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John Locke: uma ameaça aos tiranos e um libertador de gerações
John Locke: uma ameaça aos tiranos e um libertador de gerações| Foto: Bigstock

Em 1683, o homem mais perigoso do mundo fugiu da Inglaterra para a Holanda.

Ele não parecia grande coisa. Tinha 51 anos, era magro e asmático, e seu rosto, de acordo com uma descrição, era “comprido, com um nariz grande, lábios carnudos e olhos suaves e melancólicos”.

No entanto, o rei da Inglaterra o considerava um de seus inimigos mais mortais. Como braço direito do principal oponente político de Charles II no país, ele era suspeito de conspirar para assassinar o rei.

Mas o que realmente o tornou uma ameaça ao trono não foi sua habilidade nas artes letais, mas seu gênio nas artes literárias.

Na mão de John Locke, a caneta era realmente mais poderosa que a espada.

Locke partiu da Inglaterra com uma arma poderosa: uma que acabaria por derrubar não apenas um monarca, mas todos eles. Essa arma era um livro, naquele momento um rascunho inédito: "Dois Tratados sobre o governo".

Esse livro fez uma defesa filosófica da liberdade. Locke sabia que seu livro antiabsolutista poderia fazê-lo ser morto pelo monarca absoluto da Inglaterra. De fato, mais tarde naquele ano, o aliado de Locke, Algernon Sidney, foi executado por traição, e o livro "Discourses Concerning Government" [Discursos sobre o Governo] de Sidney foram citados como prova em seu julgamento.

Assim, Locke não publicou seus 'Tratados' até 1689, um ano depois que o sucessor de Charles II, James II, foi deposto na “Revolução Gloriosa” — e mesmo assim, apenas anonimamente. Locke negou publicamente a autoria pelo resto de sua vida, apenas admitindo-a em seu testamento. Locke morreu em 1704.

Mais tarde naquele século, as ideias de "Dois Tratados sobre o Governo" tornaram-se os elementos da filosofia fundadora da América:

  • Igualdade, no sentido original, não de iguais habilidades ou igual riqueza, mas de não sujeição;
  • Direitos inalienáveis, não aos direitos do governo, mas à vida, liberdade e propriedade;
  • Democracia, no sentido original, não de mero voto majoritário, mas de soberania popular: a ideia de que os governos não devem ser senhores, mas servidores do povo;
  • Consentimento dos Governados: a ideia de que os governos só podem governar legitimamente pelo consentimento dos governados, ou seja, do povo soberano;
  • Governo limitado: a ideia de que o único propósito e o escopo apropriado do governo legítimo é apenas assegurar os direitos do povo;
  • Direito de Revolução: a ideia de que qualquer governo que ultrapasse seus limites e atropele os próprios direitos que foi encarregado de garantir é uma tirania, e que o povo tem o direito de resistir, alterar e até abolir governos tirânicos.

Essas ideias animaram a Revolução Americana e permearam a Declaração de Independência, a Constituição e a Declaração de Direitos. A experiência americana de enorme sucesso fez disparar o prestígio global da filosofia política lockeana. À medida que os princípios políticos de Locke foram adotados em todo o mundo, a liberdade se espalhou e o absolutismo retrocedeu.

As ideias contidas nos papéis que John Locke contrabandeou da Inglaterra em 1683 viraram o mundo de cabeça para baixo: ou melhor, de cabeça para cima.

Essa conquista maravilhosa para a humanidade foi parcialmente revertida de muitas maneiras. Os inimigos da liberdade distorceram os termos de Locke para perverter seu significado e servir às variantes modernas do absolutismo.

Mas a história mundial tomou um curso muito mais livre porque Locke viveu, pensou, escreveu e publicou.

Quer ele soubesse ou não na época, John Locke era o homem mais perigoso do mundo, bem como o mais heroico: uma ameaça aos tiranos e um libertador de gerações.

Dan Sanchez é diretor de conteúdo da Foundation for Economic Education (FEE) e editor-chefe da FEE.org.

©2022 Foundation for Economic Education. Publicado com permissão. Original em inglês.
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