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Amanda Rossi foi encontrada morta dentro do campus da Unopar | Roberto Custódio/JL
Amanda Rossi foi encontrada morta dentro do campus da Unopar| Foto: Roberto Custódio/JL

No próximo dia 15 de dezembro um dos maiores arquitetos da história completa um século de vida. Para admiradores e amigos, Oscar Niemeyer deixa, principalmente, dois legados: a colaboração na construção da identidade brasileira e a atenção especial ao ser humano em suas obras. A beleza de seus traços inspirados na natureza e nas formas humanas seria também um instrumento de reflexão do povo brasileiro.

Nascido aos quinze dias do ano de 1907, no Rio de Janeiro, Oscar Niemeyer, segundo ele mesmo, "começou" na arquitetura nos anos 40, ao projetar, em Belo Horizonte, o Conjunto da Pampulha a pedido do então prefeito da cidade, Juscelino Kubistchek. Inaugurado em 1945, não só serviu como impulso para o desenvolvimento do bairro (Pampulha), como também tornou-se ícone da capital mineira – um resultado que se tornaria comum em todas as obras públicas do arquiteto.

"Para mim Pampulha foi o começo de minha vida de arquiteto. (...) Era a oportunidade de contestar a monotonia que cercava a arquitetura contemporânea, a onda de um funcionalismo mal compreendido que a castrava, dos dogmas de ‘forma e função’ que surgiam, contrariando a liberdade plástica que o concreto armado permitia. A curva me atraía. A curva livre e sensual que a nova técnica sugeria e as velhas igrejas barrocas lembravam", diz ele em seu livro de memórias "As curvas do tempo", publicado em 1998, que reúne textos escritos pelo arquiteto a partir do fim dos anos 70.

Para Marcus Lontra, curador da exposição Oscar Niemeyer – Arquiteto Cidadão Brasileiro, em cartaz no museu que leva seu nome, – o Museu Oscar Niemeyer (MON) –, a Pampulha não foi apenas o início da identidade de Niemeyer, mas também um grito brasileiro de interferência na hegemonia internacional, que, na época, ditava os passos da humanidade também na arquitetura. Ainda de acordo com o curador, a beleza dos traços de Niemeyer é uma provocação ao cotidiano da população brasileira. "O que ele nos ensina é que a beleza é um instrumento de reflexão humana. Se você faz um percurso e nada te chama a atenção, o mundo passa despercebido. Agora, se você passa e vê um ‘olho’ como o (do museu) de Curitiba é diferente. Você cria uma ligação com a cidade", diz Lontra.

O arquiteto e professor de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), João Virmond Suplicy Neto, divide a mesma opinião. "O Niemeyer dá uma identidade à cidade. Ele faz com que o povo olhe a obra e, por meio de sua beleza, crie uma relação de pertencimento com o lugar onde mora". Para o arquiteto e também professor da PUCPR, Salvador Gnoato, as obras de Niemeyer transformaram-se em ícones em diversas cidades brasileiras, como o Ibirapuera e o Copan, ambos em São Paulo, e o Museu de Arte Contemporânea (Mac) em Niterói, sem falar de Brasília. Essa identificação do povo com as obras só é possível pela simplicidade de sua arquitetura. "O povo vê uma obra dele e assimila, e isso é uma coisa muito difícil de se fazer. Eu me lembro de quando construíram Brasília. As colunas do Palácio da Alvorada foram tão assimiladas pelo povo que se repetiam em casas e outras construções da cidade", diz o arquiteto Manoel Coelho.

Segundo o arquiteto Suplicy Neto, além de proporcionar a identificação do povo brasileiro com o seu país, outro legado de Niemeyer é a importância dada ao ser humano na concepção de suas obras. Para ele, essa preocupação está clara na beleza das formas e nos enormes espaços livres, característicos de suas criações, onde as pessoas se reúnem. Para Salvador Gnoato essa atenção especial ao ser humano também está na preocupação de Niemeyer com o percurso arquitetônico de suas obras, ou seja, o caminho que as pessoas percorrem nas construções, muitas vezes por meio de rampas.

Prédio do Centro de Pós-Graduação e Extensão do Centro Universitário UnicenP, em Curitiba. A construção tem um grande volume simples, cujos lados são arqueados. A cobertura curva da escadaria é uma homenagem do arquiteto Manoel Coelho a Niemeyer e ao arquiteto franco-suíço Le Corbusier

Sede da extinta Associação de Crédito e Assistência Rural do Paraná (Acarpa). O concreto aparente e o pé-direito alto da edificação são as maiores referências do projeto a Niemeyer. O projeto é dos arquitetos Luiz Forte Netto, Orlando Busarello, Dilva Busarello e Adolfo Sakaguti.

Perspectiva do projeto criado pelo arquiteto Frederico Carstens para o concurso que escolheu o futuro Centro Judiciário de Curitiba. Ele se baseou nas lições de Niemeyer sobre a inserção humana nas obras públicas. A construção tem um formato simples, de fácil identificação, e um caminho dirigido até a entrada do prédio. Outro elemento de Niemeyer são os brises (grandes estruturas em alumínio que podem ser abertas e fechadas como persianas), utilizados em diversas construções, como a do edifício do Palácio Gustavo Capanema (RJ).

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Linha do tempo

O início (1940-1943) Oscar Niemeyer é convidado por Juscelino Kubistchek para projetar uma área de lazer no bairro da Pampulha, em Belo Horizonte. O Conjunto da Pampulha, da qual faz parte a Capela de São Francisco de Assis (foto), marca os primeiros traços originais de Niemeyer.

Formas orgânicas (1943-1953) É marcada pela combinação da liberdade formal com técnicas de engenharia e cálculo de materiais, com destaque para o concreto armado como na Casa das Canoas (foto), antiga residência do arquiteto, no Rio de Janeiro.

Modernidade (1953 – 1965) Período marcado pela construção das 83 obras públicas de Brasília, entre elas a Catedral (foto). Nessa fase, Niemeyer aprende a explorar a força simbólica de suas obras. As construções de Brasília, maior conjunto de obras do modernismo mundial, tornam-se ícones brasileiros.

Arquitetura Social (1965-1989)Após o Golpe Militar, Niemeyer vive um período de exílio em que os aspectos políticos e sociais de seu trabalho se intensificam, além da qualidade técnica pelo contato com a arquitetura antiga da Europa. Época da construção da sede do Partido Comunista Francês (foto), em Paris.

A maturidade (1989 até hoje) Nesse período, Niemeyer mostra o domínio de suas formas e a unidade de suas obras. São dessa fase o Memorial da América Latina, em São Paulo, o MON, em Curitiba e o Museu de Arte Contemporânea de Niterói (Mac-Nitéroi), no Rio de Janeiro (foto).

Fonte: Marcos Lontra, curador da exposição Oscar Niemeyer, em Curitiba.

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