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Xi Jinping, secretário-geral do Partido Comunista Chinês, em foto de 14/11/2019, em Brasília, durante encontra dos BRICS
Xi Jinping, secretário-geral do Partido Comunista Chinês, em foto de 14/11/2019, em Brasília, durante encontra dos BRICS| Foto: EFE/JOÉDSON ALVES

Os manifestantes anti-“covid zero” na China podem ter esquecido do PCCh (Partido Comunista Chinês), mas o PCCh não esqueceu deles. Depois de fazer uma demonstração pública de flexibilização de algumas restrições da Covid, Xi Jinping e seu exército de bandidos parecidos com a Stasi começaram a se vingar dos envolvidos no nesse episódio vergonhoso do regime, que se arrastou por meses. A demonstração de força contra o movimento de protesto foi típica de ditaduras que se valem, ao menos em parte, do medo como mecanismo de manutenção do poder. Mas os esforços para deslegitimar as manifestações antirregime também tiveram um componente ideológico. Um artigo do New York Times sobre a repressão relatou nesta quinta-feira (26):

O partido também está trabalhando para desacreditar os manifestantes, classificando-os como ferramentas de potências estrangeiras malévolas. Pequim há muito tempo invalida dissidências em casa – de apelos pelos direitos das mulheres a ativismo pró-democracia e agitação étnica – como resultado da subversão apoiada pelo Ocidente. Os protestos contra o “zero Covid” não foram exceção: um diplomata chinês sugeriu que alguns dos manifestantes haviam sido “comprados por forças externas”.

Descrevendo a detenção de quatro mulheres chinesas supostamente envolvidas em atividades antirregime, o Times relatou: “A polícia perguntou às mulheres sobre o uso de plataformas de mensagens no exterior ou envolvimento em atividades feministas, como grupos de leitura(...) A propaganda chinesa condenou o feminismo como outra ferramenta de influência estrangeira”. Como uma questão descritiva, os movimentos feministas na China provavelmente se inspiram na ideologia ocidental. No entanto, a ironia na narrativa de Pequim é que o presidente Xi ainda tem muitos facilitadores no Ocidente — particularmente entre os movimentos culturais de esquerda ligados ao tipo de ativismo que seu regime condena.

Isso não quer dizer que as forças progressistas que emergiram da academia nos últimos anos — quarta onda do feminismo, teoria crítica da raça, ideologia de gênero, e assim por diante — são pró-PCCh. Quando pressionados, a maioria de seus defensores provavelmente falaria platitudes sobre as violações dos direitos humanos do regime chinês e sua opressão às mulheres. A esquerda, em sua maioria, não é motivada por uma admiração pela China, como alguns segmentos dela o eram pela União Soviética. O que motiva os progressistas de hoje é a aversão à ideia de a América ter um conjunto de “interesses nacionais”, muito menos quaisquer esforços sérios para defendê-los.

Essa aversão é ainda mais forte quando esses interesses nacionais são antagônicos em relação a uma região habitada por povos não ocidentais que já foram objetos do colonialismo e da conquista europeus. Não importa o quão impressionante seja o poder da China, a nação chinesa sempre será vítima da agressão ocidental injustificada dentro de uma estrutura ideológica que vê o racismo ocidental como a força motriz da história mundial. Ayanna Pressley (Democrata, Massachusetts), uma das 65 democratas a votar contra o recém-formado Comitê Seleto da Câmara sobre a Competição Estratégica entre os Estados Unidos e o Partido Comunista Chinês (PCCh) — “uma câmara de compensação para uma ação concertada do Congresso sobre a China , abrangendo comércio, espionagem, defesa, infiltração estrangeira e muito mais”, como disseram os editores do NR — explicou sua oposição ao comitê em termos francos: “É realmente claro que este é apenas um comitê que encorajaria ainda mais a retórica antiasiática, ódio, e colocar vidas em risco”. Uma declaração divulgada por Pressley e 22 outros progressistas da Câmara adotou um tom semelhante:

Estamos preocupados com a direção deste comitê, dadas as declarações e ações anteriores dos republicanos. Nas mãos do presidente Trump e dos republicanos do Congresso, a retórica e a política imprudentes e preconceituosas contribuíram para um aumento do sentimento antiasiático em todo o país e um aumento de 339% nos crimes de ódio antiaasiáticos em 2021(...) Isso também não deve ser um comitê sobre vencer uma “nova Guerra Fria”, como o presidente designado do comitê afirmou anteriormente. Os Estados Unidos podem e devem trabalhar em prol de nossas metas de competitividade econômica e estratégica sem 'uma nova Guerra Fria' e sem repressão, discriminação, ódio, medo, degeneração de nossas instituições políticas e violações dos direitos civis que tal 'Guerra Fria' pode acarretar.

Se a formação de um comitê do Congresso para promover os objetivos de competitividade estratégica é inaceitável com base no fato de que pode “encorajar a retórica e o ódio anti-asiáticos”, é de se perguntar como, precisamente, os progressistas acreditam que podemos promover esses objetivos. A falta de propostas alternativas diz muito sobre as prioridades de Pressley e seu alegre bando de antissinófobos. O fato é que esta é uma luta geopolítica séria entre dois estados-civilização; para que nossa civilização triunfe sobre a alternativa chinesa são necessários esforços sérios para minar, combater e expor o regime chinês. Mas pensar que erradicar o sentimento antiasiático – ou, mais precisamente, qualquer coisa que possa teoricamente levar ao sentimento antiasiático – é mais importante do que evitar uma ordem global na qual Xi Jinping dá as cartas é uma proposta insustentável.

Nossos inimigos estão bem cientes dessa fraqueza inerente à cultura ocidental contemporânea. O regime chinês fez uma pausa no desaparecimento de seus próprios cidadãos para incitar alegremente os protestos do Black Lives Matter. (Assim como o ISIS e a Al-Qaeda.) Pequim promove regularmente a alegação de “racismo sistêmico” contra os EUA e desvia as críticas de como lidou com a pandemia, considerando-a um exemplo de preconceito antiaasiático ocidental e usando a linguagem e a terminologia acadêmica antirracismo. Os progressistas ocidentais ficaram muito felizes em jogar junto: “Quando a América faz de outro país seu inimigo, ela geralmente faz inimigos de algum grupo de americanos também”, declarou Peter Beinart. “Não é por acaso que a violência [antiaasiática] está aumentando ao mesmo tempo que, segundo o Gallup, a porcentagem de americanos que consideram a China nosso ‘maior inimigo’ dobrou no ano passado.” A premissa de que os Estados Unidos fizeram da China sua inimiga, e não o contrário, é um artigo de fé para Beinart. Não está claro se ele considerou a possibilidade de que a alternativa pudesse ser verdadeira.

Uma nação obcecada em pedir desculpas a si mesma está mal preparada para enfrentar ameaças externas. Na medida em que o progressismo universitário está apaixonado por esse espírito de autoflagelação, Xi Jinping não precisa considerá-lo uma ferramenta de perigosa subversão estrangeira. No mínimo, ele deveria estar dando a seus leais defensores a Medalha da República.

©2023 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.
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