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O ministro das Relações Exteriores Abdullah Gul foi eleito presidente da Turquia nesta terça-feira. Ele será o primeiro ex-ativista islâmico a ocupar o cargo na história moderna do país laico, embora predominantemente muçulmano. O primeiro-ministro do país, Tayyip Erdogan, afirmou que espera apresentar seu novo gabinete para aprovação Gul na quarta-feira.

- Abdullah Gul obteve uma maioria absoluta no terceiro turno e foi eleito o 11º presidente da Turquia com 339 votos - informou o presidente do Parlamento Koksal Toptan após a votação.

O partido governista AK tem 341 dos 550 assentos do Parlamento turco. Dois outros candidatos concorriam ao cargo com Abdullah Gul.

- Se eu puder obter uma nomeação de nosso presidente, estamos considerando apresentar o novo gabinete amanhã - disse o primeiro-ministro do país.

O gabinete deve ser composto por figuras que vão continuar as reformas políticas e econômicas, especialmente aquelas proteladas e ligadas ao ingresso do país na União Européia.

A Comissão Européia parabenizou Gul pela eleição e disse que sua vitória pode impulsionar os esforços do país em ingressar no bloco europeu.

" Isso fornece uma oportunidade para dar um impulso novo, imediato e positivo para o processo de acesso na União Européia em diversas áreas importantes "

"Isso fornece uma oportunidade para dar um impulso novo, imediato e positivo para o processo de acesso na União Européia em diversas áreas importantes", disse o presidente da Comissão Européia, José Manuel Barroso, em comunicado.

Gul se firmou como um diplomata respeitado desde que seu partido, o AK, conquistou o governo pela primeira vez, em 2002. Sob seu comando, a Turquia iniciou negociações para aderir à União Européia. Como presidente, promete servir a todos os turcos, mas os militares, guardiões do caráter laico da política local, o vêem com desconfiança e acham que o AK tem um programa islâmico secreto.

O general Yasar Buyukanit, chefe das Forças Armadas, disse na segunda-feira haver um "centro do mal" tentando abalar a república laica. Isso sugere que os militares não ficariam de braços cruzados caso entendam que há ameaças à separação religião-Estado. Muitos observadores acham, porém, que Gul vai evitar o confronto.

- Não se devem esperar mudanças radicais com Gul como presidente. Seus adversários vão ficar surpresos, e seus seguidores, esperando medidas radicais, vão ficar frustrados - disse o acadêmico Cengiz Çandar.

" Não se devem esperar mudanças radicais com Gul como presidente. Seus adversários vão ficar surpresos, e seus seguidores, esperando medidas radicais, vão ficar frustrados "

Os mercados financeiros turcos ficaram turbulentos devido às declarações do comandante militar e também dos problemas globais. A elite secular turca vê com preocupação o passado islâmico de Gul e não gostaria de ver a esposa dele usando o véu religioso nas dependências do palácio presidencial de Çankaya.

Para muitos, esse lenço é um símbolo da influência religiosa que Mustafa Kemal Ataturk, fundador da Turquia moderna, tentou banir ao fundar uma república ocidentalizada sobre as ruínas do Império Otomano. Mas, uma pesquisa da agência Konda feita para o jornal liberal Milliyet mostra que 72,6% dos entrevistados acham "normal" que a primeira-dama use o véu. Só 19,8% se disseram incomodados com isso.

A Turquia, membro da Otan, vive uma crise política desde abril, quando o AK indicou Gul à Presidência pela primeira vez. Diante da reação da oposição, houve eleições antecipadas. Com a eleição de Gul, o AK, cada vez mais perto do centro no espectro político, passa a ocupar os principais cargos públicos do país.

Embora o primeiro-ministro tenha a maior parte do poder, o presidente tem poder de veto sobre leis e nomeia funcionários e juízes. O cargo também tem grande força moral, por ter tido Ataturk como seu primeiro ocupante.

Desde 1960, os militares já derrubaram quatro governos, mas poucos apostam que isso se repita, já que declarações feitas neste ano pelos quartéis acabaram aparentemente levando a mais votos para o AK.

- O Exército voltou aos quartéis, mas seus soldados ainda estão de guarda e permanecem à espreita - disse o professor Dogu Ergil, da Universidade de Ancara.

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