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Curitiba – O presidente venezuelano Hugo Chávez ganha reforço em seu discurso pró-América Latina, leia-se anti-Estados Unidos, com a chegada de Evo Morales, líder cocaleiro de origem indígena, à Presidência da Bolívia. Tidos por alguns como os "novos populistas" da América Latina, a dupla aposta no caminho de hostilizar os EUA. Morales, que tomará posse no próximo dia 22, foi até a Venezuela recentemente e pactuou com Chávez uma "luta antiimperialista".

Não se trata simplesmente de uma onda populista, e sim uma forma de a esquerda emergir dos movimentos populares, analisa Roberto Amaral, presidente do Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos. "Este cenário é reflexo da falência de dois fatores na América do Sul: dos governos conservadores de elite e o fracasso do receituário do neoliberalismo que levou Argentina, Bolívia, Equador e Peru ao caos", diz. Ou seja, é uma resposta da sociedade ao fracasso do modelo político, avalia Amaral, levando a emergência de governos ditos de esquerda como no Uruguai, com Tabaré Vázquez, Kirchner (Argentina) e provável Michelle Bachelet, no Chile.

Para Simon Schwartzman, diretor-presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, a dificuldade de os governos oferecerem o que o povo quer abre caminho para lideranças como Chávez e Morales, que são figuras próximas ao povo, ganharem apoio. "Mas é complicado o Chávez, por exemplo, manter uma política coerente no longo prazo. Enquanto houver os recursos do petróleo ele se mantém." Outro senão, é que apesar da postura de hostilidade de Caracas em relação aos EUA, que é o principal importador de petróleo, a economia venezuelana está amarrada aos norte-americanos. O que, de certa forma, esvazia a política anti-EUA na América Latina, argumenta. "A 'esquerda' se alimenta do discurso, mas não na prática econômica."

Não basta simplesmente se dizer de esquerda, uma vez que um dos requisitos é a mudança social, comenta Henrique Castro, professor do Centro de Pesquisa e Pós-graduação sobre as Américas, da Universidade de Brasília (UnB). Chávez e Morales não são necessariamente de esquerda ou populistas, e sim contrários a dominação dos EUA na região, aponta. "Em um cenário de união latino-americana faltaria consenso político para o grupo. Não existem pontos de referência em comum, muito menos um programa mínimo." Castro considera que o discurso legitimatório de Venezuela e Bolívia não traria conseqüências e uma aliança na região estaria distante. "Dificilmente a América Latina fará frente aos EUA. Morales e Chávez são contra forças hegemônicas e fazem discursos de caráter populista, demagógicos e de esquerda." No caso da Venezuela, a elite é pró-EUA, ou seja, assim Chávez também bate em seus inimigos internos, diz.

Mas a consolidação do modelo "a la Chávez" mudaria, e muito, a geopolítica na região e significaria, diz Amaral, o isolamento da política dos EUA na América Latina. "A política intervencionista norte-americana ficaria em xeque diante de uma união na América Latina, que teria maior poder de defesa de seus interesses nacionais." O desafio, aponta o analista, será os países latino-americanos compreenderem que não terão política autônoma sem união.

O Brasil, por ser o principal parceiro econômico dos países da região, poderia exercer o papel de moderador e mediador da América Latina com os EUA. "O Brasil já tem tido bom desempenho para reduzir a hostilidade da Venezuela com os EUA."

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