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Sayed Assadullah com seu filho Donald Trump em sua casa alugada em Cabul, Afeganistão, 12 de março de 2018. O bebê Donald Trump recebeu seu nome por causa da admiração de seu pai pelo magnata e presidente dos EUA, Donald Trump. "Quando meu filho nasceu, seu cabelo era completamente loiro e combinava com o cabelo de Trump", disse Assadullah. "Então, quando vi o cabelo dele, pensei: 'Vou chamá-lo de Trump'" | JIM HUYLEBROEK/
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Sayed Assadullah com seu filho Donald Trump em sua casa alugada em Cabul, Afeganistão, 12 de março de 2018. O bebê Donald Trump recebeu seu nome por causa da admiração de seu pai pelo magnata e presidente dos EUA, Donald Trump. "Quando meu filho nasceu, seu cabelo era completamente loiro e combinava com o cabelo de Trump", disse Assadullah. "Então, quando vi o cabelo dele, pensei: 'Vou chamá-lo de Trump'"| Foto: JIM HUYLEBROEK/ NYT

Ainda no útero da mãe, Donald Trump era extraordinariamente sensível: nas noites em que ela estava preocupada, ele ficava inquieto, chutava e se virava.  

Até que, em uma tarde chuvosa de outono, em um vilarejo poeirento com cerca de 200 casas, chegou a hora de vir ao mundo. Não havia enfermeira, nem parteira, só a mulher do vizinho, que chegou para ajudar. O recém-nascido era calmo, loiro e tinha pés e mãos normais. 

Não, não estamos falando de Donald J. Trump, filho de Mary e Fred Trump; este é Donald Trump, terceiro filho de Jamila e Sayed Assadullah, nascido em Shahristan, distrito perdido na província de Daikundi, porção central do Afeganistão, em três de setembro de 2016, mais ou menos na época em que seu xará se preparava para o primeiro debate presidencial, após garantir a indicação republicana. 

O bebê ganhou esse nome por causa da admiração de seu pai pelo norte-americano. 

Assadullah vem de uma família pobre de agricultores, em um lugar onde uma boa safra de amêndoas representa a diferença entre passar fome e ter o que comer – só que ele conseguiu uma bolsa para a faculdade, conseguiu se formar, leu os livros de Trump e o viu na TV, que funciona graças aos painéis solares instalados na aldeia por uma organização de ajuda humanitária. 

Sua esperança, ao batizar o filho com o nome do magnata do setor imobiliário e astro de TV, era de que, de alguma forma, o garoto se beneficiasse da mesma sorte. 

Rejeição

Entretanto, ela ainda não se manifestou. Aliás, na verdade, a escolha parece ter só complicado as coisas para a família. 

A decisão de dar um nome não muçulmano à criança deixou os parentes de Assadullah tão irritados, que nem ele, nem sua mulher, nem os filhos são bem-vindos em Daikundi, e acabaram tendo que se mudar para uma casa alugada aqui em Cabul. 

"Resolvi ler os livros do Trump", conta Assadullah, em entrevista concedida em casa, com o pequeno Donald Trump em seu colo, os dedinhos agarrados no celular do pai. "Peguei aquele, 'Como Ficar Rico' e fiquei sabendo de sua história, como construiu a Trump Tower, como se tornou líder de seu partido. Percebi que é um homem esforçado. Achei que se desse o nome dele ao meu filho, isso poderia afetar a personalidade do garoto, seu comportamento." 

Assadullah prossegue, afirmando que a semelhança física só ajudou a reforçar sua convicção. 

"Meu filho nasceu com o cabelo completamente loiro, igual ao do Trump. Quando vi aquilo, aí sim tive certeza da minha decisão." 

No entanto, durante dez dias depois do nascimento, o menino ficou sem nome. Isso porque, tradicionalmente, os avós é que dão a sugestão, acatada pelos pais. Assadullah queria romper com o costume, mas sua atitude era tão ousada que não tinha coragem de contar para a família. Pelo menos a mulher, Jamila, concordava com ele.  

Quando sua decisão se tornou pública, a princípio a família o ridicularizou; depois, o escárnio virou irritação. 

"Quando souberam que dei o nome de Donald Trump ao meu filho, ficaram doidos da vida. Perguntaram como eu tive coragem de batizá-lo com o nome de um infiel", conta o pai. 

"Meu relacionamento com a família depois disso azedou. Meu pai é muito bravo e disse que não conseguia tolerar o fato de eu ter chamado o menino de Donald Trump. Aí eu saí de lá, e me mudei aqui para Cabul com minha família", completa. 

Sayed Assadullah com seu filho Donald Trump em sua casa alugada em Cabul, Afeganistão, 12 de março de 2018. JIM HUYLEBROEK/ NYT

Agência de espionagem

A história do jovem Donald Trump, que hoje está com um ano e meio, tinha se mantido anônima, mesmo depois de seus pais terem se mudado para a capital; não faz muito tempo, porém, uma cópia da identidade do garoto começou a circular nas redes sociais. Assadullah afirmar que a revelação foi obra dos funcionários do departamento de registros, sem sua permissão.

E reclama de ter sido maltratado no escritório da agência que verifica os documentos de identidade de outras províncias ao chegar em Cabul, sendo inclusive ameaçado de ser levado à agência de espionagem nacional para interrogatório. 

"Quando cheguei lá, os funcionários viram o nome e perguntaram: 'O que é isso? Donald Trump? É sério?'; eu confirmei, e devolvi a pergunta para saber se havia algum problema. Ficaram me olhando de um jeito estranho e comentaram entre si: 'Olha só, ele pôs o nome no filho de Donald Trump. Que sujeito sem cultura.' Fiquei irritado e disse que a função dele era apenas a de confirmar o documento", conta. 

Os documentos de identificação de Donald Trump, uma criança afegã, em Cabul, Afeganistão, 12 de março de 2018. JIM HUYLEBROEK/ NYT

Os gêmeos Obama e Putin

Os críticos dizem que Assadullah batizou o filho com o nome do presidente só para chamar a atenção e pedir asilo no exterior, mas ele nega com veemência, dizendo que nunca quis que a identidade do garoto se tornasse tão pública. 

Desde que a história do pequeno Donald Trump se espalhou, outra família resolveu contar um fato semelhante: Ghulam Ali Paiman, também de Shahristan, revela que pôs nos gêmeos que teve há quase dois anos os nomes de Vladimir Putin e Barack Hussein Obama – esse, sob protesto, já que a mulher queria que fosse Trump. 

Entretanto, fica difícil confirmar a veracidade do caso. 

Paiman mandou as cópias do que disse ser as certidões de nascimento para o New York Times, mas os documentos foram emitidos recentemente, quase dois anos após o nascimento dos bebês. O diretor do hospital confirmou a emissão, mas não conseguiu encontrar as crianças com esses nomes nascidas há dois anos.

O costume entre a grande maioria das famílias é dar nome aos filhos no sexto dia de vida, bem depois de deixarem a maternidade – quando nascem lá.

Não foi encontrada nenhuma verificação independente para o relato de Paiman.

"Estou ouvindo agora essa história dos gêmeos Obama e Putin. Conheço o pai, mas nunca soube que ele tivesse batizado os filhos com esses nomes. Nem qualquer outra pessoa, aliás", informa Shafaq Yaqoobi, governador de Shahristan.

"Mas já ouvi falar do tal Donald Trump, sim. O pai dele é o Sayed Asadullah", conclui. 

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Traduções de livros escritos pelo presidente Donald Trump e pelo presidente russo Vladimir Putin em uma livraria de Cabul, Afeganistão, 13 de março de 2018. JIM HUYLEBROEK/ NYT
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