericamente”, declarou.

Na época, a reação de aliadas foi um movimento tentando convencer o petista a preencher pelo menos 30% das vagas com mulheres. "Lula sempre teve uma política feminista no governo dele. Poderia ter afirmado um porcentual mínimo, não precisava ter ficado na defensiva. Tem que ter resposta concreta", disse a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ). Nesta sexta-feira, no entanto, Feghali se limitou a comemorar a escolha: "Parabéns aos novos ministros!"

Responsável pela elaboração do plano de governo de Lula, Aloizio Mercadante, ressaltou na ocasião a impossibilidade de fixar um porcentual de mulheres e minorias raciais nos ministérios. "A participação paritária de negros e mulheres é uma meta política do PT, mas é preciso saber quais vão ser as indicações dos outros partidos com os quais vamos compor o governo", justificou.

De acordo com a CNN, no início desta semana, aliados de Lula falavam em pelo menos um terço de mulheres na Esplanada dos Ministérios. Segundo esses interlocutores do presidente eleito, o assunto é uma preocupação da futura primeira-dama Rosângela Silva, a Janja, para quem uma maior equidade de gênero seria importante neste momento. Integrantes da transição, inclusive, estariam citando a fotografia do gabinete do primeiro-ministro canadense Justin Trudeau, com ênfase para diversidade de gênero e raça, como um referencial para o novo governo.

Reação de apoiadores

A reação à falta de "diversidade racial e de gênero", esperada por apoiadores e militantes, veio logo em seguida ao anúncio. “Errou o presidente Lula ao começar com cinco homens. Péssimo”, reclamou a jornalista Míriam Leitão. A ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva elogiou os escolhidos, mas cobrou diversidade. "Parte muito importante do time já foi revelada hoje pelo técnico Lula. Chegou a vez de serem escaladas as mulheres, juntamente com os pretos, os jovens e os indígenas de nossa esperançosa seleção", tuitou.

"Independente do acerto nos nomes anunciados (Dino e Haddad são excelentes nomes) e em que pese mais nomes virão, é um erro político e estratégico grave que Lula e Alckmin não anunciem ministras no primeiro anúncio. Política é feita de sinais e este é um mau sinal. Que melhore", opinou o advogado Thiago Amparo, colunista da Folha de S. Paulo.

Reação semelhante foi a da professora do departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP) Lorena Barberia. "5 ministros anunciados pelo presidente Lula e nenhuma mulher. #mulheres são mais de 50% da população e foram decisivas na vitória do governo", escreveu no Twitter. "Estou recebendo respostas que as mulheres precisam ter paciência, que precisamos entender que há outros ministérios. Minha resposta: Sei fazer contas, sou cientista política, e não ganhamos nada 'esperando'", completou.

Monica de Bolle, membro do Instituto Peterson de Economia Internacional, em Washington, concordou com a cientista política: "Exatamente. Sobretudo porque os anúncios foram de 5 Ministérios estratégicos, sempre reservados aos homens. Poderia Lula ter usado essa oportunidade, SIM, para mostrar a que veio em relação às mulheres", respondeu pela rede social.

A data do anúncio, pouco antes do jogo do Brasil contra a Croácia na Copa do Mundo, também foi motivo de piadas e questionamentos nas redes sociais. "Ainda bem que não é o Lula que escala a seleção brasileira!", reagiu o deputado Kim Kataguiri (União Brasil). "Brincadeiras à parte, a escolha desses ministros só confirma que teremos anos difíceis pela frente", comentou.

Conteúdo editado por:Bruna Komarchesqui
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