
Ambientes limpos e organizados (não tediosos), com nenhuma ou algumas divisórias discretas baixas ou em material translúcido , móveis de linhas orgânicas e cadeiras com mil e uma regulagens. Os espaços corporativos não seguem exatamente tendências, mas sim o modo e o espírito de trabalho de cada empresa, com o foco principal na ergonomia que nesse caso tem a função de organizar metodicamente o trabalho, buscando sempre conforto, segurança e eficiência na relação homem-máquina.
O diretor da fabricante paranaense de móveis corporativos Flexiv, Ronaldo Duschenes, diz que entre as particularidades do modo de trabalho de cada empresa, uma demanda bastante crescente é por estações de trabalho compartilhadas, onde a equipe interage e se comunica com fluidez. "São móveis com divisórias baixas que delimitam o espaço de cada um, sem limitar a comunicação."
Para arquiteta Silvia Mainchr Ferreira, que fez escritórios como o da empresa América Latina Logística (ALL), mesas com divisórias altas acirram a competitividade entre os colegas. "O bloqueio visual faz isso. Já nas estações com divisórias baixas há um estímulo ao trabalho em equipe, à interatividade. Com o tempo os funcionários e colaboradores criam vínculos."
Uma ideia que também tem se destacado no mundo corporativo, segundo Duschenes, é o investimento no trabalho não-territorial, chamado de telecommuting ou telework. "O formato permite contar com o funcionário por um ou dois dias da semana no escritório principal, para manter o contato com a empresa e colegas, deixando o restante do trabalho para ser feito à distância. Com isso a estrutura física da empresa é otimizada, com soluções como a instalação dos chamados mesões ou estações de trabalho". Nesse sistema o funcionário não tem uma mesa fixa, ocupando o local que lhe for mais conveniente durante o período que está no escritório. "Para esse estilo de trabalho, o mobiliário tem de ser flexível, um verdadeiro curinga, podendo se adaptar aos mais variados indivíduos."
Em uma tentativa de tornar o trabalho mais agradável, os ambientes corporativos estão absorvendo cada vez mais a atmosfera residencial. "Vemos isso no uso de acessórios, tecidos e outros acabamentos aconchegantes e sofisticados, principalmente nos espaços de mais descontração, como as salas de café e descanso. É uma maneira de humanizar o espaço de trabalho onde as pessoas passam tanto tempo", diz a gerente geral de marketing da Giroflex, Sandra Escobar. Para ela, as divisórias em material translúcido como o vidro criam uma barreira virtual entre um departamento e outro. "São divisórias que não limitam a visão, mas dão uma ideia de privacidade para os funcionários."
Dentro da concepção de trabalho à distância, principalmente de casa, o diretor de outra fabricante paranaense, Funcional, Helder Dias, diz que o chamado home office, montado principalmente por profissionais liberais, como advogados e webdesigners, está muito menos improvisado. "Diferentemente do corporativo, o mobiliário residencial tende a ser mais personalizado. Algumas pessoas têm escritório invejáveis em casa de tão modernos e profissionais."
Com todas essas particularidades de comportamento do mundo corporativo, as empresas especializadas deixaram de vender móveis para vender soluções. "Uma característica desse trabalho é a combinação de várias de nossas linhas de móveis para buscar a eficiência que o cliente quer. Aquele cliente que chegava, escolhia um tipo de móvel para preencher todo o escritório e pronto, já não existe mais", ressalta o gerente de design do Estúdio Flexiv, Dari Beck. No mercado, algumas linhas, como a Múltiplus, da Giroflex, chega a ter 12 mil componentes para combinar.
Menos móveis
Há cerca de dez anos ainda era comum encontrar uma sala de escritório abarrotada. "Cada funcionário tinha um armário, um gaveteiro, fora o espaço da mesa. Tudo cheio de papéis. É claro que alguns departamentos continuam tendo que arquivar tais volumes, mas, de forma geral, os escritórios estão enxutos e organizados. Em muitas empresas os funcionários contam apenas com uma gaveta para objetos pessoais, mas com um espaço de trabalho melhor planejado", lembra Beck.
Para o diretor da Funcional, parte dessa evolução veio da época das salas de informática nas empresas. "Há poucos anos a maioria dos ambientes das empresas tinha aqueles móveis de madeira pesados. A única sala a ter móveis mais leves e organizados para os computadores, com lugar para o teclado e a impressora, era a sala de informática, chamada de CPD, onde ficavam os especialistas", conta Dias.
Tecnologia
Os móveis corporativos são feitos não com um material ou outro, mas com a combinação de vários. Madeira (principalmente as placas de MDF e MDP), vidro (nos móveis e nas divisórias, transparentes ou jateados), aço, acrílico e plástico de engenharia. A mistura desses materiais é que proporciona qualidades como melhor acabamento, resistência à abrasão e menor produção de ruídos. "Nessa combinação, nós ultrapassamos o conceito de uso e passamos a pensar também no descarte, possibilitando que todos esses materiais sejam separados depois. Madeiras mudam de tamanho para serem utilizadas de novo, ponteiras de plástico são recicladas e assim por diante", afirma Dari Beck, da Flexiv. No mercado em geral as fabricantes têm informado o fator de reciclabilidade das peças. Algumas cadeiras chegam a ser 95% recicláveis.
Nos tecidos, que incluem todos os tipos, de poliéster ao couro, também há avanços práticos, como fácil limpeza e resistência a fungos e ácaros. Tais avanços na fabricação dos móveis como um todo possibilitam garantias de fábrica que chegam a 10 anos no mercado. "Toda essa exigência com produtos de propriedades tecnológicas e a preocupação com o uso de fontes sustentáveis na fabricação dos móveis fazem parte, muitas vezes, da própria filosofia e regras da empresa", ressalta Sandra Escobar, da Giroflex.







