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Justiça proíbe Havan de influenciar voto de funcionários

Em “ato cívico”, proprietário da empresa falou a seus funcionários por que eles deveriam votar em Jair Bolsonaro (PSL). Empresários podem se manifestar politicamente, mas devem tomar cuidado para atitude não tomar contornos de coação

Estátua da Havan localizada na Linha Verde, em Curitiba (PR). | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo/Arquivo
Estátua da Havan localizada na Linha Verde, em Curitiba (PR). (Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo/Arquivo)

A Justiça do Trabalho de Santa Catarina aceitou o pedido de tutela antecipada do Ministério Público do Trabalho (MPT), protocolado na terça-feira (2), e proibiu o dono das lojas Havan, Luciano Hang, de coagir e adotar medidas que possam “influenciar o voto” dos funcionários da casa. Como havia proposto o MPT, caso a determinação não seja cumprida, a empresa pagará uma multa de R$ 500 mil. A decisão é do juiz Carlos Alberto Pereira de Castro, da 7ª Vara do Trabalho de Florianópolis. 

Leia: Patrão pode expor posicionamento político aos funcionários?

“Não cabe ao empregador, no ambiente de trabalho de seus empregados, promover atos políticos em favor ou desfavor de candidatos ou agremiações, fazendo-os de ‘claque’. Nem há como ponderar que a participação dos empregados é livre e espontânea, na medida em que o eventual não comparecimento, ainda mais durante o expediente, poderia ser facilmente constatado e penalizado com represálias injustas”, escreveu o magistrado. 

O magistrado ainda determinou que Hang providencie uma “publicação, nas mesmas redes sociais em que foram publicados os vídeos objeto da presente demanda [Facebook e Twitter], de um outro vídeo, desta feita contendo o inteiro teor da presente decisão, até o dia 5 de outubro”. 

 A empresa também terá que divulgar em todas as lojas e unidades administrativas da rede no país o teor da decisão judicial, devendo “comprovar, por meio de fotografias tiradas em cada estabelecimento e juntadas aos autos”, o cumprimento da ordem. 

O caso

Na última segunda-feira (1°), o empresário pediu em vídeo de canal de comunicação interna que os colaboradores da rede votassem no candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL). 

No vídeo, Hang diz que se algum candidato “de esquerda” vencer a eleição, ele vai repensar o plano de crescimento da empresa e talvez venha a fechar algumas lojas. “Se não abrir mais lojas e se nós voltarmos para trás, você está preparado para sair da Havan? Você, que sonha em ser líder, gerente, crescer com a Havan, já imaginou que tudo isso pode acabar no dia 7 de outubro?”, diz ele na gravação. 

Confira: Patrão pode monitorar funcionários, mas só até certo ponto

No mesmo dia, o empresário realizou um “ato cívico” com os funcionários da empresa, transmitido ao vivo em sua página do Facebook, pedindo o voto em Bolsonaro. Hang vestia uma camiseta com o nome do candidato.

Procurada pelo InfoMoney, a assessoria de imprensa da Havan disse que não comentaria o caso porque Hang ainda não teria sido notificado. Nesta manhã, ele escreveu em seu perfil do Twitter que “o Ministério Público do Trabalho já fez a denúncia contra mim e nossa empresa já colocaram na imprensa agora só falta sermos notificados por falar a verdade para nossos colaboradores. Isto é uma piada vocês não acham?? [sic]”.

Liberdade de manifestação

Especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo em reportagem sobre o tema afirmaram que não é proibido que patrões exponham seu posicionamento político aos funcionários. O problema é quando a atitude soa como coação, no sentido de sinalizar que se o candidato “X” não for eleito, se os empregados não votarem nesse candidato, pode haver o corte de benefícios ou até mesmo postos de trabalho, por exemplo.

“A coação do empregador ao empregado extrapola os limites do poder diretivo patronal [de organizar e definir como serão realizadas as atividades da empresa], e, portanto, qualquer medida tomada pelo empregador com base nessa coação é considerada ilícita ou nula”, afirmou Maíra Marques da Fonseca, doutora em Direito pela USP. 

Cláudia Abud, advogada e doutora em Direito do Trabalho pela PUC-SP, lembrou que patrão e empregado não se encontram em situação de igualdade no ambiente de trabalho. O empregador que coage, seja de forma velada ou explícita, o funcionário a exercer uma postura política, está violando direitos.

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