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Tijolos de demolição na cozinha do arquiteto Eloy Casagrande Junior. O fogão à lenha garante um aquecimento extra para a casa toda | Fotos: Priscila Forone/Gazeta do Povo
Tijolos de demolição na cozinha do arquiteto Eloy Casagrande Junior. O fogão à lenha garante um aquecimento extra para a casa toda| Foto: Fotos: Priscila Forone/Gazeta do Povo

Selos e programas governamentais ganham espaço

Em qualquer setor, a certificação atesta que a empresa tem processos de organização e controle. Entre as várias opções de selos verdes, duas – uma ampla e outra específica – chamam mais a atenção no mercado da construção civil.

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  • Janelas amplas propiciam iluminação natural e ventilação regular para a casa do arquiteto. Os móveis são de madeira de marcenaria

A onda verde chegou para ficar na construção civil. Produtos e empreendimentos podem receber certificações que garantem desde a origem dos produtos à eficiência energética das edificações. É preciso, no entanto, resistir ao modismo de usar os selos como ferramenta de marketing e atentar para o uso racional dos recursos construtivos. "As certificações tem um cunho interessante. Por um lado, traçam algumas diretrizes para a construção sustentável, mas é preciso cuidar para não avaliar apenas o resultado comercial", ressalta Eloy Casagrande Junior, professor da Universidade Tecno­­lógica Federal do Paraná (UTFPR), que atua na área de desenvolvimento sustentável.As certificações não são garantia de sustentabilidade. "Tenho aversão à certificação pelo efeito pirâmide que ela causa, uma indústria de certificações. Susten­­­tabilidade é compromisso da empresa, não resultado de certificado", afirmou Hamilton Pi­­­nhei­­­­ro Franck, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Paraná (Sin­dus­con-PR), durante o evento "Opor­­tu­­­­­nidades de Mercado na Construção Sustentável", realizado pela entidade, em parceria com a Gazeta do Povo. Casa­­­­­grande também apresenta um porém à certificação. "Os selos criam um modelo de consultoria e avaliação que pode deturpar o objetivo de sustentabilidade, por conta dos preços altos, inacessíveis para pequenos construtores", diz. Em parte, isso se deve ao fato de não existir um selo am­­plo, que avalie as construções como um todo, genuinamente brasileiro. Os sistemas de avaliação aplicados em ou­­tros países – especialmente nos Estados Unidos e países europeus – sofrem algumas modificações e passam a servir de parâmetro no Brasil.MateriaisPara uma obra ser considerada sustentável, além de economicamente viável, deve ser ecologicamente correta e socialmente justa. "Desde as primeiras construções, a arquitetura sempre perseguiu esses objetivos", afirma Frederico Cars­tens, diretor do grupo de sustentabilidade da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura – Regional Paraná (AsBEA-PR). Para ele, as técnicas construtivas de hoje ainda são muito parecidas com as usadas nas primeiras construções, guardadas as devidas proporções. "Nós destruímos para construir. Só teremos uma construção sustentável quando mudarmos a sua base tecnológica e utilizarmos apenas materiais renováveis, como os sintetizados em laboratório ou madeira de reflorestamentos."

A arquitetura moderna contraria as construções antigas, que buscavam uma integração com o meio ambiente. "Países modernos criaram projetos inviáveis do ponto de vista energético. São caixas de vidro sem proteções que tornam exagerado o uso de ar condicionado", afirma. O movimento Green Buil­­­ding seria uma tentativa de melhorar as construções. A pressão das empresas fabricantes de materiais de construção pode ser prejudicial para a sustentabilidade. É o que argumenta o professor de arquitetura da Uni­­versidade Federal do Para­­ná (UFPR) Sergio Tavares. Ele explica que, de acordo com algumas certificações, é possível fazer um prédio inteiro com alumínio, que é um material de grande impacto ambiental, mas reciclável. "Isso não faz sentido. É preciso avaliar e expor os impactos dos materiais", defende.

Custo

As adequações para a construção sustentável podem ter um custo inicial alto, mas são compensadas pela economia gerada durante o uso. Aqueles que desejam ter uma certificação oficial precisam desembolsar um pouco mais de dinheiro. "O selo verde representa, no mínimo, um aumento de 10% a 20% no valor final da obra", revela Franck.

Inicialmente, as implementações com materiais isolantes mais ecológicos, sistema de aquecimento de água com painel solar e reuso de água de chuva, por exemplo, são mais caras. "Cerca de 75% do custo de um edifício está no seu uso, não na construção. Avaliando a vida útil do empreendimento, aquele que tem uma construção sustentável oferece melhor qualidade de vida para o usuário, seja comercial ou residencial", revela Casagrande.

Casagrande e a esposa, a designer Libia Patricia Peralto Agudelo, construíram uma casa de 300 metros quadrados há dez anos usando métodos e materiais sustentáveis. A economia na obra foi de cerca de 40%. "Só compramos materiais em grandes lotes, garimpamos pontas de estoque e temos contato direto com empresas de demolição", diz Libia. Com essa economia, foi possível instalar o painel de aquecimento solar. A casa também tem sistema para reuso de água de chuva. O casal usou desdobramentos de dormentes de estradas férreas para as escadas e estrutura da casa. Os assoalhos, portas e janelas vieram de casas que foram demolidas. "As paredes são duplas, com espaço de cinco centímetros, para manter o conforto térmico e o desenho do imóvel facilita a circulação de ar", ressalta Casagrande.

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