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A Grécia há muito tem uma influência emocional sobre a Europa. Toda a conversa sobre ser berço da civilização ocidental lhe conferia alguma conivência, e até mesmo indulgência. A União Europeia não estava pronta para partir para o mano a mano com a terra natal da democracia.

A glória do passado é uma coisa maravilhosa – e um péssimo guia para as políticas do presente. Isso é verdade para a Terra Santa, para o Kosovo e para Atenas. A Grécia não devia ter entrado na zona do euro. Ela teve a entrada negada em 1999 porque não cumpria os critérios fiscais. Quando os cumpriu em 2001, o conserto veio através de números orçamentários fajutos.

Esqueça-se de Sócrates. Leia o excelente livro de Bruce Clark, Twice a Stranger ("Duplamente um estranho", em tradução livre, ainda sem tradução para o português) sobre os efeitos da troca de população de Lausana e a psique da Grécia moderna. Clark descreve a Grécia como uma sociedade "onde laços de sangue são muito mais importantes do que lealdade ao Estado ou parceiros de negócio."

Esse não é um país com estado de espírito condizente com pagamento de impostos, esforços coletivos ou finanças públicas equilibradas. Isso não os exclui, mas também não ajuda. Não surpreende que a Grécia tenha assumido o euro como um meio de viver no "oba-oba" – resultando num débito equivalente a 150% de seu produto interno bruto (PIB) e crescendo.

Sim, ser membro da União Europeia forneceu algum alívio às feridas da Grécia. Esse é o grande mérito da UE: ela desintoxica a história. Mas a Grécia permanece sendo uma nação que suspeita de estrangeiros – quando se é dominado pelos otomanos, ninguém quer ser dominado também por banqueiros centrais – e um lugar em que estruturas estatais recebem pouca lealdade.

Nunca vi a Europa numa situação de tamanho apuro. A Grécia está cheia de "aganaktismenoi", ou os ultrajados, que reclamam dos cortes bruscos e vendas de empresas estatais que se fizeram necessários porque não existe mais o dracma para ser desvalorizado para recobrar a competitividade.

Como os protestantes da Espanha, eles sentem que os pobres e os desempregados estão pagando pelos erros dos políticos, as evasões dos ricos e todo o sistema globalizado que recompensa os iniciados na tecnocracia enquanto pune os deixados para trás.

Sua raiva é compreensível.

Greves e protestos violentos são medidas de uma Europa que agora não consegue comover muitos cidadãos com as grandes conquistas da integração europeia. Fronteiras abertas estão começando a se fechar outra vez. A Turquia está dando as costas para a União Europeia. A Alemanha está afastada de seu idealismo Europeu do pós-guerra. A América critica a Europa por sua ineficácia militar. Muitos gregos e espanhóis sentem que a Europa não é mais do que um golpe.

A conclusão é esta: uma união monetária entre economias radicalmente divergentes sem ter base na união fiscal ou política não tem nenhum precedente histórico convincente.

Por um tempo, o "boom" do dinheiro fácil permitiu a todos que ignorassem o fato de que economias periféricas como a da Grécia e de Portugal não estavam ganhando em competitividade, ou "convergindo", mas acumulando déficits e débitos insustentáveis. Agora os meros fatos estão claros.

A Grécia não está pronta para o euro. Seu passado clássico era de menor relevância que seu passado recente. Uma mentira é como uma bola de neve: quanto mais rola, maior fica. Isso nenhuma operação de salvamento pode esconder.

Tradução: Adriano Scandolara

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