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Fóssil do archaeopteryx: após um século e meio da descoberta, cientistas concluem que a espécie não era ave | Museu de História Natural/Londres
Fóssil do archaeopteryx: após um século e meio da descoberta, cientistas concluem que a espécie não era ave| Foto: Museu de História Natural/Londres
  • Imagem de como seria o archaeopteryx, há 150 milhões de anos

Nova Iorque - O primeiro fóssil de espécies de aves causou frisson quando foi escavado em 1860, no sul da Ale­­manha. Ele tinha penas, como aves, mas também possuía dentes e um osso caudal, assim como os répteis. Naquela época, um ano após a publicação de "A Origem das Espécies", a descoberta in­­fluenciou muitos cientistas a aceitar a teoria de Darwin, que prega a evolução com base na seleção natural.

Thomas Henry Huxley, fiel aliado de Darwin, reconheceu o fóssil em um pedaço de limestone (pedra calcária) como uma espécie de transição entre os dinossauros e as aves. Com o passar do tempo, os 10 espécimes de archaeopteryx se tornaram amplamente conhecidos como exemplares da primeira ave, que viveu há cerca de 150 milhões de anos.

Recentemente, cientistas examinaram pela primeira vez pe­­quenos fragmentos do longo osso caudal de um dos espécimes com microscópios poderosos e descobriram padrões inesperados, que indicam que a espécie cresceu mais rápido do que os répteis vi­­vos, mas três vezes mais devagar do que as aves modernas. A evidência, revelaram os cientistas, põe em xeque a hipótese de que o archaeopteryx já havia desenvolvido características de uma ave fisiologicamente moderna.

Em artigo publicado no jornal de pesquisa PLoS One, a equipe de cientistas liderada por Gregory M. Erickson, um paleontólogo da Uni­­versidade do Estado da Flóri­­da, concluiu que o archaeopteryx era apenas um dinossauro com penas que deve ter possuído algumas habilidades aéreas, apesar de talvez não conseguir voar longas distâncias. Resumidamente, apesar das penas, o animal não era uma ave típica.

Erick revelou que estudou, sob um microscópio polarizador, a densa microestrutura do osso e descobriu alguns traços de vasos sanguíneos. Para o pesquisador, esse detalhe é uma evidência de um metabolismo lerdo, que fez com que o animal provavelmente levasse mais de dois anos para atingir o tamanho adulto. As aves possuem metabolismos especialmente rápidos, o que as permite abandonar o ninho em algumas se­­manas, quando não alguns dias.

Mark A. Norell, pesquisador de dinossauros no Museu de História Natural de Nova Iorque, disse que as descobertas comprovam que "a transição entre aves fisiológicas e metabólicas ocorreu muito de­­pois do archaeopteryx". Como re­­sultado, complementou o cientista, a emergência evolucionária das aves "ainda é um grande mistério".

Tanto Norell quanto Erickson enfatizaram que suas descobertas não minam a teoria amplamente defendida entre os paleontólogos de que as aves evoluíram do que conhecemos como dinossauros terópodos. As aves, desta forma, são dinossauros aviários, apesar de alguns ornitólogos insistirem que isso é um exagero.

Paleontólogos e ornitólogos que não participaram da pesquisa acreditam que as descobertas re­­presentam um passo importante nos estudos das aves e dinossauros, mas não as classificam como uma surpresa.

"O archaeopteryx foi sempre visto como um exemplo maravilhoso de uma espécie de transição. Era de se esperar que sua fisiologia fosse de transição com base no que vemos em aves e répteis mo­­dernos", disse Helen James, do Mu­­seu nacional de História natural, em Washington.

Lawrence M. Witmer, paleontólogo da Universidade de Ohio que conduz outra pesquisa envolvendo o archaeopteryx, disse que não se surpreendeu em saber que a espécie não era "100% aviária", mas que possuía muitas características só encontradas muito mais tarde em aves, indicando que o fós­­sil não foi classificado erroneamente como um "membro muito basal" na árvore da família aviária.

Na nova pesquisa, os cientistas trabalharam com Zhongue Zhou, do Instituto de Paleontologia Vertebral e Paleoantropologia de Pequim, conduzindo exames ós­­seos similares em vários espécimes de dinossauros com penas descobertos recentemente na Chi­­na. Eles concluíram que a confuciusornis foi a primeira espécie conhecida na qual a transição ocorreu na mesma velocidade que o crescimento das aves.

Os confuciusornis viveram há cerca de 130 milhões de anos. Apesar da taxa de crescimento ser levemente mais lerda do que a das aves de mesmo porte, esta espécie não possuía dentes, nem cauda longa e aparentemente crescia mais rápido que o archaeopteryx e qualquer outra espécie entre as duas. Fósseis de aves mais avançadas, com ossos abastados de vasos sanguíneos, surgiram há menos de 100 milhões de anos. 

Na verdade, foram as inúmeras descobertas na China que propiciaram a primeira avaliação microscópica dos ossos de archaeopteryx. Há dois anos, Oliver W.M. Rauhut, do Bavarian State Collec­­tion for Paleontology and Geo­­logy, em Munique, deu permissão aos cientistas para a condução de pesquisas com o fóssil do museu da cidade, que, assim como todos os espécimes conhecidos, era de um indivíduo jovem.

Os técnicos do museu extraíram amostras – pedaços não maiores do que fibras de algodão – de partes de um osso da coxa já danificado do espécime.

A taxa de crescimento do osso, conforme os cientistas determinaram, não corresponde ao pa­­drão aviário, mas reflete taxas metabólicas mais altas do que a dos répteis (exceto os dinossauros); isto é, os archaeopteryx eram mais homeotérmicos (animais de sangue quente) do que pecilotérmicos (animais de sangue frio).

De acordo com os cientistas, os archaeopteryx aparentavam ser o elo entre répteis e aves, crescendo provavelmente a uma taxa próxima a dos marsupiais.

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