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Os peruanos vão às urnas entre dúvidas e temores. A lista, liderada por um ex-militar com aspirações populistas, tem ainda a herdeira de um presidente deposto por corrupção, um ex-presidente impopular, um candidato que renunciou à nacionalidade estadunidense em troca de votos e um político criticado pelo centralismo na capital. Sem chances, outros seis candidatos disputam uns poucos raios de luz na terra do deus Sol. No domingo passado, um nome me chamou atenção pela centralização das críticas e dos elogios nas ruas de Lima instantes antes do último debate entre os cinco principais candidatos. O nome em questão é Humala.

Líder nas pesquisas, Ollanta Moisés Humala Tasso é tido como certo no segundo turno. De tendência esquerdista e forte apelo nacionalista, chegou ao segundo turno em 2006, sendo derrotado pelo atual presidente Alan García. O apoio de Hugo Chávez à época alimentou críticas de quem vê na eleição de Humala uma "venezuelização" do Peru. Embora o Peru não seja a Venezuela e Humala não seja Chávez, há muitas evidências. Não só o histórico militar é comum a ambos. As semelhanças estão nos discursos de um e de outro. Por deslize ou por excesso de transparência, Humala anunciou que mexerá na Carta Magna do Peru. Está dando o que falar.

Há um clima de incerteza nas ruas. O taxista Hugo Andrés Chávez Paitampuma, que carrega a ironia no nome, me fez a seguinte pergunta: "Por que Humala quer mudar a Constituição?" Diante do meu mutismo momentâneo, ele se adiantou: "Ninguém mexe numa Constituição se não for para moldá-la a seus interesses". Confesso não esperava resposta tão analítica quando, num portunhol mascado, lancei a quase inocente pergunta "¿por quién va a votar usted?" A propósito, o Chávez peruano votará no economista Pedro Pablo Kuczynski, que a duas semanas das eleições renunciou à nacionalidade estadunidense para ganhar a confiança dos andinos.

O anúncio de reformar a Constituição tem sido visto como uma forma de Humala dar um jeito de tentar se perpetuar no poder, violando as normas legais, mais ou menos como Chávez fez na Venezuela. Humala nega, mas seu histórico familiar dá margem a dúvidas. Em 2005, o irmão dele, Antauro Humala, liderou uma operação político-militar para desestabilizar o governo de Alejandro Toledo. O grupo esperara gerar uma resposta violenta do governo para então reivindicar uma intervenção do Congresso com três propostas: a renúncia do presidente, a instalação de uma assembleia constituinte e a antecipação das eleições. Não deu certo.

Além de Humala e Kuczynski, mais três candidatos têm chances de ir ao segundo turno. Entre eles Keiko Fujimori, que após a renúncia do pai, o ex-presidente Alberto Fujimori, assumiu a liderança do grupo fujimorista e, em 2006, foi eleita deputada mais votada da história do Peru.

No páreo também estão Alejandro Toledo, que em 2006 deixou a presidência com menos de 10% de aprovação popular, e o prefeito de Lima, Óscar Luís Castañeda.

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