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Não é novidade que os brasileiros não confiam muito em seus políticos, várias pesquisas já mostraram essa tendência. Mas um relatório recente do World Economic Forum mostrou uma situação mais extrema, colocando o Brasil em último lugar entre 137 países nesse quesito. 

O dado está na publicação Índice de Competitividade Global 2018, que analisou o cenário de competitividade de 137 economias. Um dos dados do relatório é um ranking dos países de acordo com a confiança pública em políticos. A pergunta “No seu país, como você avalia os padrões éticos dos políticos” podia ser respondida com notas entre 1 (extremamente baixo) e 7 (extremamente alto). A média do Brasil ficou em 1,3. 

O dado talvez não surpreenda quem está acostumado a ouvir sobre casos de corrupção que aparecem diariamente no noticiário. No entanto, o Brasil aparece atrás de países em conflito, que também sofrem com corrupção, monarquias absolutistas e outros com graves problemas políticos. Quais seriam as causas de tamanha descrença política no país? 

Carlos Ranulfo, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais, explicou que a confiança em políticos sempre foi baixa no Brasil, “e baixou mais ainda porque, desde 2014, temos um noticiário político ocupado pela Lava Jato e seus desdobramentos”, disse. “O eleitor que não se informa muito sobre política usa aquilo que aparece mais no noticiário para organizar a sua visão da política, e o que está mais no noticiário sobre política é a corrupção”, acrescentou Ranulfo. 

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O cientista político David Fleischer, professor da Universidade de Brasília (UnB), considera esse um dado muito negativo para o Brasil e o seu sistema político, e concorda que a desconfiança é resultado dos constantes casos de corrupção e outros delitos praticados por políticos brasileiros. “Principalmente a televisão, todos os canais, todos os dias e todas as noites mostram corrupção de políticos em todos os estados. Depois da Lava Jato e de outras investigações que comandam o noticiário, o eleitor fica totalmente afastado, achando que toda a classe política é corrupta, que não deveríamos votar em nenhum político”. 

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Oswaldo Martins Estanislau do Amaral, diretor do Centro de Estudos de Opinião Pública da Unicamp é mais um que concorda que as ações anticorrupção no Brasil resultam em descrença política da população, e menciona outro fator, a crise econômica. É natural que a população avalie os políticos mais negativamente quando a sua vida está pior, explica Amaral. “Esse é um fenômeno comum na América Latina inteira. Depois da redução do boom das commodities, vários países tiveram redução de crescimento, aumento do desemprego, e isso elevou a desconfiança nos políticos e até na democracia como um todo”, afirmou. Amaral ressalta que mesmo democracias mais consolidadas sofrem essa tendência. 

Consequências 

Ranulfo não vê risco imediato para as instituições ou para a democracia brasileira por causa dessa descrença. “Não estamos em processo de deslegitimação da democracia”, disse. “Você pode ter uma abstenção maior, um aumento de votos nulos, brancos, e de pessoas que não vão votar”, acrescentou. Outra consequência possível é a abertura de espaço para o surgimento de novos nomes na política. “Não quer dizer que sejam bons, novos nomes podem ser piores do que os antigos”, opinou Ranulfo. 

Amaral concorda que a desconfiança extrema não seja capaz de causar uma ruptura na democracia. “O risco é [a população] não prestar mais atenção nas políticas públicas, não se preocupar mais em acompanhar, fiscalizar e avaliar, e isso acabar diminuindo a qualidade do regime democrático”, avaliou. 

O afastamento do cidadão de uma participação mais efetiva na política também é apontado por David Fleischer como resultado negativo da desconfiança em políticos. “Isso é o que mais precisamos, de mais envolvimento do cidadão comum com a política. Mas temos vários fatores que contribuem muito para esse desânimo”, afirmou. 

Um desses fatores seria a existência de foro privilegiado no Brasil. Fleischer, americano naturalizado no Brasil, conta que sempre que conversa com jornalistas estrangeiros, eles se surpreendem com o foro privilegiado e com outros acontecimentos da política nacional. “Eles me perguntam, ‘como que um presidiário pode ser candidato a presidente?’. Tem um prisioneiro em Mato Grosso do Sul que quer ser candidato ao senado, então o Lula não é o único”.

Confira quais são alguns dos países que confiam mais em seus políticos do que o Brasil: 

Venezuela

Posição: 133

Nota: 1,6

A Venezuela passa por uma crise que parece longe do seu fim. A inflação anual do país deve atingir o número astronômico de 1.000.000%, segundo uma estimativa do FMI. A combinação da hiperinflação com políticas econômicas e sociais desastrosas do ditador Nicolás Maduro tem feito a população sofrer; segundo estudo de universidades venezuelanas, 64,7% da população perdeu uma média de 11,4 quilos no ano passado por conta da desnutrição.

A Venezuela já sustentou o segundo maior PIB per capita da América do Sul, em 1998, quando estava atrás apenas da Argentina. Uma série de erros levou o país à desestabilização que se vê hoje.

Zimbábue 

Posição: 131 

Nota: 1,6 

Nesta segunda-feira (30), os eleitores do Zimbábue foram às urnas para votar em seu próximo presidente, na primeira eleição desde 1980 que não tem o ex-presidente Robert Mugabe como candidato. 

O país enfrenta há anos uma difícil situação econômica. A inflação astronômica levou Mugabe a abandonar a moeda nacional em 2009 pelo dólar americano, e pelo menos um milhão de zimbabuanos migraram para a vizinha África do Sul em busca de trabalho. 

O ex-presidente Robert Mugabe foi destituído pelo seu próprio partido em novembro de 2017, após governar o país por quase 40 anos, em um regime marcado pela repressão de qualquer oposição e uma grave crise econômica. 

Nicarágua 

Posição: 129 

Nota: 1,7 

O país da América Central está mergulhado em um caos político desde abril, em meio a manifestações que pedem a saída do presidente Daniel Ortega. O governo de Ortega tem coordenado uma violenta repressão contra a oposição, que já resultou em mais de 350 mortes, incluindo a de uma estudante brasileira

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Turquia

Posição: 70

Nota: 2,9

Um dos países que mais crescem no mundo, a Turquia sofre ameaças que podem levar o país em direção à crise, como o endividamento crescente das empresas, a interferência do governo em instituições e a desvalorização da sua moeda.

O presidente do país, Recep Tayyip Erdogan, que domina a vida nacional faz 15 anos, foi reeleito em junho, em eleição que teve contestação da oposição.

Em 2016, o país sofreu tentativa de um golpe militar. Em sua história, outros três golpes já haviam acontecido, sempre com associação entre política e religião. O país passa pelo dilema de viver de acordo com o Islã ou com os valores seculares.

Paquistão

Posição:  62

Nota: 3,2

O Paquistão acaba de eleger um novo presidente; o ex-jogador de críquete Imran Khan será o líder do novo governo, após a eleição mais controversa em anos no país. A disputa foi marcada por acusações de manipulação pelas Forças Armadas, por intimidações à imprensa, pela presença de candidatos ligados ao extremismo islâmico e por uma série de atentados contra candidatos, o que fez com que esta fosse chamada de "a eleição mais suja da história".

Os mais confiantes

Confira os países em que a população mais confia em seus políticos:

1 - Singapura 6,4 

2 - Emirados Árabes Unidos 6,3 

3 - Nova Zelândia 6,1 

4 - Catar 5,9 

5 - Finlândia 5,8 

6 - Noruega 5,7 

7 - Holanda 5,6 

8 - Luxemburgo 5,6 

9 - Suíça 5,5 

10 - Ruanda 5,4

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