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Takeshi Ebisawa responderá na justiça americana pelos crimes de conspirar para traficar urânio e plutônio de uso militar
Takeshi Ebisawa responderá na justiça americana pelos crimes de conspirar para traficar urânio e plutônio de uso militar| Foto: Reprodução/Southern District of New York

Um dos chefes da yakuza, a temida máfia japonesa, que está preso nos Estados Unidos, foi acusado em fevereiro pela promotoria americana de ter tentado vender material nuclear para o Irã.

Takeshi Ebisawa, de 60 anos, responderá na justiça americana pelos crimes de conspirar para traficar urânio e plutônio de uso militar, que, segundo autoridades dos EUA, ele acreditava que seriam usados pelo regime iraniano para desenvolver bombas atômicas.

Ebisawa foi preso em abril de 2022, junto com outros três cúmplices, por envolvimento em tráfico de drogas e armas. No último mês, Ebisawa recebeu as novas acusações que farão com que ele seja julgado também por tráfico internacional de material nuclear, lavagem de dinheiro e posse de mísseis antiaéreos.

A investigação que levou à prisão de Ebisawa começou em 2019, quando agentes disfarçados da Agência Antidrogas dos EUA (DEA) se infiltraram em sua rede criminosa, que operava, segundo informações, em vários países da Ásia, Europa e das Américas. Os agentes se passaram por traficantes de drogas e armas que tinham ligações com um general iraniano que possuía um grande interesse em comprar material nuclear para o programa armamentista do regime islâmico.

Os promotores americanos afirmaram que Ebisawa obteve o material nuclear através de um líder de um grupo rebelde de Mianmar. Esse líder, que não teve seu nome divulgado, trabalha com a mineração de urânio no país asiático, que vive atualmente uma guerra civil. Ebisawa, segundo as autoridades americanas, possuía um acordo com esse líder, que o permitia vender o material minerado por ele em troca de armas para uso militar, como fuzis, metralhadoras e foguetes.

Segundo a investigação dos EUA, o membro da yakuza teria enviado fotos e amostras do material nuclear para os agentes da DEA disfarçados, usando aplicativos de mensagens criptografadas. Nas mensagens, ele chegava a oferecer material nuclear por cifras milionárias e afirmava ter acesso a plutônio, que seria ainda mais “poderoso” e “melhor” para o Irã produzir suas armas nucleares.

  • Fotos de amostras dos materiais nucleares que estavam sendo traficados por Ebisawa divulgadas pelas autoridades americanas

Em 2022, Ebisawa e seus comparsas mostraram as amostras do material nuclear para os agentes em um hotel na Tailândia. Tais amostras foram posteriormente apreendidas por autoridades tailandesas para serem analisadas por um laboratório dos EUA, que confirmou que o material realmente continha urânio e plutônio para uso militar, ou seja, que poderiam ser usados para fabricar uma bomba atômica.

Os promotores alegam que Ebisawa queria em troca do material adquirir por meio dos agentes disfarçados da DEA grandes quantidades de armas para uso militar que seriam enviadas para o grupo rebelde de Mianmar responsável por minerar o material nuclear. As armas incluíam mísseis terra-ar, rifles de assalto e de precisão, metralhadoras, foguetes e uma variedade de equipamentos táticos.

“Ebisawa e seus comparsas traficaram drogas, armas e material nuclear, chegando ao ponto de oferecer urânio e plutônio de uso militar, esperando que o Irã os usasse para armas nucleares”, disse Anne Milgram, diretora da DEA, em um comunicado. “Este é um exemplo extraordinário da depravação dos traficantes de drogas, que operam com total desrespeito pela vida humana”, acrescentou ela.

"Segundo alegado, o réu traficou descaradamente material contendo urânio e plutônio de grau armamentista de Mianmar para outros países”, disse o promotor americano Damian Williams. “Ele [Takeshi Ebisawa] fez isso acreditando que o material seria utilizado no desenvolvimento de um programa de armas nucleares, e ao mesmo tempo negociava a compra de armas letais. É impossível exagerar na gravidade dessa conduta. Quero agradecer aos promotores de carreira do meu escritório e aos nossos parceiros da aplicação da lei por garantirem que o réu agora enfrente a justiça em um tribunal americano”.

As acusações que Ebisawa enfrenta podem resultar na sua prisão perpétua. O outro réu no caso, Somphop Singhasiri, um cidadão tailandês de 61 anos, enfrenta acusações de posse de drogas e armas.

Armas perigosas nas mãos de um grupo calculista

Poucas informações são conhecidas sobre a vida de Ebisawa, mas os promotores americanos confirmaram que ele era um dos líderes da yakuza. Isso pode indicar que a temida facção japonesa pode estar não só tendo acesso, como ajudando a comercializar diversos materiais nucleares em várias partes do mundo.

A operação americana, que envolveu também outros países asiáticos e europeus, revelou a ousadia e a periculosidade dos criminosos da yakuza, que atuam em diversas atividades ilícitas, como tráfico de drogas, armas, pessoas, lavagem de dinheiro e extorsão.

“Ebisawa traficou material contendo urânio e plutônio de uso militar, acreditando que o material seria usado no desenvolvimento de um programa de armas nucleares, e o plutônio de uso militar que ele traficou, se produzido em quantidades suficientes, poderia ter sido usado para esse fim”, disse o procurador-geral assistente, Matthew Olsen, do Departamento de Segurança Nacional dos EUA, à agência Reuters.

“É assustador imaginar o que poderia ter acontecido se esses esforços tivessem tido sucesso. O Departamento de Justiça responsabilizará aqueles que traficam esses materiais e ameaçam a segurança nacional dos EUA e a estabilidade internacional”, completou Olsen.

A yakuza é uma rede de organizações criminosas que existe há séculos no Japão. Atualmente, estima-se que a organização tenha ao todo cerca de 100 mil membros, divididos em vários grupos, sendo o mais poderoso dele a facção dos Yamaguchi-gumi, que tem cerca de 20 mil membros.

A yakuza tem uma estrutura hierárquica e rígida, com códigos de conduta e rituais de iniciação e fidelidade. Os membros da organização costumam exibir tatuagens elaboradas pelo corpo e, em alguns casos, amputam partes dos dedos como forma de demonstrar arrependimento ou lealdade.

A organização criminosa japonesa é considerada por diversos governos como uma ameaça à segurança nacional e internacional e tem ampliado sua presença e influência nos últimos anos fora do Japão, principalmente por países como Sri Lanka, Mianmar, Tailândia e até mesmo os EUA. Em 2012, o Departamento do Tesouro americano congelou os ativos da Yamaguchi-gumi e proibiu que ela fizesse negócios nos EUA, em resposta ao seu envolvimento em crimes transnacionais.

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