• Carregando...
Cena do documentário "Conversando com um serial killer: Ted Bundy", da Netflix
Cena do documentário “Conversando com um serial killer: Ted Bundy”, da Netflix| Foto: Divulgação

Prisão perpétua e, em 24 de 50 estados, pena de morte. Essas são duas diferenças expressivas entre os sistemas penais dos Estados Unidos e do Brasil. Mas não são as únicas. Os americanos concedem maior liberdade para os estados definirem suas penas, por exemplo, a não ser para os crimes federais – que incluem evasão fiscal, posse de armas, sequestro de pessoas ou veículos, linchamento, assalto a banco, pornografia infantil, roubo de identidade e fraude com cartão de crédito.

“O sistema norte-americano é extremamente diferente do sistema brasileiro”, explica Thiago Sorrentino, mestre e doutorando em Direito, professor do IBMEC/DF. Ele faz a ressalva: “Na verdade, não existe um único sistema penal norte-americano, pois cada estado tem competência para definir suas próprias regras penais, além da própria União”.

No caso do homicídio, diz ele, em regra cabe aos estados punir e processar os criminosos. “Há somente sete hipóteses em que um homicídio seria considerado um crime federal, como, por exemplo, homicídio de um funcionário público federal, homicídio durante um roubo a banco e homicídio destinado a influenciar num julgamento”.

Normalmente, a pena de morte está reservada para o chamado “homicídio em primeiro grau”, semelhante ao “homicídio doloso”. E muitos estados seguem a regra “three strike laws”, que pune com rigor muito maior o terceiro crime cometido por uma pessoa. “Mesmo se o terceiro crime não for grave, a ofensa poderia ser apenada como se fosse um crime tão grave quanto o homicídio”, informa o jurista.

Sobre a prisão perpétua, nos Estados Unidos as regras também variam. “Seis estados permitem a prisão perpétua real, isto é, sem qualquer possibilidade de liberdade, a chamada ‘condicional’, diz Sorrentino. “Os demais preveem a possibilidade de liberdade após o cumprimento de parte da pena, de sete a dez anos, mais ou menos”. Mas é possível, informa, que o estado exija o cumprimento de penas de até cinquenta anos para considerar a possibilidade de soltura.

Em tese, resume o professor, nos Estados Unidos “os homicidas tendem a ficar muitíssimo mais tempo presos do que no Brasil”. Até porque, completa, “lá não há a limitação de encarceramento por trinta anos, como há aqui”.

Para entender melhor as especificidades dos dois sistemas penais, saiba o que possivelmente aconteceria, no Brasil, com seis criminosos condenados em território americano – a maioria por homicídio.

Al Capone (1899-1947)

Crimes: Conhecido pela alcunha Scarface, o gangster liderou um grupo que realizava diferentes atividades criminosas, de apostas e agiotagem a prostituição e contratando de bebidas.
Condenado por: Sonegação de impostos.
Tempo de pena nos EUA: Onze anos, sem possibilidade de condicional.
Quanto tempo pegaria no Brasil: “No Brasil, dependeria da interpretação do tribunal”, diz Thiago Sorrentino. “Ele poderia pegar entre 4,8 e 37,5 anos, lembrando do limite de 30 anos de cumprimento de pena”.

John Dillinger (1903-1934)

Crimes: Acusado de assaltar 24 bancos e quatro delegacias, além de assassinar um guarda de Indiana chamado William O'Malley.
Condenado por: Nenhum julgamento foi concluído.
Tempo de pena nos EUA: Foi julgado pelos assaltos e pelo homicídio, mas escapou da cadeia em ocasiões diferentes. Começou a ser perseguido pelo FBI depois que atravessou a fronteira entre Indiana e Illinois com um carro roubado – e cometeu, portanto, um crime federal. Morreu durante um tiroteio com a polícia.
Quanto tempo pegaria no Brasil: 13,5 anos pelo homicídio.

Charles Manson (1934-2017)

Crimes: Fundou uma seita cujos seguidores cometeram nove assassinatos, em quatro locais diferentes, em julho e em agosto de 1969.
Condenado por: Assassinato em primeiro grau por duas mortes e conspiração para cometer assassinato de sete pessoas.
Pena nos EUA: Foi condenado à morte em 1971. No entanto, depois que a Califórnia abandonou a prática, no ano seguinte, a pena foi revertida para prisão perpétua com a possibilidade de condicional. Mas Manson nunca recebeu a condicional e permaneceu detido desde 1971 até a morte, em 2017.
Quanto tempo pegaria no Brasil: Entre 61,5 e 154,5 anos, com limite de 30 anos em cela.

Ted Bundy (1946-1989)

Crimes: O serial killer assassinou possivelmente mais de 50 pessoas, em diferentes estados. Foi condenado mesmo negando ter cometido os crimes até poucos meses antes da morte, quando confessou.
Condenado por: 36 homicídios de mulheres.
Tempo de pena nos EUA: Condenado à pena de morte, foi colocado na cadeira elétrica aos 42 anos de idade.
Quanto tempo pegaria no Brasil: De 144 a 360 anos de prisão, com limite de permanência de 30 anos.

Jeffrey Dahmer (1960-1994)

Crimes: Matou homens de diferentes idades, incluindo garotos, em ações que envolviam canibalismo e necrofilia.
Condenado por: 16 assassinatos.
Tempo de pena nos EUA: 16 prisões perpétuas. Detido em 1991, morreu espancado por um colega de cela três anos depois.
Quanto tempo pegaria no Brasil: De 64 a 160 anos de prisão, com limite de permanência de 30 anos.

Joaquin “El Chapo” Guzman (1957-)

Crimes: Foi um dos mais poderosos traficantes do planeta enquanto chefiou o cartel de Sinaloa, no México.
Condenado por: No México, pegou 20 anos de pena por tráfico de drogas e homicídio. Ficou detido por oito anos até escapar. Foi preso novamente em 2014, escapou em 2015, acabou recapturado em 2016 e extraditado aos Estados Unidos.
Tempo de pena nos EUA: Em solo americano, foi condenado à prisão perpétua.
Quanto tempo pegaria no Brasil: 5 a 15 anos de reclusão para tráfico internacional e 12 a 20 anos para homicídio, totalizando 17 a 35 anos, com limite de permanência de 30 anos.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]