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Criadora foi acusada de realizar conchectomia em mini schnauzers sem anestesia. Imagem ilustrativa. | Reprodução/
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Criadora foi acusada de realizar conchectomia em mini schnauzers sem anestesia. Imagem ilustrativa.| Foto: Reprodução/ Pixabay

Em 2017, Joan Huber, de 82 anos, uma premiada criadora de cães da Pensilvânia, na Costa Leste dos EUA, foi condenada por crueldade contra animais – ela fez cortes, sem aplicação de anestesia, na orelha de alguns filhotes, prática conhecida como conchectomia, que tem fins estéticos. Segundo autoridades, ela teria continuado com a atividade e, agora, enfrenta novas acusações. 

De acordo com a Sociedade para a Prevenção de Crueldade Animal da Pensilvânia (SPCA), cujo departamento de aplicação de lei fiscaliza 23 dos condados do estado, Joan pode pegar até 56 anos de prisão, além de ter de pagar multas que chegam a US$ 120 mil. Tudo isso, por causa de oito acusações de crueldade contra animais, sendo quatro delas classificadas como tortura. 

Um segundo criador de cães acusado de ter ajudado Joan, Brian Beitz, pode ser condenado a cumprir 360 dias de prisão, além de ter que pagar multa de US$ 3 mil, por quatro acusações relacionadas.Ele também perderá o direito a uma licença de manter um canil por, ao menos, 10 anos. 

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No ano passado, Joan foi condenada após descobrirem que ela realizava conchectomia em filhotes, sem anestesia ou licença veterinária. A criadora, no entanto, não foi presa, mas passou a ser monitorada por um oficial de liberdade condicional. Como o caso tomou grandes proporções, Joan se tornou célebre entre alguns criadores, que argumentam que ela foi vítima de leis injustas que condenam uma prática comum na área há décadas. 

Segundo Nicole Wilson, diretora do departamento de aplicação de lei da SPCA, em abril deste ano, Joan pegou quatro filhotes da raça mini schnauzers e os levou até um pet shop, onde teria cortado a orelhas dos cães. Depois, transferiu os cães para o canil de Beitz, chamado de Waverly Kennels, onde, através de algumas pistas, agentes da SPCA encontraram os animais. Os animais, que estavam com as orelhas infeccionadas, foram recolhidos. 

Em uma entrevista, porém, Beitz relatou que estava abrigando os cães porque Joan não poderia mais deixar os animais em seu canil. Além disso, a criadora disse a ele que veterinários teriam cortado a orelha dos cães, e não ela própria. Desde então, os dois não conversaram mais. "Eu não gosto de ser enganado", disse ele. 

Durante uma rápida entrevista por telefone, a criadora alegou que ativistas dos direitos dos animais estariam tentando destruir sua carreira. "Eles querem me crucificar aos 82 anos, e eu não tenho outros meios de me sustentar. Minha reputação é impecável”, disse. 

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Há muito tempo criadores praticam conchectomia em algumas raças de cães - incluindo mini schnauzers - para fazer com que as orelhas fiquem levantadas e pontudas. A Pensilvânia, no entanto, exige que o procedimento seja realizado por um veterinário. Segundo a Associação Americana de Medicina Veterinária, que se opõe à prática, vários países proíbem a atividade, sendo que o procedimento é regulado em nove estados dos EUA. 

Segundo Nicole Wilson, uma testemunha disse à SPCA que os filhotes não foram anestesiados enquanto tinham as orelhas cortadas, e que "choravam e gritavam" durante os procedimento. Além disso, essa pessoa relatou que nenhuma medicação para dor ou antibióticos foi aplicada nos animais após o procedimento. 

"Quando os veterinários realizam esse tipo de procedimento, o animal é totalmente anestesiado", disse Nicole. 

Em uma entrevista em 2017, Joan disse que lançou mão da prática por 50 anos, e que planejava continuar com a atividade em um estado no qual não houvesse regulamentações. Mas, em vez disso, autoridades disseram que ela ficou na Pensilvânia e recrutou ainda mais pessoas para ajudá-la a encobrir o fato de que continuava a realizar o procedimento. 

"Nos parece que outras pessoas estão ajudando ela, num esforço conjunto para que Joan continue. As pessoas ao seu redor, que continuam a dar suporte às suas ações, não estão meramente fazendo vista grossa", disse Nicole. 

Joan Huber é criadora de cães há mais de 60 anos e já foi responsável por mais de 850 campeões no American Kennel Club. Em 2016, foi premiada como a criadora do ano pelo Terrier Group, do Kennel Club, e ficou entre as sete finalistas do maior prêmio do mundo para cães de raça pura, o “Criador do Ano do American Kennel Club”. Os filhotes de mini schnauzer criados por Joan poderiam ser vendidos por US$ 3,5 mil dólares ou até mais. 

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Em seu canil fundado em 2009, Beitz também cria mini schnauzers com linhagem campeã. Nas redes sociais, ele faz publicações sobre suas participações nos programas do Kennel Club. O mais recente foi em agosto, quando levou para casa vários prêmios. 

A organização afirmou que Joan foi proibida de usar seus serviços e que Beitz também está “atualmente impedido”. Além disso, a associação disse que outras medidas podem ser tomadas dependendo do resultado do caso. 

Segundo Nicole, é muito comum que pessoas condenadas por crueldade contra animais "transfiram os animais de um lugar para outro" para continuar suas atividades enquanto tentam se esconder das autoridades. 

"Neste ano, atendemos a três outros casos de pessoas fazendo coisas similares. Em duas outras situações, elas deslocavam animais entre dois locais. E em outro episódio, uma pessoa que mantinha cerca de 50 gatos os colocava em uma van e os distribuía pela vizinhança até que os investigadores deixassem sua propriedade”, disse a diretora. 

John Goodwin, diretor sênior da campanha “Parem com a Reprodução/Criação de Animais”, da Sociedade Humanitária dos Estados Unidos, disse que viu um comportamento semelhante enquanto observava rinhas de cães há alguns anos. 

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Quando os cães eram transferidos, geralmente era porque os criadores descobriram que um “local de luta” fora invadido. "Eles temiam que outros criadores do condado pudessem ser pegos e tentavam, ao menos, deslocar os cães que tinham cicatrizes que poderiam ser analisadas como evidência forense". 

Alguns criadores antigos, incluindo aqueles que defendem Joan Huber, argumentam que o problema está no número crescente de leis que prejudicam tradições antigas. De acordo com Nicole Wilson, o problema é que algumas pessoas acham que as leis de bem-estar animal não se aplicam às atividades que realizam. 

"As pessoas costumam dizer: 'é assim que sempre fizemos'. Bem, adivinhe? A tecnologia melhorou, as práticas médicas e veterinárias melhoraram. Por que você acha que esse procedimento antigo não teria mudado em 20 anos? Mas eles tentam defender o indefensável".

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