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Imagem ilustrativa (Reprodução/Designed by Freepik)| Foto:

Melhorar o rendimento escolar, aproximar adolescentes em situação de vulnerabilidade da universidade e, consequentemente, mantê-los longe da criminalidade e das drogas. Esse é o objetivo do projeto Uniforça, desenvolvido desde o segundo semestre de 2018 pelo Ministério Público do Paraná (MPPR) em parceria com universidades de Curitiba (PR) e com a Fundação de Ação Social (FAS). Num primeiro momento, o público-alvo era de jovens que se encontram em acolhimento institucional, mas o programa foi estendido também a menores que respondem por atos infracionais de pequena gravidade.

A triagem dos adolescentes que participam do Uniforça é feita pelo MPPR e pela FAS, com base em critérios como desempenho e frequência escolar. O funcionamento é simples: duas vezes por semana, os estudantes vão até as universidades parceiras para receber acompanhamento pedagógico em português e matemática, numa espécie de aula de reforço. Essas aulas são ministradas por universitários, orientados por um professor.

Nesse semestre, as universidades confirmadas no projeto são a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e a Universidade Tuiuti do Paraná (UTP).

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“Nos últimos anos, um dos principais problemas verificados pelo Ministério Público nas casas de acolhimento era relacionado aos adolescentes. Primeiro porque eles não se encaixam no perfil mais procurado pelos adotantes, que querem crianças de até 10 anos. E são jovens que tiveram anos de problemas com frequência escolar”, afirma a promotora de Justiça Mariana Bazzo, coordenadora do projeto. “No fim, eles estão regularmente matriculados na escola, mas não frequentam, recusam-se a ir. Aí, como reflexo, vêm as drogas, os atos infracionais”.

A promotora conta que foram identificados problemas de aprendizagem básicos, como dificuldade em ver as horas. Por conta disso, esses adolescentes acabavam perdendo até oportunidades de estágio, como os do programa Jovem Aprendiz. A ideia de contar com a ajuda de universidades para melhorar o cenário soou ao MPPR como uma via de mão dupla. Ao mesmo tempo em que os adolescentes precisam desse acompanhamento, os universitários, em especial os matriculados em licenciaturas, poderiam colocar em prática os conhecimentos adquiridos durante o curso.

Professor do Núcleo de Direitos Humanos da PUCPR, Cezar Bueno de Lima explica que para que esses alunos recebam um tratamento personalizado, as turmas não podem ser grandes. Até porque os adolescentes apresentam diferentes dificuldades e desenvolvem uma relação muito pessoal com os universitários que ministram os encontros. Além de aulas de português e matemática, a PUCPR também transmite noções de direitos humanos aos adolescentes.

“É uma experiência que eles não vão ter na escola normal. É um enfoque muito especializado, individualizado. Acho que esse projeto é um exemplo da função social das universidades. Às vezes, o estudante não rende na escola, mas não porque não queira estudar, mas porque tem problemas que precisam ser diagnosticados. A gente tem oportunidade de fazer isso aqui, de ajudar o jovem a superar obstáculos”, diz Lima.

Uma chance para sonhar

Mariana Bazzo conta que boa parte dos jovens que participaram do Uniforça no ano passado conseguiram recuperar suas notas na escola e passar de ano. Para além disso, a promotora acredita que o projeto é importante porque faz com que os jovens conheçam um mundo que vai além das paredes das instituições de acolhimento. Mariana diz ser esse o grande diferencial do programa, porque faz com que os adolescentes em situação de vulnerabilidade conheçam o ambiente universitário e, ao se deparar com jovens não muito mais velhos que eles na faculdade, possam sonhar com o Ensino Superior.

“É muito bonito porque é uma quebra de barreiras entre classes sociais. São os jovens mais vulneráveis de Curitiba tendo contato com jovens que têm oportunidade de estudo”, opina.

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No mesmo sentido, Cezar Bueno de Lima diz que, normalmente, seria muito difícil para esses adolescentes em situação de abandono e pobreza terem uma oportunidade de aprendizagem parecida com a ofertada no projeto, bem como de desenvolver uma relação humana tão próxima com um docente.

“É muito gratificante e significativo. Nosso esforço é aumentar a capacidade desse curso, porque é um meio de vincular esses adolescentes a uma oportunidade de ensino de qualidade”, finaliza o professor do Núcleo de Direitos Humanos da PUCPR.

Universidades interessadas em participar devem entrar em contato com o Ministério Público do Paraná pelo telefone (41) 3352-0885.

Universitários transmitem noções de cidadania a jovens de escolas públicas

Outro projeto ativo em Curitiba que aproxima a universidade dos jovens que ainda estão na escola é o Formação Constitucional nas Escolas, que recentemente também firmou parceria com o Ministério Público do Paraná. Criado em 2016 por alunos de Direito do Centro Universitário Curitiba (Unicuritiba), o projeto tem como objetivo transmitir noções de Direito Constitucional e cidadania a estudantes de Ensino Médio de escolas públicas da capital paranaense e região metropolitana. Tudo bem informal e sem um pingo de “juridiquês”, garante uma das coordenadoras do projeto, a universitária Ana Beatriz Gontijo.

“Nós explicamos aos alunos o que é uma Constituição, como funciona um Estado democrático, quais são os deveres e direitos dos cidadãos, nossas responsabilidades, a importância do voto”, explica Ana, que conta que os encontros são conduzidos mais como um grande debate do que uma aula tradicional. “A questão da corrupção também é trabalhada com eles. A gente fala sobre a corrupção desde os atos maiores, dos governantes, até coisas do dia a dia, como colar na prova. Explicamos como as pequenas corrupções podem se tornar grandes corrupções, e qual é o impacto disso para a sociedade”.

Ana afirma que não há um critério objetivo de escolha para as instituições participantes. Os voluntários do projeto – cerca de 70 atualmente – entram em contato com os colégios, conversam com os professores e apresentam o Formação Constitucional. Segundo ela, em 2018 cerca de cinco mil estudantes da rede pública foram impactados.

Além da aula, os estudantes também têm a oportunidade de aprender por meio do Jogo da Eleição, aplicado ao fim dos encontros. Desenvolvido pelo Instituto Mais Cidadania, fundado por professores do Unicuritiba e que também se tornou parceiro do Formação Constitucional, o jogo de tabuleiro simula uma corrida presidencial.

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“Ao longo do jogo, os alunos simulam o processo eleitoral, onde podem usar de meios lícitos ou ilícitos para chegar ao cargo. Só quando eles chegam ao final é que a gente explica que há uma prestação de contas, e que tudo o que eles fizeram durante a campanha vai ser descoberto. Se usaram de meios ilícitos, vão ser pegos e se tornar um candidato ficha suja, não podendo assumir o posto”, explica.

Assim como no caso do Uniforça, o Formação Constitucional beneficia tanto quem participa, enquanto aluno impactado, quanto quem desenvolve. Além de receber um retorno muito bom por parte das escolas, Ana conta que o projeto despertou a paixão pela sala de aula em muitos universitários voluntários – inclusive nela.

“Eu aprendo muito mais com os adolescentes do que eles comigo, eu tenho certeza. Ensinar é muito gratificante. O conhecimento, o tempo e a atenção são os bens mais valiosos que a gente tem. Nós falamos que o nosso projeto é uma sementinha, plantada para que essa árvore cresça e gere frutos. Eu vejo nos jovens a nossa maior oportunidade de mudança. É a educação que vai mudar o Brasil”.

Quer conhecer melhor o projeto? Acesse a página deles no Facebook.

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