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Curitiba – Certa vez, colocaram a seguinte situação ao famoso físico americano Caltech Richard Feynman, vencedor do Nobel da Física de 1965: se, em uma grande catástrofe, toda a sabedoria científica fosse destruída e apenas uma sentença restasse para a geração seguinte, qual frase ele escolheria deixar como ensinamento? "Todas as coisas são feitas de átomos", ele respondeu. Segundo o físico, há uma enorme quantidade de informações sobre o mundo nessa constatação, bastando aplicar um pouco de imaginação e pensamento para descobri-las.

Feynman é apontado como o pai da chamada nanotecnologia, a ciência em escala nano (um bilionésimo de metro). Foi ele quem propôs, ainda em 1959, que um dia poderíamos manipular a matéria átomo por átomo, sendo o átomo a menor porção em que pode ser dividido um elemento químico. Só muitos anos depois, em 1981, sua teoria ganhou nova força, quando foi inventado o microscópio de tunelamento, capaz de obter imagens de átomos e moléculas. Em 1989, os mesmos inventores do microscópio, funcionário da IBM, conseguiram manipular 35 atómos de xenônio e escrever o nome da empresa em uma placa de níquel.

Desde então, há uma luta em toda a comunidade científica para dominar a manipulação em escala nano. Uma previsão da revista Science aponta que o mercado global para nanotecnologia movimentará cerca de US$ 1 trilhão em 2015.

"A curto prazo, a medicina deve ser a grande beneficiada pela nanotecnologia. Por exemplo, hoje só se descobrem tumores quando estão com tamanho na casa dos centímetros. A partir da nanociência, isso deve mudar, será possível descobrir tumores ainda mais cedo. A eletrônica também será afetada. Os chips dos aparelhos serão feitos em nanoescala. A nanotecnologia é com certeza uma área do futuro na física", afirma o professor Douglas Galvão, do Instituto de Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que esteve em Curitiba nesta última semana, participando do projeto Café com Ciência, do Sesc/PR.

Apesar de todas as dificuldades de um país em desenvolvimento, o Brasil tenta se estabelecer como uma referência da área no mundo. Em abril passado, foi inaugurado em São Carlos, interior de São Paulo, o Laboratório Nacional de Nanotecnologia para o Agronegócio (LNNA). Foram investidos R$ 4 milhões para a construção do centro de pesquisa.

"O agronegócio no Brasil representou, em 2005, 30% do PIB, 40,4% das exportações e 37% dos empregos. Quer dizer, quando analisamos esses números em si, é fácil perceber a abrangência e a importância do setor para o país. Por isso a preocupação da Embrapa, criadora do laboratório, em desenvolver novas tecnologias para o agronegócio do país", explica o pesquisador da Embrapa em São Carlos, Paulo Sérgio de Paula Herrmann Júnior. Hermman atualmente lidera uma pesquisa sobre nanofilmes, que deverão ser usados como embalagens ultrafinas e comestíveis para revestir frutas, prolongando a vida útil dos produtos.

Para Galvão, o Brasil está numa fase limite em que vai decidir se o país consolida seu nome na setor da nanotecnologia ou não. "Nós já perdemos o bonde dos microeletrônicos. Agora temos uma nova chance com a nanociência, que está começando. Mas é preciso investimento do governo, porque o Brasil tem pouca indústria querendo investir nessa área, e não estamos percebendo nenhum plano amplo do atual governo em criar condições para essa ciência", diz.

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