Quando alugar é a melhor opção

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A arte-educadora Viviane Ca­­margo sempre teve imóvel próprio e, portanto, nunca morou de aluguel. Mas uma simples mudança de rotina na família a levou a procurar um apartamento e mudar de ideia – pelo menos por um período da vida. Há cerca de um ano ela e a filha moravam em um sobrado no Alto Taru­mã, mas a adolescente passou no vestibular de uma faculdade que fica do outro lado da cidade, no Cham­­pagnat. Viviane teve de to­­mar a decisão: mudar de endereço ou convencer a filha a abandonar o curso. "Neste caso, como não me desfiz do imóvel, tudo bem. O problema teria sido se tivesse perdido o que era meu", avalia.A primeira opção pareceu ser a mais lógica para Viviane. "Come­çou a gerar muito estresse. Minha filha tinha de atravessar a cidade para estudar, além das atividades extras. Chegava cansada, irritada. Agora está muito melhor. A faculdade fica a duas quadras de casa", revela. Viviane alugou o sobrado onde morava, dinheiro com o qual paga o aluguel. De extra, somente o condomínio. Gasto a mais, que compensa pelas facilidades e benefícios. "Tenho menos estresse no trânsito, porque chego em dez mi­­nutos no trabalho e faço economia de combustível. Além disso, temos possibilidades de lazer que não tí­­nhamos na casa". Aprovada a localização, a arte-educadora pretende, nos próximos meses, oferecer o so­­brado para venda, para comprar um imóvel na região.

A história relatada mostra o quanto optar entre alugar ou comprar é muito particular e depende de circunstâncias diversas. Apesar de o mercado imobiliário estar aque­­cido, nem sempre a compra é vantajosa, por não ser o momento mais oportuno, avalia o diretor e proprietário da Habitec Imóveis, Luis Fernando Koehler de Ca­­mar­go. Um exemplo típico, explica ele, é quando o candidato a morador está chegando de fora da cidade e ainda não a conhece.

A recomendação é alugar primeiro e depois de um ano ou dois, após conhecer melhor a cidade, comprar definitivamente. "Às ve­­zes a pessoa vem orientada sobre determinado bairro, mas nem sempre será a melhor opção para seu dia a dia e estilo de vida", diz. Ca­­margo conta que atende uma mé­­dia de seis pessoas que vêm de fora a procura de imóvel em Curitiba, com um salto para 20 em períodos de pico, em janeiro e julho.

Análise

Existe uma crença generalizada de que a melhor alternativa é sempre comprar um imóvel, mesmo fi­­nanciado, avalia o economista Ramiro Gonçalez, professor de pós-graduação da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e da Fun­dação Insti­tuto de Administração (FIA) da Universidade de São Paulo (USP). Para ele isso é, provavelmente, parte da herança cultural patrimonialista, onde ter um bem de raiz é parte das conquistas da vida, como ter filho, escrever livro e plantar uma árvore.

Gonçalez afirma, no entanto, que é preciso dar atenção a um aspecto importante mas muitas vezes descartado ou avaliado com pouca profundidade: o ciclo de vida e profissional do futuro mutuário. "Os dados do IBGE mostram que há muita variação no comportamento conforme mudam as fases da vida. Um aspecto são os filhos. Muitos compram seu imóvel próprio com um dormitório. Quando têm filhos, isso implica na busca de imóvel maior. Se for financiado, há todo um trâmite para se adequar."

Matematicamente, retirando todos os aspectos emocionais que envolvem a decisão, Gonçalez considera melhor alugar o imóvel se o valor do aluguel for menor que 0,6% do valor do bem. Isso porque no aluguel o interessado pagará entre 6% e 10% ao ano, o que representa entre 0,5% e 0,8% do valor do imóvel ao mês.