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 | Ilustração/ Robson Vilalba
| Foto: Ilustração/ Robson Vilalba

“Ele não é meu presidente”, protestaram milhares de eleitores democratas após Donald Trump chegar à Casa Branca. Em 2008, eram os republicanos que estavam indignados com a eleição de Barack Hussein Obama.

Em sociedades divididas, os resultados eleitorais deixam um sentimento de desilusão nos perdedores. A ponto de se questionarem as regras do jogo democrático. Mas qual seria a alternativa?

Em 1955, o escritor Isaac Asimov (1920-1992) imaginou uma que tiraria das mãos das pessoas o voto, embora mantivesse a aparência democrática do processo. Bioquímico na Universidade de Boston, Asimovov usou a vivência de cientista para unir ficção aos “futuros problemas que poderiam levar a humanidade à extinção e como a tecnologia poderia salvá-la”.

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Em seu conto “Democracia Eletrônica”, escrito em 1955, ele previu que num futuro distópico (o ano de 2008), as eleições presidenciais nos Estados Unidos seriam controladas por um grande computador chamado Multivac. Toda decisão sobre a escolha do novo presidente caberia a apenas um único eleitor padrão escolhido pela máquina.

No caso, um homem chamado Norman Muller, caixa de supermercado. Nem o mais esperto, nem o mais forte ou sortudo. O pobre-diabo que melhor representava a população naquele ano, segundo a resolução da inteligência artificial.

No dia da “eleição”, Muller é levado a um hospital e ligado a sensores enquanto responde perguntas sobre assuntos de interesse do povo, como: “O que você pensa do preço dos ovos?”. Com base nas respostas, o computador define o próximo presidente.

Algumas previsões da ficção de Asimov se provaram reais, como 7 bilhões de pessoas no mundo em 2014, comida congelada, micro-ondas, televisão 3D, Skype...

Porém o pesquisador de Inteligência Artificial da Telecom ParisTech Heitor Murilo Gomes diz que vai demorar para a precisão do Multivac virar realidade.

“Estamos sempre correndo para melhorar os algoritmos e a qualidade dos dados de entrada, porém é improvável alcançar a perfeição.”

Ele destaca, porém, que muitas decisões cotidianas já são tomadas automaticamente por algoritmos sem que as pessoas percebam, como em preços de passagens aéreas (ou muito baratas ou caríssimas) e a aprovação ou não de um pedido de empréstimo.

Gomes, no entanto, não acha que as pessoas ficariam mais confortáveis se a inteligência artificial tomasse as “grandes decisões” por elas. “As pessoas sempre vão reclamar. Quando é uma máquina: ‘falta a emoção humana!’, quando é um humano: ‘a decisão de fulano é enviesada’.”

Fator humano

O computador de Asimov tentava contornar esta falta de humanidade. Apesar de ter todos os dados sobre a gestão do governo, o Multivac precisava medir a percepção de, ao menos, um eleitor.

Para o cientista político Luís Domingos Costa, este fator humano ainda é o “alento” da democracia. Mesmo imperfeita , a democracia deixa um mínimo de controle de cada um do povo sobre os governantes.

Ainda que a internet contribua para um “obscurantismo que leva as pessoas a abrirem mão do direito de escolha” ainda vale o brocardo de Winston Churchill (1874-1965) : a democracia é a pior forma de governo, com exceção das demais.

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“Com as disputas polarizadas, perdem-se eleições para grupos de pessoas que você despreza, o que não deixa de ser frustrante. Mas isso é cíclico: quem perde hoje foi quem ganhou ontem e espera voltar a ganhar amanhã. Se o governante da vez não vai bem, a gente troca na próxima.”

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