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Sofá We are Family: estrutura de bambu e os futons que viram camas com travesseiro para seis pessoas | Fotos: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
Sofá We are Family: estrutura de bambu e os futons que viram camas com travesseiro para seis pessoas| Foto: Fotos: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo

Ideias para engenharia sem máquinas

O projeto Seven ideas for engineering without engines (Sete ideias para uma engenharia sem máquinas), do escritório de arquitetura BIG, Bjarke Ingels Group, traz alternativas para que a própria arquitetura e os materiais usados supram as necessidades dos usuários das construções, para que não precisem lançar mão de condicionadores de ar ou de muita energia elétrica, por exemplo. A disposição da estrutura, os vidros nas janelas e o posicionamento em relação ao sol, por exemplo, são vistos pelo escritório como elementos que ajudam a atingir essa realidade. O visitante vizualiza as propostas em maquetes e em pequenas telas com vídeos sobre a criação e o conceito dos projetos, bem como a explicação e depoimentos dos criadores.

Um dos exemplos é o projeto do hotel Bawadi, em Dubai, nos Emirados Árabes. Por ser um lugar com altas temperaturas, o ar condicionado é indispensável nas dependências de um hotel. Para evitar essa realidade, o escritório projetou uma estrutura virada de "cabeça para baixo": o que seria a base, o chão, vai para cima, formando uma espécie de oásis, um jardim suspenso para formar uma cobertura de resfriamento e sombra. Os quartos ficam embaixo desse oásis, localizados em suas colunas de sustentação, protegidos do sol e do calor.

Outra ideia é o Zig Zag, edifício residencial e comercial, com estrutura em zigue-zague que permite aquecimento e resfriamento com aproveitamento da luz solar e dos ventos. O Escher Tower, em homenagem ao artista holandês M. C. Escher, famoso por desenhar perspectivas impossíveis, apresenta um giro de 90º que promove mais visibilidade e entrada de luz natural ao edifício, além de tornar a estrutura mais resistente aos ventos, apesar de ser fina.

  • A estrutura do Teatro Real Dinamarquês foi construída com tijolos artesanais de cerâmica, provando que obras de alta tecnologia podem ser inspiradas nas tradições, atitude considerada sustentável pelos dinamarqueses
  • Cortina solar:maior entrada de luz gera energia elétrica
  • Sete ideias para uma engenharia sem máquinas: vídeos e maquetes mostram como a arquitetura e os materiais podem suprir as necessidades das pessoas

A exposição integrante da Bienal Brasileira de Design 2010 Curitiba It’s a small world (Que mundo pequeno, em tradução livre) traz ao Brasil ideias e tendências propostas por arquitetos, artesãos e designers dinamarqueses para tratar de temas como sustentabilidade, consumo e novas tecnologias. Até 31 de outubro, é possível visitar a mostra que tem, entre outros artigos, revestimento para construções que permite maior entrada de luz, móveis para mais de um usuário, cortina solar, estacionamento para bicicletas e roupas feitas de garrafas de plástico. A mostra, que já passou por Copenhagen e Shangai neste ano, e que segue para o Chile em novembro, tem a curadoria assinada por três representantes da arquitetura, artesanato e design do país: Kjersti Wikstrøm, do Danish Architecture Centre, Karen Kjærgaard, do Danish Crafts, e Tina Midtgaard, do Danish Design Centre.

São projetos e apresentações em multimídia que seguem um dos quatro temas principais propostos: sustentabilidade "ambiental, social, econômica e escala humana", que propõe o design feito com base nas necessidades das pessoas em detrimento de questões financeiras; "o novo artesanato", que implica na união do artesanato a novas tecnologias, evitando a substituição do artesão pela máquina; e "práticas não padronizadas", que busca incentivar novas formas de produção, mais sustentáveis e que permitam a customização e a experimentação. "A sustentabilidade é a meta. Os outros três temas são os meios para atingi-la", diz Tina, do Danish Design Centre.

É tradição das bienais de design trazerem alguma mostra internacional. Em 2006, o evento realizado na cidade de São Paulo (SP) expôs exemplares do design francês. Dois anos depois, em Brasília (DF), foi a vez de trabalhos italianos serem exibidos. Neste ano, a Bienal foi organizada com um tema definido pela primeira vez – "Design, Inovação e Sustentabilidade" –, fazendo com que fosse necessário encontrar uma exposição que concordasse com ele.

Letícia Castro Gaziri, diretora de projetos do Centro de Design Paraná, uma das entidades realizadoras da Bienal, conta que, além de trazer a mostra para cá, havia o desejo de desenvolver parcerias com o país escolhido, para troca de experiências. "Fizemos contato com a Embaixada da Dinamarca aqui no Brasil e a recepção foi ótima. It’s a small world estava 100% inserida na temática da bienal e era uma mostra recente, que retratava ideias atuais, ao contrário de muitas mostras internacionais, que são mais históricas."

Além da receptividade, a própria cultura de design dinamarquesa contribuiu para a escolha. Para Adélia Borges, curadora geral da Bienal, é possível se inspirar nessa característica para desenvolver ainda mais essa cultura aqui no Brasil. "A Dinamarca é um dos países mais importantes quando se fala de design. Lá, design é sinônimo de qualidade de vida. Aqui há muitas pessoas competentes, mas ainda nos falta esses quesitos de promoção, de divulgação do design."

Esses quesitos apontados por Adélia podem ser observados na própria idealização da mostra. Tina explica que It’s a small world é uma iniciativa do Estado baseada em um relatório que prevê projetos de manutenção da Dinamarca como uma nação criativa no design. "A importância dada ao design na Dinamarca é maior. No Brasil, temos instituições que apóiam, mas ainda não atingimos uma agenda única, um alinhamento de atuação", afirma Letícia.

Tina diz que os dinamarqueses, em geral, têm um estilo de vida sustentável: andam de bicicleta, economizam água e consomem alimentos orgânicos. Mas, de acordo com ela, ainda há problemas, como desperdício. "Ainda não foi possível chegar a modelos viáveis de como poderíamos viver sustentavelmente de uma forma mais eficiente", diz.

A mostra

Tina comenta que o nome It’s a small world faz referência a uma frase usada quando se reencontra um velho amigo em uma situação inesperada. É a frase "Que mundo pequeno", em português. Para ela, o design dinamarquês é esse velho amigo, agora visto em um novo contexto, com novas propostas. "Queremos mostrar que, mesmo globalizado, o mundo não é tão grande, e que talvez devêssemos investir mais em projetos mútuos ao invés de cada país defender seus próprios interesses."

Um dos projetos apresentados é a cortina solar, da designer têxtil Astrid Krogh, pertencente ao cenário It’s your turn (É a sua vez), um dos seis propostos na mos­­tra. Feita com polímeros de células solares, poliés­ter com material condutor de eletricidade e tecido me­­talizado, a cortina capta a energia solar e a transfor­­ma em energia elétrica, que pode alimentar, por meio de fiações, abajures e aparelhos eletrônicos, por exemplo.

O estacionamento para bicicletas Outline, do ce­­nário Linking behaviours (conectando comportamentos), é outra atração. Da agência de design estratégico Goodmorning Technology (GMTN), propõe a reflexão sobre o uso da bicicleta e do carro: um estacionamento para quatro bicicletas, em formato de um carro, faz com que o visitante pense sobre o espaço ocupado e os danos causados por um e por outro na cidade.

O sofá We are Family (Nós somos família), com estrutura de bambu e seis futons de algodão empilhados – que podem transformar-se em seis colchonetes com travesseiro –, pertencente ao mesmo cenário, faz parte da mostra. A ideia de que um objeto é capaz de atender às necessidades de seis pessoas propõe os conceitos de sustentabilidade e coletividade.

Do escritório de arquitetura Lundgaard & Tranberg Architects, o Teatro Real Dinamarquês, inaugurado em 2008, em Copenhagen, foi feito com tijolos de cerâmica especialmente fabricados para o empreendimento. Feitos à mão, esses tijolos enquadram o projeto no cenário Expanding traditions (Tradições crescentes), com o resgate de itens feitos artesanalmente para compor construções de alta tecnologia.

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Serviço A exposição fica aberta até 31 de outubro no segundo piso do Centro de Exposições Horácio Sabino Coimbra, na Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) – Av. Comendador Franco, 1.341, Jardim Botânico. Terças, quintas e sextas-feiras, sábados e domingos, das 13 às 20h30, e às quartas, das 9 às 20h30. A entrada é gratuita e há monitores em todos os horários para auxiliar na visita e explicar os projetos.

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