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“Não existem países que estejam abertos para o mundo ou fazendo de tudo pelos estrangeiros.” | Antônio Costa/ Gazeta do Povo
“Não existem países que estejam abertos para o mundo ou fazendo de tudo pelos estrangeiros.”| Foto: Antônio Costa/ Gazeta do Povo

O especialista em geopolítica e diretor do Centro de Estudos Europeus do Instituto de Ciências Políticas de Paris (Universidade de Sorbonne), Zaki Laïdi, defende o discurso da União Europeia sobre a necessidade de repensar as re­­gras do Acordo de Schengen no que se refere à política de fronteiras. Ele vai além do discurso diplomático ao dizer que os franceses têm o direito de não tolerar as burcas – tipo de véu islâmico – e que nenhum país está aberto à imigração. Laïdi conversou com a reportagem da Gazeta do Povo na última terça-feita após palestra que proferiu no Centro Universitário Curitiba (UniCuritiba).

As mudanças propostas no Acordo de Schengen, para voltar a haver controle de fronteiras na Europa, não representam um retrocesso para a União Euro­­peia?

As regras de Schengen não vão mudar. Elas podem ser adaptadas às condições que nós estamos encarando. Simplesmente precisamos de novas regras para situações de exceção. Alguns países, como a Dinamarca, querem voltar a controlar as fronteiras, não por causa dos imigrantes africanos, mas por causa da criminalidade. Schengen é muito importante para os europeus e isso não vai mudar.

Que tipo de políticas, então, a Europa pode ter para controlar a criminalidade sem deixar de ajudar os imigrantes?

Não se pode associar imigrantes à criminalidade. Nem todos os imigrantes são criminosos. A melhor solução é manter as populações em seus países. Mas há casos de conflitos, como a Líbia, em que as pessoas precisam de ajuda. Temos que diferenciar os refugiados de guerra daqueles que querem imigrar simplesmente porque é mais fácil para eles.

Esse tipo de política de imigração não caracteriza uma tentativa de fechamento da Europa?

Ao contrário do que dizem, não estamos fechados para o mundo. Recebemos milhares de pessoas por ano na França, por exemplo. É muito mais fácil entrar na França do que no Brasil. Inclusive, é muito difícil para um estrangeiro entrar no Brasil. E não existem países que estejam abertos para o mundo ou fazendo de tudo pelos estrangeiros, nem que queiram ajudar os imigrantes. É difícil em todo lugar. Ninguém quer imigrantes ou certos tipos de imigrantes. Eu descarto a ideia de que nós, europeus, estamos fechados.

E iniciativas como a proibição ao uso de burcas na França não denotam uma resistência a outras culturas?

Temos questões culturais, como a burca, e isso é específico da França, se refere à historia, à identidade do país. A política francesa se constituiu sem influência da religião. Os franceses não querem ver burcas nas suas ruas. E isso faz sentido, é como conduzimos as coisas. Lá também é impossível ver uma imagem cristã em uma escola, porque eles separam o Estado da Igreja.

A União Europeia foi criada para ser uma parceria política e econômica. Mas temos visto situações em que parece difícil existir essa parceria, como quando a Finlândia anunciou que não queria participar da ajuda financeira a Portugal. Como manter a solidariedade entre os países nos momentos de crise?

Os países ricos têm o sentimento de que eles estão pagando por aqueles que não têm disciplina. Se nós queremos ter solidariedade eficaz e apoio da opinião pública, nós precisamos mostrar às pessoas os benefícios dessa união. Demos grande ajuda a Portugal e à Grécia, mas colocamos condições. Não podemos simplesmente dar dinheiro sem ter garantia de que eles vão utilizar de modo correto e fazer reformas adequadas.

Qual o principal desafio da União Europeia hoje?

O maior desafio é como ser unificados sem perder a personalidade de cada um dos Estados nacionais. Estamos em uma situação em que sabemos que precisamos estar juntos, mas, ao mesmo tempo, cada país quer ter suas próprias normas.

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