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Ben Shapiro: nos viciamos tanto em eliminar os riscos que estamos dispostos a acreditar em qualquer político que diga saber como fazer isso.| Foto: Pixabay

Os seres humanos não são muito bons em avaliar riscos. Em 1979, os psicólogos Daniel Kahneman e Amos Tversky criaram um novo ramo da economia comportamental que chamaram de “teoria da perspectiva”. Entre outras coisas, eles descobriram que os seres humanos eram naturalmente avessos a perdas. Estamos mais dispostos a ignorar possibilidades de ganhos a fim de diminuirmos nossa chance de termos perdas.

Por causa dessa aversão à perda, os seres humanos também estão sujeitos ao que Kahneman e Tversky chamam de “falácia do planejamento”. Isto é, nossa tendência a acreditarmos que somos capazes de antever problemas para além da nossa capacidade real. “O otimismo exagerado protege indivíduos e organizações do efeito paralisador da aversão à perda. A aversão à perda os protege da tolice do otimismo superestimado”, escreve Kahneman.

Quando sentimos que somos capazes de resolver problemas, temos uma probabilidade maior de enfrentar riscos. E, quando sentimentos que o risco é um problema, nos tornamos mais cautelosos em relação a nossos planos.

Mas e se o problema que se busca resolver for o risco em si? E se nossos legisladores não estiverem preocupados em contrabalancear a aversão à perda em nome de uma postura mais arriscada e produtiva? E se, em vez disso, os políticos estiverem mentindo para nós, nos dizendo que o risco não é mais necessário?

Essa é a situação em que atualmente nos encontramos. Como sociedade, nós nos viciamos tanto em eliminar os riscos que estamos dispostos a acreditar em qualquer político que diga saber como fazer isso.

Boa parte do país acredita religiosamente que todos os riscos podem ser mitigados, desde que demos às autoridades e especialistas o poder absoluto. Eles nos disseram que não precisamos mais temer o risco de contrair uma doença, desde que demos ao governo o poder de tornar a vacinação obrigatória, de impor o uso de máscaras às crianças, de fechar nossas empresas – mesmo sem provas claras de que tais medidas sejam eficientes.

Eles nos disseram que temos de delegar toda a nossa economia para burocracias centralizadas e não-eleitas que controlam nossas políticas fiscal e monetária e que isso nos protegerá de dificuldades financeiras. Eles nos disseram que o planejamento individual, que prevê riscos (afinal, postergar a gratificação é sempre um risco), deve ser substituído pela rede de segurança estatal do berço ao túmulo.

Para mitigar meus riscos, a maneira mais fácil é criar uma autoridade que controle a todos. O risco em si é o inimigo: outra pessoa deve assumir os riscos e esses riscos devem ter apenas consequências indiretas sobre mim. Melhor viver controlado por especialistas do que no mundo caótico das decisões individuais.

Esse é o caminho para o autoritarismo. Uma civilização saudável exige que se corra riscos. Inovadores correm riscos. Desincentivar esse risco é algo que destrói a inovação. Trabalhar é arriscado. Desincentivar esse risco é algo que destrói o trabalho. Criar um futuro é arriscado. Desincentivar esse risco é algo que destrói a responsabilidade. O bem fundamental da liberdade está em incentivar riscos.

“Se fôssemos oniscientes, se pudéssemos antever todas as consequências da realização de nossos desejos atuais e futuros, não haveria motivo para pedirmos liberdade”, escreve F. A. Hayek. Mas Hayek deixa claro que não somos oniscientes e não sabemos como nem por meio de quem se dará o progresso. O progresso exige riscos e a liberdade garante a capacidade de se assumir riscos.

Assim, temos de escolher entre a promessa falsa do enfraquecimento individual e do cuidado paternalista infinito da autoridade central e o mundo real e caótico da liberdade e do risco. Da nossa escolha depende a sobrevivência da nossa civilização.

Ben Shapiro é apresentador do “Ben Shapiro Show" e editor emérito do Daily Wire.

©2021 Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês
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