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Na última quinta-feira, no palácio Miraflores, Hugo Chávez estava sorridente | Palácio Miraflores/Reuters
Na última quinta-feira, no palácio Miraflores, Hugo Chávez estava sorridente| Foto: Palácio Miraflores/Reuters

Sobrevivente

Antes do câncer, houve um golpe de Estado

No poder desde 1999, Chávez já sobreviveu a um golpe de Estado, em 2002, e venceu várias eleições. O presidente afirma ser o capitão da "revolução bolivariana", com reformas rumo ao socialismo.

A oposição, porém, aponta para a piora nos últimos anos em questões como a violência em Caracas, o desemprego, sobretudo entre os jovens, a situação carcerária e os racionamentos de energia elétrica, que podem voltar a ocorrer neste ano.

Em 2010, a Venezuela enfrentou um duro racionamento que afetou boa parte do país. O governo atribuiu o problema à falta de chuvas que prejudicou o complexo hidrelétrico na represa Guri, porém a oposição denunciou a falta de investimentos no setor.

  • Partidários do presidente comemoraram o bicentenário da independência ao longo da semana toda

O retorno do presidente Hugo Chávez à Venezuela, na última segunda-feira, depois de quase um mês em Cuba para tratamento de um câncer, marca o início do acirramento na polarização do cenário político antes da eleição presidencial de 2012.

Analistas políticos consultados pela reportagem divergem sobre os possíveis resultados eleitorais da doença de Chávez, mas consideram inegável que a saúde do líder da "revolução bolivariana" será acompanhada de perto e pode ser um fator decisivo.

"O primeiro round foi ganho por Chávez", afirma, falando por telefone de Caracas, o professor Nicmer Evans, da Univer­­sidade Central da Vene­­zuela (UCV). "Sem dúvida nenhuma, o presidente sai fortalecido", acredita o sociólogo.

Já o professor Alfredo Ramos Jiménez, cientista político da Universidade dos Andes, em Mérida, diz ser "discutível" a afirmação de que Chávez sai mais forte politicamente da batalha contra o câncer. "Entre o chavismo duro, sua clientela local, ele sai fortalecido, porém esses são só 25% dos eleitores."

Parte da oposição criticou bastante o comportamento do líder no período, acusando-o de governar o país de Cuba, o que seria ilegal segundo a Constituição venezuelana. Na opinião de Evans, houve mostras de certa "miséria política" de parte da oposição. Jiménez pondera dizendo que, se a oposição não sai fortalecida, ao menos conseguiu com os problemas de saúde do presidente "maiores estímulos para a união".

Difícil dizer

Um terceiro analista ouvido, Rigoberto Lanz, professor titular de Sociologia da UCV, avalia que "é muito difícil uma valoração imediata" do caso. "Dependerá do curso da enfermidade do presidente", afirma. Caso ocorra uma recuperação completa, é possível pensar que a doença tenha sido "politicamente favorável". Porém, no outro extremo, uma piora na saúde do presidente geraria "um quadro completamente diferente".

Chávez chegou a Cuba em 8 de junho, no final de um giro diplomático por alguns países da América Latina, entre eles o Brasil. Em Havana, foi informado inicialmente que ele precisou se submeter a uma cirurgia emergencial para a retirada de um abscesso pélvico. A falta de informações e a demora da estada geraram muitas especulações sobre a gravidade do caso.

Um jornal de Miami, El Nuevo Herald, chegou a publicar que Chávez estava com câncer, o que foi negado por Caracas. Dias depois, em 30 de junho, Chávez admitiu que havia sido operado para a retirada de um tumor maligno, mas o mistério em torno da doença e do tempo de recuperação prosseguiu.

Em 4 de julho, Chávez surpreendeu novamente e retornou a Caracas sem aviso prévio, ainda a tempo das comemorações do bicentenário da independência do país, no dia seguinte.

Simpatia

Um político que supera uma doença pode ter, ao menos inicialmente, um aumento em sua popularidade. Os analistas consultados pela reportagem concordam com a existência do fenômeno e dizem que ele pode se aplicar a Chávez, mas divergem sobre se esse ganho de popularidade perdurará.

Evans diz que a popularidade de Chávez nunca esteve abaixo dos 45% em pesquisas, o que é "um fenômeno eleitoral", após tantos anos de governo. Agora, segundo ele, a popularidade deve saltar dos atuais 52% para algo em torno de 60%. Por outro lado, Jiménez diz que o excessivo mistério em torno da saúde presidencial "foi contraproducente para o governo".

Lanz afirma que, entre os já partidários do chavismo, o vínculo aumenta, mas setores menos próximos do presidente estão "parcialmente neutralizados pelo impacto humano desse fenômeno".

Algo que ficou patente com a crise em torno da saúde do presidente é a falta de substitutos para o líder na situação. Foram citados como possíveis nomes, por exemplo, o vice-presidente, Elías Jaua, e o ministro das Relações Exteriores, Nicolás Maduro, caso Chávez tiver de desistir da eleição por causa da saúde, mas não há um sucessor claro.

"O processo revolucionário deveria preparar uma discussão sobre quadros de médio e longo prazo", afirma Evans. "A ação política de Chávez não criou substitutos dentro do partido", destaca, por sua vez, Jiménez.

Sobre as eleições presidenciais de dezembro de 2012, Lanz diz que, "normalmente", a oposição não teria chances contra Chávez nas urnas. "De novo, tudo dependerá da evolução da doença do presidente."

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