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Para o cartunista Carlos Latuff, o extremismo é alimentado pela islamofobia do Charlie Hebdo
Para o cartunista Carlos Latuff, o extremismo é alimentado pela islamofobia do Charlie Hebdo| Foto: Reprodução/Carlos Latuff

O ataque a facadas que resultou na morte de três pessoas na Basílica Notre-Dame de Nice, na França, no último dia 29 de outubro é, pelo menos em parte, culpa do jornal satírico francês Charlie Hebdo. Esta é a opinião do chargista e cartunista carioca Carlos Latuff, expressa numa postagem feita por ele no Twitter cerca de uma hora depois dos ataques cometidos contra as vítimas – uma delas uma brasileira.

Na charge, o cartunista desenhou o jornal francês vomitando “islamofobia” na boca da serpente do extremismo, ao lado do presidente turco Recep Erdogan, que por sua vez despeja “incitação”. No texto que acompanha a imagem, o cartunista afirma que o jornal “Charlie Hebdo alimenta sentimentos anti-islâmicos na França”, e que “Recep Tayyip Erdogan alimenta o extremismo religioso”. Por fim, a postagem afirma que “esses dois são culpados por este novo ataque terrorista em Nice. Parem com a incitação de ambos os lados.”

Em 2015, a sede do jornal francês foi alvo de um massacre cometido por jihadistas islâmicos por ter publicado charges do profeta Maomé, algo imperdoável para os muçulmanos. Ao todo, 17 pessoas morreram no ataque. Desde então o Charlie Hebdo não havia mais publicado as charges. Mas voltou a fazê-lo no começo de setembro, e foram justamente estas charges que podem ter levado à morte o professor Samuel Paty, decapitado depois de ter exibido as imagens para seus alunos.

A culpa nunca é da vítima

Em uma ilustração publicada em 2012, Latuff retratou uma mulher com sinais de agressão física para reforçar sua posição de que estupro é crime e que a culpa nunca é da vítima. Em outra mais recente, de 2020, o cartunista representou o presidente Jair Bolsonaro como um trator com lança-chamas, destruindo árvores, casas, animais e indígenas. “A culpa é dos índios e caboclos”, afirma o trator-presidente, que leva a frase “anti-política indigenista.” Mais uma vez, Latuff reforça a ideia de que as vítimas não podem ser consideradas culpadas pelos ataques.

Ataques a evangélicos

Em outros trabalhos, o cartunista ataca os evangélicos, como no desenho de 2013 que ilustra um homem como se estivesse exorcizando o Congresso Nacional ao gritar “Sai, Estado Laico!”, ao mesmo tempo em que notas de dinheiro  de dízimo são jogadas sobre o prédio da Câmara dos Deputados, como se fossem doações em uma bacia.

Uma de suas caricaturas mostra um homem de terno identificado como integrante da bancada evangélica prega uma tábua trocando o nome da Constituição Federal para Bíblia Sagrada. Latuff também mostrou uma pessoa vestida com as cores do arco-íris – em alusão aos homossexuais – na mira de uma espingarda cujo cano é representado por uma cruz. Não foi a única vez que ele fez essa relação entre símbolos cristãos e armas de fogo: em um desenho de 2013 ele representou uma bíblia no formato de um revólver, com direito a uma mão apertando o gatilho e fumaça de um disparo recém-executado.

As igrejas pentecostais também foram um alvo direto dos desenhos de Latuff. Um desenho de 2012 mostra um homem com trejeitos afeminados entrando em uma igreja pentecostal com um cartaz “Hoje: Cura Gay”. Depois de ouvir gritos de “Sai, Capeta”, o homem sai em dúvida se agora é ou não um machão. Ao passar uma mulher na rua, ele dá-lhe um tapa no rosto, a chama de “puta” e sai pensando satisfeito "estou curado."

A Gazeta do Povo procurou Carlos Latuff para comentar suas charges, mas ainda não recebeu nenhum retorno.

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