
Caracas - Um estudo divulgado nesta semana por um grupo de 26 economistas venezuelanos aponta para o risco de um prolongamento da recessão no país. Integram a equipe professores das principais universidades da Venezuela.
"Os problemas e as distorções econômicas acumuladas, o surpreendente desvio de 50% dos recursos de exportações da PDVSA [gigante estatal do petróleo] para fundos públicos, contas no exterior e erros da política governamental com base na orientação ideológica socialista radical têm piorado a situação da Venezuela", descreve o documento.
Em contrapartida, com a proximidade das eleições legislativas, o governo divulgou uma série de dados com o objetivo de responder aos críticos. Em todo o país há painéis exibindo os feitos da "revolução socialista".
"23% de aumento na produção socialista de café", mostram outdoors no alto dos edifícios de Caracas. No metrô, o cartaz de propaganda do bicentenário da independência relata: "650 toneladas de alimentos distribuídos diariamente".
"Enquanto o Estado cresce, o setor privado vai sendo exterminado. Mais de 30% das empresas privadas do país foram fechadas ou estatizadas. As que passaram para o Estado sofreram queda na produção", contesta o economista Carlos Machado Allison, em entrevista à Gazeta do Povo.
O estudo do grupo de economistas publicado na quarta-feira passada mostra que a economia venezuelana está há quase um ano e meio registrando quedas consecutivas. No primeiro semestre deste ano, a redução chegou a 3,5%.
"O governo vem tentando impor o chamado Socialismo do Século 21, um regime semelhante em teoria, discurso e objetivos ao socialismo marxista, fracassado no século passado", destaca o documento intitulado Crise Econômica e Governo Ineficaz: Uma Ideologia Custosa.
O ministro do Poder Popular de Planejamento e Finanças, Jorge Giordani, admite que a recessão vai se prolongar, mas diz que não será por tanto tempo como dizem os críticos. O responsável pela economia bolivariana argumenta que o retrocesso econômico é resultado da crise mundial e da queda abrupta do preço do petróleo em 2008 e 2009.
O argumento serve de munição para os ataques dos que discordam da avaliação oficial da crise. "É uma economia cada vez mais dependente do petróleo. Ninguém que tem recursos está disposto a investir na Venezuela. Não há segurança jurídica nem políticas econômicas estáveis", observa à reportagem o advogado Antonio Canova González.
O governo joga tudo na chamada economia alternativa em contraposição ao mercado capitalista. As ações se espalham pela agricultura, indústria e comércio. Até em fábrica de celulares o governo vem investindo. O discurso oficial é que a nacionalização do setor produtivo irá estancar a crise. E os chavistas apostam na manutenção dos preços do petróleo para conseguir os recursos necessários aos investimentos públicos.
Essa estratégia, no entanto, é ineficiente, segundo os especialistas. "A perda crescente da produtividade das empresas públicas e privadas, alta de preços, salários baixos, elevada corrupção e massivo endividamento público abrem a possibilidade de uma recessão prolongada", concluiu o estudo dos principais economistas do país.



