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Moraes posa para fotos e vira “Big Alex” em entrevista a biógrafo de Che Guevara

Alexandre de Moraes durante participação e, seminário sobre a regulamentação das redes sociais, em agosto de 2024: longa entrevista à New Yorker.
Alexandre de Moraes durante participação e, seminário sobre a regulamentação das redes sociais, em agosto de 2024: longa entrevista à New Yorker. (Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil)

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Um dos maiores desafios da carreira do escritor Jon Lee Anderson foi mergulhar a fundo na vida de uma figura inescrupulosa, vingativa e sedenta de poder: Che Guevara.  

Agora ele também escreveu um longo perfil de Alexandre Moraes para a New Yorker, talvez a revista mais lida pela elite cultural americana. 

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) abriu as portas do seu gabinete para Anderson e falou sobre Bolsonaro, Trump e o papel que vem exercendo no que acredita ser uma cruzada pela democracia. Moraes posou para o fotógrafo Fábio Setti, que recentemente clicou celebridades como Pedro Scooby, Isabelle Drummond e Dinho Ouro Preto. 

A reportagem da New Yorker, publicada nesta semana, sugere que Moraes busca melhorar sua imagem no exterior — sobretudo nos Estados Unidos, onde ele tem a atuação contestada por figuras importantes do Partido Republicano. 

O que disse Moraes 

Alexandre de Moraes concedeu duas entrevistas para Anderson, que é mais conhecido por ter escrito uma biografia de Ernesto Che Guevara. A primeira conversa com o escritor aconteceu em outubro; a segunda, em março.

Confortável com a atenção recebida, o ministro do STF distribuiu comentários sobre política nacional e internacional, com críticas ao que chamou de “extrema-direita” e elogios a si próprio. 

“A extrema-direita quer tomar o poder — não dizendo que é contra a democracia, porque isso não teria apoio popular, mas alegando que as instituições democráticas estão manipuladas”, disse Moraes. 

A vaidade do ministro transparece em muitos momentos da entrevista, como quando ele comenta o suposto plano de militares para assassiná-lo: “Eu brinco com minha equipe de segurança que eu não poderia morrer. O herói do filme tem que continuar”, afirmou Moraes, segundo a reportagem da New Yorker

O ministro do STF também disse que o 8 de janeiro foi uma ação coordenada para gerar um golpe de Estado. Na avaliação dele, a invasão aos prédios dos três poderes tinha um propósito claro: "O verdadeiro objetivo deles era invadir os prédios, se recusar a sair e criar uma crise tão grave que o Exército seria forçado a intervir. Uma vez que os militares chegassem, eles pediriam apoio para um golpe”, afirmou Moraes. 

Comentando sobre um caso que tramita na Suprema Corte, o ministro disse que não vê qualquer possibilidade de Bolsonaro disputar a eleição de 2026. “Ele tem duas condenações por inelegibilidade no Tribunal Superior Eleitoral. Então, não há possibilidade de ele retornar — porque ambos os casos já foram apelados e agora estão no Supremo Tribunal Federal. Somente o Supremo poderia reverter essas decisões, e eu não vejo a menor possibilidade de isso acontecer”, disse Moraes. 

Além de analisar a situação do ex-presidente brasileiro, o ministro do STF criticou Donald Trump: “Acredito que as ações recentes do presidente Trump vão levar os governos a perceber que, se não agirem agora para controlar as redes sociais, será tarde demais”. 

O ministro do STF tentou passar a imagem de que não se preocupa com possíveis ações do governo americano. “Se eles enviarem um porta-aviões, então veremos. Se o porta-aviões não chegar ao Lago Paranoá, não vai influenciar a decisão aqui no Brasil.” 

“Big Alex” 

O texto de Anderson descreve como Alexandre de Moraes, ou "Big Alex", que é como o jornalista traduziu "Xandão", está “visivelmente em boa forma física”, e acrescenta que o ministro corre, faz musculação e pratica muay thai. 

A reportagem reproduziu acriticamente algumas teses de Moraes, como a afirmação de que a lei brasileira proíbe "espalhar falsos rumores sobre o sistema eleitoral". Na verdade, o tema não é mencionado na legislação atual. 

 A reportagem diz ainda que Moraes recebeu "poderes especiais" do Judiciário, sem explicar quais são esses poderes ou em qual artigo da Constituição eles se baseiam. 

Mas, apesar do tom levemente simpático ao ministro, a reportagem também faz críticas — como quando afirma que a Suprema Corte, ao agir investigar ataques virtuais contra a corte, age como “vítima, acusador e juiz”. 

No texto, Anderson afirma que Michel Temer indicou Moraes para o STF por gratidão depois que o ministro (então ministro da Justiça) prendeu os responsáveis por hackear o telefone de Marcela Temer e de chantagear o então presidente para não divulgar fotos comprometedoras da então primeira-dama. 

Piada com fotógrafo 

A reportagem da New Yorker é acompanhada por uma foto em que Moraes, de pé no meio do seu gabinete, olha para a câmera com a expressão fechada. 

O fotógrafo Fábio Setti publicou fotos extras do ministro sua página no Instagram.  

Moraes sentado na sua poltrona, com a biblioteca ao fundo e imagens religiosas sobre uma pequena mesa — uma de São Francisco e outras duas, que a reportagem identifica como sendo das entidades africanas Exu e Xangô. Moraes com os olhos fechados, uma cortina vermelha ao fundo. Moraes, agora em preto e branco, olhando para o horizonte. Sempre com a expressão compenetrada, sempre com a toga de juiz sobre os ombros. 

As imagens foram feitas em 14 de março, no segundo dia do julgamento da denúncia contra Jair Bolsonaro e outros sete acusados por arquitetarem um golpe de Estado.

Setti parece ter ficado emocionado com a oportunidade de fotografar o ministro. No texto que acompanhou as fotos no Instagram, ele definiu Moraes como “uma figura de tamanho imensurável na política brasileira, de importância ímpar na luta contra as crescentes injustiças em território brasileiro". 

O fotógrafo também contou que, quando abriu a porta, Moraes fez uma piada sobre suas preferências fotográficas: "Só não faço foto cruzando os bracinhos e olhando pra janela", disse o ministro. 

Alguém não deve ter gostado da publicação: horas depois, as fotos de Alexandre de Moraes sumiram do perfil de Fábio Setti no Instagram. 

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