Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Esforço internacional

140 milhões de euros: como cidade devastada pelo Estado Islâmico conseguiu se reerguer

Trabalhadores iraquianos realizam manutenção na igreja al-Tahera al-Kubra (a Grande Igreja Imaculada) antes da visita do Papa Francisco, em março de 2021 (Foto: EFE/EPA/AMMAR SALIH)

Ouça este conteúdo

A cidade iraquiana de Mossul foi palco de uma das batalhas mais destrutivas da década passada e viu grande parte de sua estrutura ser reduzida a escombros, mas com um projeto liderado pela Unesco e financiado por diferentes países, mais de 140 milhões de euros foram investidos em sua reconstrução. O processo, que envolve desafios políticos, econômicos e sociais, busca não apenas restaurar prédios históricos, mas também devolver aos moradores a identidade cultural e a esperança de um futuro estável.

Mossul é a segunda maior cidade do Iraque e ainda carrega as marcas da guerra e da brutal ocupação do Estado Islâmico (EI). Entre 2014 e 2017, o grupo extremista transformou a cidade em um bastião de sua ideologia, impondo um regime de terror e destruindo parte significativa de seu patrimônio histórico. A batalha para retomar Mossul, conduzida pelo Exército Iraquiano com apoio de forças internacionais, foi uma das mais intensas da última década, deixando bairros inteiros em ruínas e um rastro de devastação que exigiria anos de reconstrução.

Esforços internacionais e desafios na reconstrução

Após a libertação de Mossul, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) lançou, em 2018, a iniciativa "Reviver o Espírito de Mossul". O projeto visa restaurar locais históricos e incentivar o retorno dos moradores, priorizando a reconstrução da famosa mesquita e da Igreja Al-Tahera. Com apoio financeiro dos Emirados Árabes Unidos e de outras nações, a Unesco tem liderado a restauração da infraestrutura urbana e patrimonial da cidade, mobilizando especialistas e arquitetos locais para garantir que as obras respeitem as características originais dos edifícios.

De acordo com a diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay, 80% da Cidade Velha estava completamente destruída quando a equipe de trabalho chegou ao local em 2018, o que tornou o projeto ainda mais complexo, trazendo desafios imensos para a reconstrução da cidade iraquiana. Mais de 140 milhões de euros já foram investidos na empreitada, mas o custo estimado para restaurar Mossul ultrapassa US$ 2 bilhões, com financiamento vindo de diversas fontes internacionais. Além da necessidade de reconstruir casas, escolas e hospitais, há o desafio de eliminar explosivos remanescentes da guerra.

Além disso, a instabilidade política e a presença de milícias na região também dificultam a retomada plena da vida na cidade. Ainda assim, milhares de famílias retornaram para reconstruir suas vidas, impulsionadas pelo desejo de retornar à sua cidade natal.

Delegação da Unesco inspeciona a destruição na Mesquita de al-Nuri, na área da Cidade Velha, no lado oeste da cidade de Mossul, em 2019, dois anos depois que a província de Nínive foi recapturada dos militantes do Estado Islâmico (EI), no Iraque. (Foto: EFE/EPA/AMMAR SALIH)

Importância histórica e cultural de Mossul

Historicamente, Mossul foi um dos centros culturais e comerciais mais importantes do Oriente Médio. Localizada às margens do rio Tigre, a cidade serviu como um ponto estratégico para rotas comerciais entre a Ásia, o Mediterrâneo e a Europa. Seu patrimônio cultural incluía a icônica Mesquita Al-Nuri, de mais de 800 anos, e a antiga cidade de Nínive, uma das capitais do Império Assírio, a qual sempre foi um símbolo da diversidade religiosa e cultural, com comunidades de árabes, curdos, assírios, yazidis e cristãos vivendo lado a lado ao longo dos séculos.

A reconstrução de Mossul é um passo crucial para resgatar sua identidade histórica e reafirmar a coexistência pacífica entre diferentes comunidades. Para os moradores e para o mundo, a revitalização significa a superação de um dos capítulos mais sombrios da história recente, reforçando a importância da cultura e da memória na reconstrução de sociedades devastadas pela guerra.

VEJA TAMBÉM:

Use este espaço apenas para a comunicação de erros