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Instituto Karolinska: referência em estudos da transexualidade
Instituto Karolinska: referência em estudos da transexualidade| Foto: Reprodução

Fundado pelo rei Carlos XIII em 1810 como um centro de treinamento para cirurgiões do exército, o Instituto Karolinska, na Suécia, é um dos hospitais mais importantes do mundo. Há 120 anos, é de lá que sai o resultado do Prêmio Nobel de Medicina, escolhido por um seletíssimo comitê de cientistas.

Segundo a Times Higher Education, a principal revista de educação do mundo, o Karolinska está entre as 40 melhores universidades do planeta; e ocupa o 11º lugar no ranking de pesquisa médica. E esta renomada instituição que, além de tudo, é referência em estudos de sexualidade, acaba de anunciar que não vai mais prescrever bloqueadores hormonais para menores de 16 anos diagnosticados com disforia de gênero - a condição originária da transexualidade.

“Esses tratamentos podem apresentar efeitos colaterais graves e irreversíveis, como doenças cardiovasculares, osteoporose, infertilidade, aumento do risco de câncer e trombose (...); e recentemente se tornaram sujeitos a maior atenção e escrutínio nacional e internacionalmente”, diz o comunicado oficial do instituto, publicado no último mês.

A decisão é parte de um contexto importante, explicitado no documento. “Em dezembro de 2019, a SBU (Agência Sueca para Avaliação de Tecnologia em Saúde e Avaliação de Serviços Sociais) publicou uma revisão de dados que apontou para a falta de evidências acerca das consequências [positivas] a longo prazo dos tratamentos [hormonais] e das razões para o grande fluxo de pacientes nos últimos anos”, diz o documento oficial do instituto, publicado no último mês.

Ocorre que, ao longo de dez anos, a Suécia viu aumentar em nada menos do que 1.500% o número de casos de disforia de gênero, percentual que acendeu o alerta vermelho das autoridades médicas para a validade dos métodos utilizados para o diagnóstico e para a alta correlação entre este público (em sua maioria feminino) e a incidência de transtornos psiquiátricos, como depressão e ansiedade.

Além disso, o comunicado menciona o caso Bell versus Tavistock, um julgamento recente ocorrido na Inglaterra movido pela mãe de uma adolescente submetida a tratamentos hormonais que acabou se arrependendo. O caso levou o NHS, o sistema de saúde britânico, a concluir que adolescentes dessa idade não têm condições para dar o consentimento sobre uma decisão potencialmente irreversível e, por isso, parar com tratamentos hormonais para menores de 16 anos, decisão que se encontra em fase de recurso.

O Instituto Karolinska afirma ainda que a decisão tem base no “princípio da precaução, que sempre deveria ser aplicado”. Para pacientes com idades entre 16 e 18 anos, ficou estabelecido que o tratamento só pode ocorrer dentro dos ambientes de ensaios clínicos aprovados pela Agência de Revisão Ética; que devem fornecer informações abrangentes sobre “os riscos potenciais do tratamento e uma avaliação cuidadosa do nível de maturidade do paciente”.

A importância da decisão

Embora diversos países estejam revendo sua literatura científica acerca do tratamento conferido a pessoas com disforia de gênero, a Suécia é o primeiro país a ter um hospital renomado abandonando explicitamente o protocolo holandês, que permite que crianças de 12 anos (às vezes, de 8 ou 9) recebam o tratamento hormonal para bloqueio da puberdade.

“O Hospital Karolinska é uma das clínicas mais respeitadas para os cuidados de saúde para transexuais e produziu uma série de publicações influentes nesta área. Entendo que o departamento de saúde sueco vai lançar novas diretrizes para o tratamento de disforia de gênero em crianças e adolescentes ainda este ano. Certamente, as clínicas em todo o mundo precisarão considerar seus próprios protocolos de tratamento, agora que a Suécia, a Finlândia e o Reino Unido mudaram suas políticas em relação ao uso de tratamento médico para disforia de gênero em adolescentes”, avalia o psiquiatra Roberto D’Angelo, da Universidade de Sidney e membro da Society for Evidence-Based Gender Medicine (Sociedade da Medicina de Gênero Baseada em Evidências, em tradução livre).

“O Karolinska está fazendo o que qualquer hospital ético deve fazer: revisar continuamente as evidências dos tratamentos que estão administrando para garantir que sejam baseados em evidências”, avalia o médico, para quem as evidências de que os tratamentos de transição de gênero estão ajudando os jovens, e não lhes prejudicando, são “incertas e fracas”.

O documento do Instituto Karolinska também aborda a importância dos tratamentos psicológicos para crianças e adolescentes que apresentem sintomas de disforia. “As terapias psicológicas são a alternativa óbvia aos tratamentos médicos e há vários relatos de casos publicados recentemente que descrevem a melhora bem-sucedida da disforia de gênero com terapias psicológicas. É claro que isto não é suficiente, mas testes bem construídos são necessários para determinar se os resultados dos tratamentos psicológicos são de fato positivos e se os tratamentos psicológicos são mais ou menos eficazes do que o tratamento médico”, defende D’Angelo.

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