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Sob pressão de feministas, Museu Marítimo da Escócia deixará de se referir a embarcações como "ela"
Sob pressão de feministas, Museu Marítimo da Escócia deixará de se referir a embarcações como “ela”.| Foto: Pixabay


Há dois tipos de pessoas que querem impor expressões politicamente corretas a todo mundo: aquelas que detêm o poder ilimitado e temem perdê-lo e as que desejam o poder ilimitado e precisam estabelecer meios de alcançá-lo. E, no final das contas, não há poder maior do que o de ditar o que os outros têm de dizer e o que os outros não devem pensar.

O Museu Marítimo da Escócia, dedicado à história da indústria naval no país, decidiu não usar mais as palavras “ela” e “sua” para se referir a embarcações. Em vez disso, o museu usará o pronome neutro (em inglês, it). Isso se dá como uma reação às feministas, que têm vandalizado placas que se referem a embarcações como “ela”. Essa mudança nega séculos de tradição durante os quais as palavras tradicionalmente usadas durante o batismo de uma embarcação, “Que Deus abençoe a todos que nela navegarem” foram empregadas sem qualquer conotação de insulto ou depreciação – bem pelo contrário.

O recuo do Museu Marítimo é só mais um caso de covardia das autoridades britânicas diante das exigências de um grupo pequeno, mas virulento, de fanáticos que têm como objetivo de vida a imposição de sua visão de mundo sobre os outros. As autoridades do museu disseram que eles têm de acompanhar as mudanças do tempo e que prevenir o vandalismo é importante, por motivos econômicos. Mas esse raciocínio é o mesmo que propor que se recompense ladrões com uma pensão mensal a fim de evitar os roubos.

Concessões deste tipo não diminuirão, e sim aumentarão o apetite dos fanáticos de todos os tipos. Quanto tempo levará até que as estrofes iniciais do poema sexista de Lewis Carroll, “A Morsa e o Carpinteiro”, sejam completamente adaptadas para a linguagem do gênero neutro?

X sol brilhava sobre x mar,

Brilhando com todx x seu poder:

Elx fez seu melhor para tornar

x imensidão suave e reluzente —

E issx era estranhx porque era

X meio dx noite.

X lua brilhava mal-humoradx

Porque achava que x Sol

Não tinha que se meter ali

Quando x dia acabava —

“É muitx grosseria delx”, disse elx,

“Vir e estragar x brincadeira”.

O sol, tradicionalmente masculino, tem claramente uma importância cósmica maior do que a lua, tradicionalmente feminina. A luz da lua não é apenas um reflexo da luz do sol e, portanto, uma metáfora para a posição da mulher na sociedade da época de Carroll (e da nossa também)? Isso não quer dizer ainda que o poema de Carroll é uma tentativa de doutrinar meninos e meninas, ensinando quais seus papeis futuros na hierarquia sexual da sociedade? Você não acha que as futuras edições de Alice deveriam incluir o poema vertido para a linguagem não-sexista? E você não acha que todas as edições existentes deveriam ser removidas da bibliotecas e livrarias e que as edições disponíveis na Internet também deveriam ser censuradas?

Enquanto isso, no Reino Unido, a chefe de Estado, Sua Majestade a Rainha Elizabeth II, deveria passar a ser chamada de X Majestade Monarcx Elizabeth II.

*Theodore Dalrymple é editor colaborador do City Journal e autor de vários livros, entre eles Não Com Um Estrondo, Mas Com Um Gemido e A Faca Entrou.

Tradução de Paulo Polzonoff Jr.

©2019 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês.

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