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O ministro Flávio Dino estava tentando animar Alexandre de Moraes, que corre o risco de ter o visto americano cancelado, quando fez um convite: “Se quiser passar lindas férias, pode ir para Carolina, no Maranhão. Não vai sentir falta de outros lugares com o mesmo nome”, escreveu Dino, em seu perfil no Instagram. A publicação foi feita em 27 de fevereiro. Era uma ironia com as Carolinas do Norte e do Sul, nos Estados Unidos.
Mais tarde, durante sessão do STF (Supremo Tribunal Federal), Moraes respondeu. Em uma mensagem previamente escrita, e sem grande entusiasmo, ele disse: "Será um grande prazer conhecer a belíssima Carolina do Estado do Maranhão, que sua excelência tão bem governou por dois mandatos".
Moraes também afirmou que o Maranhão é um exemplo de “coragem e luta por independência e autodeterminação do povo brasileiro e defesa da cidadania”.
Ainda não se sabe quando o ministro cumprirá sua promessa, e se ele perderá mesmo o visto americano. De qualquer forma, a reportagem da Gazeta do Povo já preparou um guia para ajudar Moraes caso ele não possa mais viajar aos Estados Unidos.
É verdade que, no ranking das cidades da Gazeta do Povo, Carolina aparece em 3.064º lugar dentre os 5.565 municípios brasileiros.
Mas que isso não intimide o ministro Moraes.
Chegando a Carolina
Não há aeroportos perto de Carolina.
Para chegar à cidade, o ministro teria de voar até Imperatriz (MA) e depois se deslocar por terra. São três horas de viagem pela Rodovia Transamazônica (pista simples).
Mas, se quiser evitar novos entreveros em aeroportos, Moraes pode ir de ônibus. As passagens da linha Brasília-Carolina custam R$ 408. São 21 horas e 45 minutos de viagem.
Na verdade, Moraes terá de pegar dois ônibus. O ministro do STF precisará desembarcar em Paraíso do Tocantins (TO) e esperar por uma hora e 20 minutos. A boa notícia é que, se ele viajar no ônibus que sai de Brasília às 22h40, a pausa vai se dar no horário do almoço.

Da rodoviária de Paraíso do Tocantins, ele pode caminhar até o restaurante O Bifão, que serve prato feito, buchada e chambari — prato típico do Tocantins em que a carne é servida com osso no meio. O estabelecimento dispõe de mesas do lado de fora, sob a sombra de uma mangueira.
O centro de Carolina
Depois de desembarcar em Carolina, Moraes pode pegar um mototáxi até o simpático Hotel Araçás (R$ 265 a diária). O estabelecimento fica na avenida Getúlio Vargas, ao lado da PH Suplementos. Além do ar-condicionado forte o bastante para vencer o calor maranhense, o ponto-forte do hotel é a localização: bem no centro da cidade, de frente para a praça principal.
Ao sair do hotel para conhecer o patrimônio arquitetônico de Carolina, Moraes vai se deparar com um obelisco que homenageia heróis da história brasileira. Um deles é Tiradentes, que foi condenado à morte por atentar contra as instituições da época.

Moraes, que dá aula na USP, não poderia ter um emprego semelhante em Carolina. Lá, não existem faculdades. O município tem problemas mais urgentes para resolver.
Apenas 23,8% das casas estão ligadas à rede de esgoto. A coleta de lixo ainda não chegou a 26,5% dos lares. Cerca de 12% da população é analfabeta (o índice nacional é de 5,6%).
Carolina, que fica na divisa com o Tocantins, está longe de ser uma das cidades mais pobres do Maranhão. Mas os números da economia local são ruins. O PIB (Produto Interno Bruto) per capita da cidade é de R$ 21,8 mil. Isso é menos da metade do indicador nacional, de R$ 47,8 mil.
Cerca de 2,5 mil pessoas têm carteira assinada em Carolina. Ao mesmo tempo, 10,9 mil recebem Bolsa-Família.
Sem delegacia
Carolina tem Hospital Municipal (em frente ao Bar do Dominguinhos), mas não tem delegacia.
E não é porque falta serviço.
Em 2 de fevereiro, duas pessoas foram assassinadas a golpes de faca. No dia 27, um acusado de homicídio trocou tiros com a Polícia Militar e acabou morto.
Caso resolva visitar a Câmara de Vereadores da cidade para tratar da defesa da democracia, Moraes será recebido por parlamentares como João Filho Camelô (PSDB) e Raimundinho do Canto Grande (PT). A casa legislativa é presidida pelo parlamentar Dr. Rubens, do PCdoB — partido pelo qual Flávio Dino fez carreira na política antes de se tornar ministro do STF.
A oposição diz que o prefeito, Jayme Fonseca (PSDB) comprou votos em dinheiro. O caso é apurado pelo Tribunal Regional Eleitoral. Mas, dos males, o menor: o prefeito anterior, Erivelton Teixeira Neves (PL), é réu na Justiça por um crime tenebroso. Segundo o Ministério Público, ele dopou a amante para, com a ajuda de um médico, abortar o bebê que ela carregava.
Sim, Carolina tem os seus problemas. Entretanto, Moraes vai ficar feliz em saber que, além de se manter a uma distância segura de distância de Donald Trump, ele vai estar numa cidade onde os bolsonaristas são minoria. No primeiro turno da eleição de 2022, Jair Bolsonaro teve 33,2% dos votos contra 62,4% de Luiz Inácio Lula da Silva.
A natureza de Carolina
O Maranhão não é a Flórida, e Carolina não é Orlando. Mas Deus fez a sua parte: as paisagens da Chapada das Mesas ajudam a esquecer as atrações americanas.
Se não tiver problemas em ser levado por estradas de pavimentação inexistente, Moraes pode visitar as Cachoeiras de Itapecuru. Lá, ele terá a oportunidade de apreciar a paisagem com o pé na areia, sentado em uma cadeira de plástico ilustrada por uma marca de cerveja popular.
Com formações geológicas interessantes e belas cachoeiras, o Parque Nacional da Serra das Mesas é a principal atração turística da região. As maiores atrações do parque, no entanto, estão em outros municípios. É uma boa oportunidade para conhecer melhor o Maranhão.
Caso esteja animado, Moraes pode até esticar a viagem para conhecer Nova Iorque (MA), que pode não ter o charme da original americana mas pelo menos desfruta da herança maranhense de “coragem e luta por independência e autodeterminação”.




