
A pequena fachada rosa de traços neocoloniais se destaca em meio ao cenário urbano da Rua Brigadeiro Franco, quase na esquina com a Comendador Araújo. O contraste que a construção compõe com o conjunto Evolution Towers, que abriga o hotel Pestana, é o registro de um pedaço da história do Paraná e do Brasil reunida e mantida pelo intelectual David Carneiro.
A fachada é o que restou da residência da família Carneiro, que hoje dá lugar ao Espaço Cultural que leva o nome de seu construtor. A construção da casa data do final da década de 1940 e foi inspirada na residência do escritor português Eça de Queiroz – “o ramalhete”. A mudança para o endereço, onde antes funcionava a ervateira da família destruída em um incêndio, ocorreu em decorrência do falecimento de uma das filhas do intelectual, como lembra Elisa Marilia Prado Carneiro, neta de David. “Como todos os lugares da antiga casa [na Rua Desembargador Motta] lembravam a filha, meus avós resolveram construir na Brigadeiro Franco. Esta casa era grande. Do lado direito, olhando de frente, ficavam os quartos e do esquerdo a biblioteca do meu avô”, conta.
O coordenador de pesquisa histórica da Fundação Cultural de Curitiba, Marcelo Sutil, explica que os traços neocoloniais não são característicos do período da construção, mas resultam de um resgate feito por Carneiro ao movimento, que surgiu por volta dos anos 1920 em resposta ao ecletismo vigente até então. “Este é um tipo de arquitetura que praticamente desapareceu das ruas da cidade. Os azulejos na fachada e as pedras ao redor das janelas são algumas referências a este movimento”, diz.
O museu
Depois que a residência ficou pronta, o intelectual investiu na obra “barroca” que abrigaria o acervo do seu museu particular, iniciado nas primeiras décadas do século 20 e um dos maiores do Brasil.
O prédio era composto pelas salas de exposição e pela Capela da Religião da Humanidade, além de um auditório nos quais aconteciam as conferências positivistas, corrente da qual Carneiro era entusiasta.
Após a morte do intelectual, em 1990, o imóvel passou a pertencer ao Banco do Brasil como pagamento de uma dívida da família. Em 1998, um grupo de cinco empresas adquiriu a área que recebeu o conjunto de edifícios. “À época da construção havia somente a casa onde vivia a família. Em um acordo com a prefeitura, parte dela foi demolida para dar espaço ao conjunto, mantendo-se a fachada e a entrada originais”, conta Lilian Franco, gerente geral do Pestana Curitiba.
Como contrapartida à demolição parcial, o município concedeu o uso do local em comodato por 99 anos, desde que mantido o Espaço Cultural David Carneiro. Das três torres do conjunto, duas estão sob a administração do Pestana: a que abriga as instalações do hotel, com 172 quartos, e a corporativa, locada para a rede e onde funciona o espaço cultural. A terceira torre abriga as unidades residenciais do complexo.













