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Imagem ilustrativa. | Reprodução/Flickr/Ozzy Delaney
Imagem ilustrativa.| Foto: Reprodução/Flickr/Ozzy Delaney

Passados 12 anos, o júri do caso que poderia ser o primeiro de um grupo neonazista no Brasil ainda não tem data para acontecer. O julgamento, inicialmente marcado para junho de 2013, foi suspenso porque dois dos quatro réus não foram localizados. 

Nos últimos quatro anos, o processo mudou de promotores, alguns réus trocaram de advogados e as três vítimas preferiram esquecer o caso e permanecer em silêncio. Segundo o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, o processo aguarda a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) sobre dois recursos —um apresentado pelo Ministério Público e outro por advogados dos réus. 

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Os defensores pedem que a acusação mude para lesão corporal —o que tiraria o processo do júri e o levaria para um juiz. 

Já a promotoria defende que ele permaneça nas mãos dos jurados. "O pedido que fizemos no STJ é para que a acusação de tentativa de homicídio, para aqueles que participaram ativamente do ataque, seja mantida. No Tribunal do RS, ela permaneceu para apenas um dos réus", diz a promotora do caso, Andrea Machado. 

Para ela, a demora na resolução acontece devido ao tamanho do processo, já que são 14 acusados – quatro por tentativa de homicídio e o restante por outros crimes. 

"O processo andou relativamente rápido no primeiro grau, mas com os recursos e o fato de que foi ficando muito grande, muitas peças sendo adicionadas, acabou parando", diz ela.

Ataque

O caso aconteceu na noite de um sábado, 8 de maio de 2005. Três rapazes estavam reunidos na esquina das ruas República e Lima e Silva, no coração da Cidade Baixa, em Porto Alegre. Um ponto de encontro tradicional de jovens e universitários. Dois deles usavam quipás na cabeça – espécie de chapéu na religião judaica. 

A data marcava 60 anos do fim da Segunda Guerra. No meio da conversa, um dos jovens com quipá chamou a atenção dos outros dois. Um grupo de pessoas, com idades entre 15 e 30 anos, cabeças raspadas e usando coturnos pretos com cadarços brancos, aproximou-se. Um dos membros apontou para os jovens: "tem judeu lá". 

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Em questão de segundos, os três começaram a levar pontapés, socos e facadas. Uma das vítimas terminaria perdendo um rim e 80% do pulmão esquerdo. 

O inquérito da Polícia Civil identificou 14 responsáveis pelo ataque. O processo ouviu 16 testemunhas de acusação e 26 de defesa. Os agressores foram indiciados por formação de quadrilha, tentativa de homicídio qualificado e racismo. Quatro deles chegaram a ser presos preventivamente, mas foram liberados em seguida. 

Uma das vítimas foi D. (que pediu para não ser identificado). Ele disse à Folha que cansou de esperar o julgamento. "Eu não sei se estaria disposto a passar por todas as audiências de novo. Passou tanto tempo, eles já esqueceram quem eu sou. Não me importo que eles estejam soltos, desde que não repitam isso com ninguém".

Crescimento

Na última década, as células neonazistas no Brasil cresceram mais que a média da população. O país tem hoje entre 25 mil e 30 mil pessoas em grupos organizados e cerca de 250 mil que consomem material nazista com regularidade. O cálculo é da pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Adriana Dias, que levantou o número com base em downloads de fóruns online. 

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Segundo ela, na época do ataque no RS, o neonazismo brasileiro estava restrito aos três estados do Sul, São Paulo e começava a aparecer no Rio de Janeiro. Doze anos depois, ele já está espalhado por todo o Centro-Oeste, com presença forte em Goiânia e no Distrito Federal. 

"As células aqui ainda são menores do que as do exterior. O nosso racismo é voltado para o negro, o judeu e o gay, mas principalmente para o nordestino", analisa Dias.

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