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Perto da zona desmilitarizada entre as Coreias, estudantes exibem uma bandeira gigante com o mapa das Coreias unificadas e com a frase “nós vamos tornar a península coreana pacífica com nossas próprias mãos” | JUNG YEON-JE
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Perto da zona desmilitarizada entre as Coreias, estudantes exibem uma bandeira gigante com o mapa das Coreias unificadas e com a frase “nós vamos tornar a península coreana pacífica com nossas próprias mãos”| Foto: JUNG YEON-JE AFP

O Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, disse hoje durante coletiva em Cingapura que o presidente americano, Donald Trump, está "totalmente preparado" para a reunião de cúpula que fará com o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, por volta das 9h desta terça-feira (22h no horário de Brasília). 

No encontro, que terá início às 22h desta segunda-feira pelo horário de Brasília, Trump e Kim irão discutir sobre a desnuclearização da Coreia do Norte em Sentosa, ilha que faz parte da cidade-Estado de Cingapura.  

Segundo Pompeo, as discussões de Washington com Pyongyang estão progredindo rapidamente e deverão ser concluídas antes do esperado. Porém, na semana passada, as duas nações buscaram reduzir as expectativas de um avanço imediato pós-encontro. Trump descreveu a cúpula como o primeiro passo no que poderia ser um processo demorado, abrindo a possibilidade de convidar Kim para os Estados Unidos para uma segunda reunião. Em uma indicação de que Kim tem a mesma opinião, a mídia estatal norte-coreana descreveu um processo de normalização das relações com os Estados Unidos que se desdobraria com o tempo.

Devido à importância histórica e os turbulentos acontecimentos que levaram os dois líderes e se encontrar nesta terça-feira, elencamos quatro perguntas e respostas para explicar o contexto e o que está em jogo em Cingapura.

Qual o objetivo do encontro?

O presidente dos EUA e o ditador da Coreia do Norte vão discutir o fim do programa de armas nucleares da Coreia do Norte. A expectativa é que eles concordem com a assinatura de um documento de acordo de paz que coloque fim oficial à Guerra da Coreia, interrompida há mais de seis décadas com um armistício. O conflito durou três anos e colocou em lados opostos a aliança EUA- Coreia do Sul e China-Coreia do Norte.

Para que essa expectativa se confirme, é preciso que eles cheguem a um acordo sobre o que entendem por desnuclearização da península coreana. Para os EUA, o ato significa uma Coreia do Norte abrindo mão totalmente de seu programa nuclear, de suas armas nucleares já feitas e da tecnologia de enriquecimento de materiais que desenvolveu - e que tudo isso seja verificável.

Já para os norte-coreanos, desnuclearização implica em uma península coreana livre de armas nucleares em que Pyongyang cede suas armas nucleares e os EUA se comprometem a retirar suas armas nucleares da vizinha Coreia do Sul. Além disso, o desmonte de sua tecnologia para um eventual uso pacífico de energia nuclear seria outro tema.

Como estão as negociações?

As conversas para um eventual acordo sobre armas nucleares já estavam em andamento desde o mês passado, porém, as tratativas não avançaram muito. Um obstáculo fundamental tem sido o que virá primeiro: os norte-coreanos querem uma garantia de segurança, o que significa uma promessa de que os Estados Unidos não atacarão ou tentarão derrubar Kim; os americanos querem um compromisso substancial de desnuclearização verificável.

Nesta segunda-feira (11), o veterano diplomata americano Sung Kim e o principal diplomata norte-coreano para assuntos dos EUA, Choi Sun-Hee ainda estavam tentando redigir uma declaração conjunta, estabelecendo as áreas de entendimento entre Trump e Kim. Normalmente, essas declarações pré-preparadas são elaboradas muito antes das cúpulas. Entretanto, o secretário de Estado, Mike Pompeo, afirmou nesta segunda-feira que as discussões estão progredindo “mais rápido do que o esperado”.

O que pode acontecer?

Em um extremo, o otimista, o encontro pode ser um sucesso imediato. A cúpula pode se estender além dos quinze minutos de fotos e holofotes da imprensa, e resultar em um acordo histórico, que envolva o estabelecimento de relações e um acordo sobre o programa nuclear. 

Sendo pessimista, o encontro pode ser um desastre de relações públicas para todos os envolvidos. Sem concessões de nenhum lado, clima de desconfiança ou imediatismo, que levem à uma mera declaração protocolar ou, pior, nova troca de acusações; em nota anterior, Bolton foi chamado de “repugnante” pela Coreia do Norte. Trump poderia ser pressionado no cenário político doméstico, véspera de eleições para o Congresso, com os democratas tentando transmitir a ideia de que ele foi enganado por Kim. Por sua vez, Kim poderia ficar ainda mais isolado e ser visto como não confiável; ainda, ser visto como ingênuo pela linha-dura militar da Coreia do Norte. 

No meio do caminho está o provável desfecho. Nas palavras do próprio Trump, dia 12 de junho será o “início de uma relação” e “começo de um processo”. Apertos de mão e sorrisos perante as câmeras, ambições pouco imediatas na mesa. Um documento que, por exemplo, abra o caminho para o fim simbólico da Guerra da Coreia e estabeleça um quadro para os próximos passos.  

O que antecede o encontro?

Desde que Trump assumiu a presidência dos EUA,  a relação com o ditador norte-coreano foi de altos e baixos. Até os primeiros meses de 2018, a troca de farpas e ameaças entre eles era constante. Enquanto Kim Jong-un seguia adiante com seus testes balísticos, Trump buscou ampliar as sanções contra a Coreia do Norte - e contou com a ajuda da China para isso. 

Em setembro de 2017, a Coreia do Norte fez o seu sexto teste nuclear e, logo depois, Kim declarou que seu país tinha alcançado o objetivo de ser uma nação nuclear, com mísseis que poderiam atingir os Estados Unidos. Trump, por sua vez, prometeu “fogo e fúria” contra Pyongyang e o “homenzinho foguete”, como chamou Kim na época.

A relação começou a tomar outro rumo no início de 2018, quando a Coreia do Norte decidiu participar das Olimpíadas de Inverno de PyeongChang, na Coreia do Sul, dando os primeiros sinais de que estaria disposta a dialogar com o resto do mundo. As demonstrações, ainda que ingênuas, de aproximação entre as Coreias — delegações dos países apareceram na cerimônia de abertura com uma bandeira que trazia o mapa da península coreana unificada — foram o ponto de partida para um posterior encontro entre Kim Jong-un e o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, em abril deste ano. Foi o primeiro em 11 anos.

Em março, Trump chocou o mundo ao aceitar o convite de Kim Jong-un para que se encontrassem pessoalmente. Com esforços diplomáticos dos dois países e da Coreia do Sul, a cúpula foi marcada para 12 de Junho, em um resort de luxo na ilha de Sentosa, em Cingapura.  

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