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Estudo

Livro analisa o que faz uns países serem ricos e outros ficarem pobres

Capa do livro Why Nations Fail (Por que as nações falham), lançado neste mês nos EUA.

Com linguagem simples e ampla pesquisa histórica, o livro Why Nations Fail (Por que as nações falham, da editora Crown Business, se debruça sobre um assunto que desperta o interesse de muitos estudiosos há décadas: o que faz alguns países serem ricos e outros, pobres?

A proposta dos autores é ambiciosa, mas eles apresentam uma teoria forte e com argumentos de peso nas 546 páginas da publicação. Daron Acemoglu — economista e professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) — e James Robinson — economista, cientista político e professor da Universidade de Harvard — apontam que as instituições são a principal razão para as diferenças entre uns e outros países.

A teoria se baseia na divisão das instituições entre inclusivas, que encorajam a participação da população nas atividades econômicas, e extrativas, cujas riquezas beneficiam um pequeno grupo. Eles argumentam que as instituições políticas inclusivas acabam criando instituições econômicas inclusivas, no chamado ciclo virtuoso.

O argumento é que geografia, clima e cultura não explicam as diferenças entre prosperidade e pobreza, como buscam demonstrar ao apresentar as cidades de Nogales — que no passado foram apenas uma, mas hoje estão divididas por uma cerca, uma nos EUA e a outra no México. A Nogales norte-americana tem renda média de US$ 30 mil, enquanto na sua vizinha esse valor é de um terço. Na primeira Nogales, há serviços públicos, educação e os empresários têm incentivos para investir, enquanto na segunda muitos adolescentes não estão na escola, a saúde pública não é das melhores e há muita burocracia para investir.

Para o professor da Universidade de Har­­­­vard James Ro­­bin­­son, um dos autores do livro Why Nations Fail (Por que Nações Falham, em tradução livre), a mudança política é o caminho para o crescimento econômico. No livro — lançado neste mês nos Estados Unidos e com edição brasileira prevista para agosto —, ele e Daron Acemoglu, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), estudam as razões que separam países prósperos de pobres. É a partir da política e das instituições de um país que se garantem as condições e os incentivos para a economia.

O livro separa as instituições entre as inclusivas — que garantem direitos e estimulam investimentos — e as extrativas — que até produzem riqueza, mas a restringem a um pequeno grupo. Os países com instituições inclusivas têm mais prosperidade. O crescimento de países com instituições extrativas é até possível, mas não é sustentado, segundo ele. Por isso, duvida da expansão da China.

"Em algum momento, (o Partido Comunista Chinês) terá de escolher entre manter o poder e fazer algo necessário para encorajar o crescimento econômico", explica Robinson, em entrevista por e-mail à Agência O Globo.

Já em relação ao Brasil, Robinson se diz otimista com as chances de o país crescer nas próximas décadas.

O livro defende a impor­­tância das instituições para a prosperidade econômica de um país. O senhor pode explicar o conceito das instituições inclusivas e extrativas?

A coisa mais importante que uma economia precisa para ter sucesso economicamente é impulsionar as habilidades, os talentos e o potencial de seus cidadãos. Porque todos devem ter acesso a oportunidades econômicas, educação, ter assegurado o direito de propriedade e um sistema legal que garanta os contratos. Instituições econômicas que geram isso são inclusivas no sentido de que incluem todos, dão a todos a chance de abrir um negócio, seguir a carreira que querem, desenvolver as habilidades que querem, mudar para onde querem. Este tipo de organização é boa para a sociedade, mas também tende a distribuir riqueza e renda de forma equilibrada. Algumas pessoas se beneficiariam ao tentarem transformar essas instituições inclusivas em extrativas — ao expropriar ativos de outros, barrar pessoas de algumas atividades ao criar monopólios e restringir a mobilidade. Extrativas porque são instituições projetadas para extrair riqueza e poder da massa da sociedade em favor de um pequeno grupo.

Por que instituições inclusivas são criadas em alguns países e não em outros? Qual é a influência da centralização política?

Há um conflito sobre instituições nas sociedades mesmo quando se trata de instituições extrativas. Outros grupos querem assumir o sistema para se beneficiar da extração eles mesmos. Historicamente, instituições inclusivas surgem como resultado de conflitos. Mas não são todos os conflitos, apenas um certo tipo de conflito quando uma coalizão suficientemente ampla emerge, que busca mudanças institucionais. A centralização política é chave porque sem ela não é possível ter instituições inclusivas. Sem um Estado forte, não se pode ter ordem ou a garantia adequada dos direitos de propriedade.

Apesar de não ser uma tarefa simples, o que é preciso para ir da pobreza para a prosperidade? E de instituições extrativas para inclusivas?

A transição de instituições extrativas para inclusivas é uma transição política. Uma ampla coalizão deve emergir e que seja poderosa o suficiente para assumir o controle e mudar as instituições. Isso ocorre geralmente após o que chamamos de momentos críticos, que são grandes choques para a sociedade, como uma quebra de safra, uma guerra ou o surto de uma doença, como a peste negra. São eventos que balançam a estrutura de poder existente e permitem que esta seja desafiada mais facilmente.

Vocês negam que o determinismo histórico, como geografia, clima ou cultura, possa explicar as diferenças entre prosperidade e pobreza. Por que pequenas diferenças e contingências desempenham papel tão importante?

Pequenas diferenças e contingências desempenham papel importante porque instituições são criadas por pessoas. E pequenas alterações na maneira com que essas pessoas fazem isso podem trazer uma grande diferença se terão sucesso ou não. Há exemplos de sociedades que parecem muito similares e até enfrentam os mesmos choques, mas que tomam caminhos divergentes depois disso. Nós ilustramos isso com as diferenças entre o Leste e o Oeste da Europa depois da peste negra, mas também com a Espanha e a França frente à Inglaterra no início da Idade Moderna.

O Brasil foi incluído, ao lado do Chile e do México, no grupo de países da América Latina que deve registrar crescimento econômico nas próximas décadas. Por quê?

No fim dos anos 1970 e início dos 1980, uma ampla coalizão se formou no Brasil para lutar e remover os militares do poder. Isso levou a profundas mudanças em políticas sociais, na pobreza, em desigualdade e no crescimento econômico. Estou certo de que há muitos problemas a serem enfrentados, mas o Brasil é muito mais inclusivo política e economicamente do que era.

O livro contesta a visão de que a China terá um crescimento econômico sustentado, citando o exemplo do colapso da União Soviética e de cidades maias. Por que a expansão chinesa não é sustentável?

A História mundial sugere que é impossível ter crescimento econômico sustentado com instituições políticas extrativas. Há também argumentos lógicos. O Partido Comunista Chinês se preocupa com a manutenção do poder. Em algum momento, terá que escolher entre manter o poder e fazer algo que seja necessário para encorajar o crescimento econômico. Meu sentimento é que eles vão escolher o poder, como ocorreu em 1989, após os protestos da Praça da Paz Celestial.

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