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Manifestantes pró-aborto tentam incendiar Catedral Principal de Bogotá.
Manifestantes pró-aborto tentam incendiar Catedral Principal de Bogotá.| Foto: Reprodução/Twitter

Um grupo de abortistas tentou incendiar a Catedral Principal de Bogotá, Colômbia, na quarta-feira (28). O aborto até a 24ª semana, autorizado em fevereiro pela Corte Constitucional do país, foi denunciado e voltou para análise dos magistrados. Considerando a Igreja como responsável por esse movimento, manifestantes atearam fogo contra a catedral.

Faz pouco mais de um mês que o país é governado por Gustavo Petro, o primeiro presidente de esquerda da Colômbia, que carrega com ele pautas progressistas como a descriminalização do aborto. Em entrevista à Gazeta do Povo, a senadora colombiana María Fernanda Cabal, da oposição, disse que a violência contra a Igreja e outras instituições será dificilmente combatida no país a partir de agora. A parlamentar destaca que as autoridades não puniram as agressoras, nem mesmo em nível municipal, através da prefeita Claudia López, que é alinhada a Petro.

"Será difícil lutar contra isso porque estamos sob um governo socialista, que é ateu e vê nesses atos de vandalismo um sinal de 'liberdade de expressão'", observa. "Acho que esse comportamento obedece à agenda 2030 promovida pelos progressistas, além da tão divulgada ‘revolução molecular’ que sempre se manifesta com violência", comenta.

Juan Camilo Restrepo, ex-Alto Comissário para a Paz, também se pronunciou. “Há alguns bárbaros que pretendiam incendiar a Catedral Primaz da Colômbia. Estamos prontos para defender crenças e instituições”, tuitou.

Nicolás Gómez Arenas, cientista político influente nas redes sociais, pediu à prefeita de Bogotá que esclareça o ocorrido, já que o vídeo mostra que os gerentes de convivência pouco fazem para dissuadir os vândalos de incendiar a catedral. “Por que os supostos gestores da convivência permitem que a porta da Primeira Catedral seja queimada? Claudia López, o que está acontecendo? Governar, gerenciar, fazer algo ou renunciar. Isso não tem nada a ver com liberdade de expressão, é puro vandalismo”, publicou.

Desde que Petro assumiu a presidência, em 7 de agosto, outras pautas de esquerda ganharam espaço e dificultam o controle da violência no país, gerando críticas sobre a condução do presidente na área de segurança.

Uma das outras iniciativas de Petro é remover 70 generais e coronéis do Exército e da Polícia Nacional, colocar limites nos bombardeios contra grupos guerrilheiros e fazer uma reforma do Esquadrão Móvel de Choque da Polícia (Esmad), responsável pela contenção de protestos.

Enfraquecimento do combate às drogas 

O governo colombiano também quer revolucionar o combate às drogas. Após apresentar um projeto para legalizar o uso recreativo da maconha, Petro e sua bancada pretendem fazer o mesmo com a cocaína. “Nunca conseguiremos a paz na Colômbia até que regulemos o narcotráfico”, alegou o senador Gustavo Bolívar, um dos signatários do projeto de lei sobre a maconha, no final de agosto, em entrevista à CNN.

“Poderíamos, por exemplo, fazer um pequeno tratado em nossos países para modificar a Convenção de Entorpecentes de 1961 e fincar a primeira bandeira de legalização do mundo, e outros países poderiam aderir”, disse Bolívar.

Com o apoio das Farc, a Colômbia também anunciou no final do mês passado que dará prioridade à erradicação manual e à substituição voluntária dos cultivos de coca em ações com as comunidades.

A política de Petro vai na contramão dos pequenos mas significativos avanços dos últimos anos. O governo anterior declarou no início deste ano que o objetivo para 2022 era erradicar manualmente 100 mil hectares de coca, método que há um ano levou à erradicação de 103.100 hectares de cultivo ilegal.

O Gabinete de Política Nacional para o Controle de Drogas da Casa Branca (ONDCP) afirmou em julho que a Colômbia produziu 972 toneladas de cocaína no ano passado, 2,2% a menos do que 994 toneladas calculadas em 2020, e registrou 234 mil hectares sob cultivo, 4,5% abaixo dos 245 mil hectares do ano anterior.

Mais uma vez, a iniciativa do governo recebeu críticas da oposição. “Hoje nadamos em drogas, mas o que virá com essa decisão [fim da erradicação forçada de cultivos ilícitos] será um tsunami de drogas que afogará a Colômbia em mais violência. Estamos indo na direção errada”, escreveu no Twitter o opositor Federico “Fico” Gutiérrez, um dos adversários derrotados pelo esquerdista na eleição presidencial deste ano.

De mãos dadas com guerrilheiros 

A localização de cultivos ilícitos coincide com os territórios onde a maioria dos líderes sociais e indígenas foram assassinados e com a presença de grupos armados ilegais, como dissidentes das Farc, do Exército de Libertação Nacional (ELN) e do Clã do Golfo.

Propostas de acordos de paz com grupos guerrilheiros também são prioridade do governo colombiano, especialmente o ELN. “Estamos repetidamente pedindo aos atores violentos que aceitem nossa proposta de Paz Total”, anunciou Petro no começo deste mês.

O ELN é uma guerrilha fundada na década de 1960 por estudantes e movimentos de esquerda ligados à ditadura comunista de Fidel Castro em Cuba. Tem linha ideológica marxista-leninista e é um dos atores da guerra civil colombiana travada desde então. Assim como outros grupos guerrilheiros, o ELN enveredou pelo tráfico de drogas e armas, contrabando e mineração ilegal.

As conversas com o ELN podem levar ao mesmo fim que as Farc, que se dividiram em grupos que seguem com atividades criminosas enquanto outros têm representação política no Congresso colombiano [com assentos reservados], como o partido Comunes.

Em entrevista à Gazeta do Povo, José Gustavo Arocha, especialista em segurança nacional e mestre em administração pública pela Universidade de Harvard, apontou que é errado considerar que essas iniciativas beneficiarão, acima de tudo, os camponeses e produtores de drogas. “É uma campanha que me parece populista, pelo tema e por chamar a atenção, mas sem dúvida que não somente o Clã do Golfo, mas também o ELN e as Farc seriam os grandes beneficiados se isso acontecesse”, destacou Arocha.

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