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Milhares de cidadãos de Berlim Oriental se reúnem no Muro de Berlim, perto do Portão de Brandenburgo (ao fundo), após a queda do Muro, 10 de novembro de 1989
Milhares de cidadãos de Berlim Oriental se reúnem no Muro de Berlim, perto do Portão de Brandenburgo (ao fundo), após a queda do Muro, em 10 de novembro de 1989| Foto: Peter Kneffel/DPA/AFP

O Muro de Berlim - tanto um símbolo poderoso quanto uma barreira física que dividiu o Oriente comunista e o Ocidente democrático após 1961 - caiu 30 anos atrás. Imagens de jovens alemães martelando o odiado muro que dividia a Europa comunista e a ocidental, depois dançando vitoriosos no Portão de Brandenburgo, eram apenas algumas das imagens emocionantes daquele ano que parecia ser milagroso.

O comunismo entrou em colapso primeiro no Leste Europeu em 1989-1990 e depois na União Soviética em 1991.

Em pouco tempo, a União Soviética se dissolveu, assim como a Iugoslávia e a Tchecoslováquia. A Alemanha se reunificou. Governos de toda a região realizaram eleições livres. Muitos começaram a esperar que essas sociedades pudessem se tornar democracias florescentes e economias de mercado. O Leste Europeu se libertou do jugo soviético, adotou os ideais ocidentais de mercado e democracia e procurou "retornar à Europa".

O mundo celebrou essas mudanças não apenas como vitórias para a democracia e o livre mercado, mas também como o triunfo da influência ideológica e política do Ocidente sobre o domínio soviético. Muitos analistas de ambos os lados do Atlântico deram créditos ao presidente Ronald Reagan por seguir políticas rigorosas que derrubaram a economia soviética. Alguns apontaram para o histórico discurso de Reagan em 1987 em Berlim, quando ele exigiu que o líder soviético Mikhail Gorbachev "derrubasse este muro".

A democracia, os mercados e as reformas administrativas prosperaram e a influência do Ocidente liderou o caminho. Em muitos países, elites de todo o espectro político se uniram para implementar reformas de mercado e apoiar a adesão à União Europeia. Os governos chegaram a copiar instituições políticas ocidentais, como regras eleitorais, agências reguladoras ou administrações regionais.

Onde não o fizeram, os Estados Unidos e a UE usaram incentivos para estimular as reformas. Em reconhecimento a esses novos compromissos, dez ex-países do bloco soviético aderiram à Otan de 1999 a 2004 e outros três seguiram. Em 1 de maio de 2004, oito desses países também se uniram à UE na primeira onda de adesão e mais três aderiram até 2013.

Mas o senso de vitória durou pouco. Três décadas após a euforia da queda do Muro de Berlim, a erosão democrática - e não a consolidação democrática - aparece nas manchetes da região. O partido no poder na Hungria tem desmantelado as instituições da democracia liberal desde 2010 e consolidado seu domínio do poder de uma maneira que faria seus predecessores comunistas autocráticos corarem de inveja.

O partido do governo da Polônia deseja seguir e estabelecer uma "Budapeste no Vístula". Observadores acusam Andrej Babis, primeiro-ministro da República Tcheca, de se debater entre movimentos pró-autocráticas e acordos corruptos. Centenas de milhares em Praga protestaram contra as políticas de seu governo neste outono.

A Rússia de Putin, e não os Estados Unidos ou o Ocidente, é a nova influência na região, tanto política quanto militarmente. Putin alia-se a partidos políticos, financia políticos populistas, interfere em eleições e até ajudou a lançar golpes.

A invasão russa da Ucrânia e a anexação da Crimeia em 2014 evocaram a pior crise entre leste e oeste desde o final da Guerra Fria e deixaram mais um conflito congelado nas fronteiras da Rússia. Líderes como o presidente tcheco Milos Zeman ou o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán repetem satisfeitos os pontos de vista de Putin e defendem a "democracia iliberal".

Certamente, há razões para otimismo sobre o futuro da democracia na região: a eleição de um presidente anticorrupção na Eslováquia, os esforços anticorrupção da Romênia e o florescimento contínuo das repúblicas bálticas, apesar de seu vizinho enorme e hostil. Mas a democracia, o livre mercado e as reformas administrativas não são mais o desfecho claro da Europa pós-comunista.

Então, o que causou esse retrocesso? O domínio das ideias liberais tornou-se vítima de seu próprio sucesso.

Primeiro, o consenso das elites políticas na Europa pós-comunista sobre reformas de mercado e adesão à UE ironicamente alimentou o ressurgimento antidemocrático. Sua unanimidade significava que havia poucos grandes críticos desses projetos internamente. A exceção foram partidos em grande parte populistas, que condenavam a adesão à União Europeia e à OTAN como entrega de soberania. No período que antecedeu a adesão, os partidos populistas se viram na margem política, rejeitados como extremistas e antidemocráticos.

No entanto, uma vez que alguns partidos políticos tradicionais se mostraram corruptos e incompetentes, seus críticos populistas ganharam novo destaque e credibilidade. Em vários países, foram eleitos para o governo - e rapidamente começaram a minar as instituições democráticas em nome da defesa dos interesses nacionais. Como resultado, os populistas iliberais agora estão corroendo a democracia, mesmo em países que já foram os garotos-propaganda das primeiras reformas democráticas, como Polônia e Hungria.

Segundo, o aparente triunfo da democracia e dos mercados na Europa levou à complacência na UE e nos Estados Unidos. A UE tomou conhecimento do retrocesso democrático na Polônia e na Hungria, mas pouco fez para sancionar esses governos erráticos.

Por sua vez, os Estados Unidos subestimaram o potencial disruptivo da Rússia. George W. Bush descreveu Putin em várias ocasiões como ingênuo e autor de argumentos "juvenis". Apesar de sua campanha prometer uma linha dura com a Rússia, Bush não tomou nenhuma ação decisiva quando a Rússia invadiu a Geórgia em 2008. O presidente Obama então menosprezou a invasão russa da Ucrânia em 2014 como uma "potência regional" atacando em momento de fraqueza.

Analistas debatem quem "perdeu a Rússia". Mas este é um argumento equivocado; o Ocidente nunca "teve" a Rússia. Os governos da Rússia nunca investiram nos projetos de democracia e mercado do Ocidente. Até o primeiro presidente da Rússia, Boris Yeltsin, que o governo Clinton elogiou por promover os interesses dos EUA na década de 1990, não tinha compromisso com eleições justas e um mercado livre. Yeltsin deu poder aos oligarcas que lucravam com a transição estagnada da Rússia para o capitalismo - e escolheu o profundamente iliberal Vladimir Putin como seu sucessor.

O colapso do Muro de Berlim significou enormes novas oportunidades de construção de mercados mais amplos e novas democracias - mas também permitiu o estabelecimento de regimes iliberais e a influência ressurgente da Rússia. Como estamos aprendendo em todo o mundo, a democracia não é uma conquista irrevogável. Esse é o caso especialmente dos países recém-democratizados à sombra de um poder agressivo e autocrático. A democracia, como os muros, deve ser fortificada para persistir.

*Grzymala-Busse é professora Michelle e Kevin Douglas de Estudos Internacionais na Universidade de Stanford e autora de "Nações sob Deus: como as igrejas usam a autoridade moral para influenciar políticas" (Princeton University Press, 2015). Jones é professora de ciência política e diretora do Instituto Internacional da Universidade de Michigan. Ela fundou e dirige o Digital Islamic Studies Curriculum. Seu livro mais recente é "Islã, Sociedade e Política na Ásia Central" (University of Pittsburgh Press, 2016).

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