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No Armazém Santo Antônio, cozinha foi construída do lado de fora do estabelecimento | Antônio Costa/Gazeta do Povo
No Armazém Santo Antônio, cozinha foi construída do lado de fora do estabelecimento| Foto: Antônio Costa/Gazeta do Povo

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Restauração preserva os valores

Se a casa é tombada pelo estado como patrimônio histórico ou se é considerada uma Unidade de Interesse de Preservação, não é possível fazer uma reforma e, sim, apenas uma restauração. Segundo Claudio Forte Maiolino, arquiteto e professor de Arquitetura Brasileira e Restauro do curso de Arquitetura da PUCPR, "isso implica em preservar os valores estéticos, arquitetônicos e históricos do local." Nesse caso, é preciso usar materiais e técnicas compatíveis com a época em que foram construídos. "O restauro é uma atribuição do arquiteto, porque ele estudou história, teoria e evolução da arquitetura. Os engenheiros atuam com técnicas mais modernas", avalia.

A reforma, assim como a restauração, também precisa de alvará da prefeitura, mas, como Maiolino afirma, dá uma nova forma à construção. Para ele, no caso de casas antigas, mesmo que não sejam tombadas, é interessante manter a originalidade, porque elas ajudam a contar a história da cidade. "É possível intervir e deixá-las confortáveis. É preciso que a sociedade conheça o patrimônio para poder amá-lo e respeitá-lo. A partir do momento em que você restaura e revitaliza, você traz as pessoas."

  • O Aire Restaurante está num imóvel onde funcionou uma antiga escola de datilografia
  • Maria Polenta quer ser um lugar tranquilo para as refeições
  • Picanha Brava ocupa casa de 1930: conceito de fazenda despojada e bucólica
  • Casa que abriga o Porcini é rústica, mas com modernidade

Quando Paulo Roberto Cana­­brava optou por uma casa construída em 1930 para abrir a petiscaria e restaurante Picanha Brava, queria passar aos clientes um conceito de fazenda despojada e bucólica. "Optei por manter ao máximo a arquitetura original, porque ela ajudava a transmitir o conceito do lugar, de tranquilidade", diz Canabrava.Para atender ao pedido e manter a originalidade da casa, as arquitetas Ângela Canabrava, que é irmã dele, e Denise Severo de Castro conservaram o piso de madeira, mas procuraram tratamento para os cupins. As paredes foram mantidas, garantindo a estrutura e a permanência do projeto, com vãos para integrar. Portas e níveis também foram preservados, assim como as janelas, que foram lixadas, raspadas e enceradas à mão para que ficassem com o tom natural da madeira. Móveis feitos com madeira de demolição, geladeiras antigas no bar e paredes pintadas com diferentes cores ajudam na decoração.Segundo Ângela, foi uma reforma simples, uma das características principais desse tipo de projeto. "Não é necessário derrubar tudo e começar de novo. Apenas as instalações elétrica, hidráulica e de esgoto precisaram ser refeitas, além do forro, que foi trocado. Mas atingir o objetivo do cliente foi possível por meio da decoração e da integração dos ambientes, que garantiram o aconchego e o ar intimista almejados", explica a arquiteta.

O restaurante Maria Polenta é outro exemplo. Fabiano Brusa­­­mo­­­lin, proprietário, tinha a intenção de proporcionar às pessoas que trabalham no Centro da cidade um lugar tranquilo para fazer as refeições. "Queria resgatar o slow food, as refeições calmas, e oferecer um am­­biente com cara de casa de vó para quem almoça todos os dias fora. Não podia fazer isso em um local muito moderno", explica.

A casa, construída no fim da dé­­­ca­­­da de 1940, fica em frente ao Pas­­­seio Público. "Não queria alterar a fachada por ser uma casinha antiga em meio aos prédios e movimentação do bairro", diz Brusamolin. Aten­­­­­­­­­dendo ao pedido do cliente, a designer de interiores Sumara Bot­­­tazzari, com auxílio de um laudo téc­­­­nico de um engenheiro civil e de um estrutural, procurou manter e va­­­­­lorizar os elementos originais.

Segundo ela, a maior intervenção foi na cozinha. O piso de madeira foi substituído por granitina e foi aplicado rodapé arredondado. "Pro­­­curei as alternativas que mais facilitassem a limpeza", conta. O azulejo original foi mantido e as bancadas foram feitas de concreto e revestidas com aço inox. Para o clima de casa de vó, móveis diferentes foram inseridos em cada ambiente. "Na casa da vó, os objetos eram adquiridos aos poucos, ao longo da vida. Não eram combinados", explica Sumara.

Casa conhecida

Para Márcia Fontana, sócia-proprietária do Aire Restaurante, a instalação em uma casa antiga e cadastrada pela prefeitura como uma Unidade de Interesse de Preservação (UIP) foi motivada por um saudosismo pessoal, além da beleza. "Ali funcionou uma escola de datilografia, onde vá­­rias pessoas da minha geração estudaram. É um lugar charmoso que fez parte das nossas vidas", conta.

Por isso, Márcia não queria alterar o aspecto da casa, apenas adaptá-la. A princípio, adquiriu o imóvel para um bar. O arquiteto responsável por essa primeira fase, Gastão Lima, acredita que a transformação foi a oportunidade de apresentar uma casa preservada aos jovens que não podiam conhecer seu interior.

Ele, que também é professor da pós-graduação de Arquitetura Promocional da Universidade Positivo (UP), restaurou as esquadrias, os adornos arquitetônicos externos, reforçou as estruturas das paredes, pois houve um incêndio na casa, reconstruiu o telhado e refez as instalações elétrica e hidráulica.

Os arquitetos Christiane Freitas Santos e Ralf Sperka foram chamados para transformar o local no Aire Restaurante, há cerca de dois anos. Segundo Christiane, a madeira foi usada no piso, nas cadeiras e nas me­­­­sas para melhorar o conforto acústico. As paredes foram descascadas para deixar os tijolos à mostra e o forro foi resgatado. "Voltamos às origens", diz a arquiteta. A dupla também tirou o mezanino onde ficava a cozinha, que foi para o subsolo.

Adequar a cozinha às exigências da Agência Nacional de Vigi­lân­­cia Sanitária (Anvisa) sem descaracterizar o restaurante era o objetivo de Ari Perez, proprietário há quatro anos e chef de cozinha do Ar­­mazém Santo Antônio, até porque a casa de mais de cem anos é tombada. "Esse foi um dos motivos para eu não querer mexer no visual dela. O outro motivo é que ela era muito bonita, e combinava com a comida regional que eu pretendia servir", conta.

De acordo com Giuliana Soncin, uma das responsáveis pelo projeto de restauração, o restaurante não contava com vários espaços e a cozinha não tinha as divisões necessárias. "Essa área precisa se modernizar. No caso de um imóvel tombado, não se pode mexer na estrutura, mas o reboco é feito de cal e a pintura é misturada, o que absorve muita umidade na cozinha. Por ser muito gordurosa e úmida, ela deve ter piso de cerâmica e as paredes devem ser laváveis", exemplifica.

Esses fatores levaram à construção da cozinha fora do estabelecimento. "Acho muito interessante usar o local histórico, mas é preciso cuidado, como dispor de um espaço livre para possíveis construções – caso da cozinha do Armazém", diz Giuliana.

O antigo e o novo

Assim como outros proprietários de restaurantes, Ewerton Antunes, um dos sócios do Porcini, buscou uma casa mais antiga para transmitir rusticidade, mas com modernidade. "Uma trattoria italiana moderna precisa de um ambiente moderno e, ao mesmo tempo, antigo. E a comtemporaneidade ficou por conta dos detalhes e decoração", conta.

Adolfo Sakaguti, arquiteto responsável pelo projeto e obra, conta que desmanchou todas as ampliações antes existentes na casa, deixando-a com o aspecto original e dando mais espaço para estacionamento, e manteve as janelas de estilo bay window. As pa­­redes também foram retiradas, para integrar, e a estrutura foi reforçada com concreto. Como havia problema de cupim no forro, ele trocou todas as madeiras.

Um mezanino foi construído para integrar o térreo ao segundo andar e as paredes ganharam pinturas com cores quentes e texturas, além dos papéis de parede flo­rais. O porão virou uma adega e uma sala de eventos. "Se forem feitas algumas atualizações tecnológicas, como sistema de água, de energia, de higiene e de estrutura, você consegue oferecer o máximo de conforto e continuar com o apelo da antiguidade", avalia Sakaguti.

Serviço:

Aire: Rua Ébano Pereira, 269, Centro.

Armazém Santo Antônio: Rua Solimões, 344, São Francisco. Maria Polenta: Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 179, Centro.

Picanha Brava: Av. Iguaçu, 3.108 , Água Verde.

Porcini: Rua Buenos Aires, 277, Batel.

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