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Erisictão vende a filha em troca de comida.
Erisictão vende a filha em troca de comida.| Foto: Bigstock

Na mitologia grega, Erisictão era o poderoso rei da Tessália. Reza a lenda que Erisictão, em sua busca por madeira, ordenou que as árvores de um bosque sagrado fossem cortadas. Como os lenhadores se recusaram a cortar as árvores, por temor de uma vingança divina, ele próprio foi lá e as cortou. Por causa disso, o rei foi amaldiçoado. A maldição que se abateu sobre Erisictão era simples — a fome eterna. Por fim, Erisictão acabou vendendo a própria filha em troca de comida e depois, sem dinheiro, acabou consumindo o próprio corpo.

Uma nação que entende a si mesma — e entende seu propósito no mundo — prospera. Tais nações, historicamente, não se abstiveram de cumprir seu papel. Elas entenderam uma verdade bem simples: no jogo do poder, os vácuos são geralmente preenchidos pelos mais agressivos. Assim, a rendição dos bons significa a vitória dos maus.

Os Estados Unidos sempre entenderam isso. O país nunca se sentiu à vontade com a realidade da política externa, mas tampouco se absteve de seu papel como ator no teatro mundial. Sim, geograficamente os Estados Unidos estão distantes da Europa, mas isso não impediu o país de concorrer com os impérios francês, britânico e espanhol.

Foi Thomas Jefferson, escrevendo ao seu sucessor, James Madison, quem em 1809 disse: “Deveríamos criar um império da liberdade (...) e estou convencido de que nenhuma Constituição jamais foi tão bem calculada como a nossa para a criação de um império e do autogoverno”.

Em 1823, James Monroe declarou que “o continente americano, pela condição livre e independente que assumiu e manteve, jamais se deixará conquistar por colonizadores europeus”.

Uma América poderosa era boa e necessária. Quando as nações se perdem — quando elas destroem seus bosques sagrados — elas abrem um buraco em si mesmas. Esse buraco só cresce. E não pode ser preenchido.

E fica assim: a fome é, em si, a satisfação. Nossa fome determina nossa missão. Temos de resolver todas as desigualdades, até mesmo aquela causada pelas diferenças de comportamento — a inequívoca condição humana — gastando trilhões de dólares a serem emitidos. Temos de corrigir os desequilíbrios históricos — outra condição inequívoca da humanidade — direcionando todas as instituições rumo à “igualdade”.

Temos de abandonar nossos compromissos anteriores — e nossos interesses reais na política externa — em nome de tentativas quixotescas de “construir um passado melhor” internamente. Temos de reescrever o contrato social básico a fim de diminuirmos as diferenças naturais entre os seres humanos.

Devemos sacrificar nossos filhos e filhas para saciarmos nossa fome. Temos de ensinar doutrinas idiotas sobre a maleabilidade total do ser humano e instruí-los para viverem na confusão e no caos. Temos de ensinar a eles os males da nossa própria filosofia ao mesmo tempo em que ensinamos que a diversidade cultural exige que demos as costas para os males maiores de outras culturas.

Temos de exigir que nossos filhos nos protejam em vez de protegermos nossos filhos. E, claro, temos de envolvê-los numa trama deficitária da qual eles não têm culpa, condenando-os a pagar futuramente nossa conta.

Assim, no fim consumimos a nós mesmos. Reconhecemos que nossa missão se perdeu que nossa fome não é capaz de nos satisfazer. Nós nos tratamos como inimigos e menosprezamos a presença dos inimigos de verdade. E depois desaparecemos. Ou, por outra, não desaparecemos.

Percebemos que, por maiores que sejam nossas falhas e fracassos, temos um papel no mundo; que, por maiores que sejam nossas falhas e fracassos, ainda somos herdeiros da melhor filosofia da história; que, por maiores que sejam nossas falhas e fracassos, ainda somos cidadãos do mesmo corpo político.

A escolha ainda está em nossas mãos. Mas, se o Afeganistão é indício de algo, as opções estão acabando.

Ben Shapiro é apresentador do “Ben Shapiro Show" e editor emérito do Daily Wire.

©2021 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês
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