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Mais de três anos depois dos atentados que mudaram o rumo da História na Espanha, a Justiça condenou 21 dos 29 acusados de envolvimento nas explosões de 11 de março de 2004, que mataram 191 pessoas nos trens de Madri e deixaram outras 1.841 feridas. Considerados autores das explosões, Jamal Zougam e Otman El Gnaoui foram sentenciados a mais de 40 mil anos de prisão por assassinato em massa, a maior pena pedida pela Promotoria. Outros oito suspeitos foram absolvidos, entre eles Rabei Osman el-Sayed, conhecido como "Mohamed, o egípcio" e suposto idealizador dos ataques, para quem também era pedida a condenação por envolvimento direto nas explosões.

Os condenados ficarão presos por no máximo 40 anos, de acordo com a legislação espanhola. A Justiça também determinou indenizações às famílias das vítimas, que variam de 30 mil euros (R$ 81 mil) a 1,5 milhão de euros (R$ 4,05 milhões). ( Relembre os ataques )

Na leitura da sentença, o juiz Javier Gomez Bermudez descartou o envolvimento do grupo separatista ETA, hipótese que chegou a ser confirmada pelo governo pouco depois dos atentados e também foi usada como argumento de defesa de um dos acusados. O ataque - que foi reivindicado pela Al-Qaeda e é considerado o pior já realizado pela rede terrorista em solo europeu - mudou o rumo da eleição espanhola e levou à retirada das tropas espanholas do Iraque.

O presidente do governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, afirmou que "hoje se fez justiça" com a sentença. Em uma declaração oficial transmitida pela televisão direto do Palácio de la Moncloa, Zapatero, que foi eleito três dias depois dos atentados, elogiou o trabalho "imparcial" dos investigadores policiais e da Justiça. Ele pediu união entre os partidos políticos e a sociedade para combater o terrorismo.

- Faço um chamado às forças políticas e ao conjunto da sociedade para que trabalhemos unidos na luta contra a ameaça terrorista - afirmou Zapatero. - É a melhor lição que podemos tirar da sentença divulgada - acrescentou.

Os dois acusados condenados com as maiores penas foram considerados culpados pelos 191 assassinatos, por provocar dois abortos e 1.856 tentativas de assassinato, por conta das vítmas, além de quatro ataques terroristas, para cada trem onde as 10 bombas explodiram. O espanhol José Emilio Suárez Trashorras recebeu pena pouco menor que a de Zougam e El Gnaoui. Trashorras, um ex-mineiro que forneceu os explosivos aos terroristas, recebeu atenuante por "anomalia psíquica" e foi condenado a quase 35 mil anos.

Todos os acusados se declararam inocentes e espera-se que a maioria apele das sentenças. Entre os oito absolvidos, além de "Mohamed, o egípcio", estão Antonio Toro, Carmen Toro, Emilio Llano, Mohamed Moussante, Javier González Díaz, Iván Granados, e Brahim Moussaten, que se livrou da pena durante o processo.

Sessão foi cercada por medidas de segurança

Em uma sessão cercada por rigorosas medidas de segurança, o juiz Javier Gomez Bermudez começou a leitura da sentença às 11h30 (8h30m no horário de Brasília). A sessão foi acompanhada por parentes de vítimas e advogados dos acusados, que ficaram separados em uma sala envidraçada. Até a leitura das sentenças, o processo não havia sido impresso, para evitar o vazamento das informações.

No total, a decisão tem mais de 600 páginas, divididas entre as 170 a 200 que descrevem os antecedentes do fato, as 70 a 80 dos fatos comprovados e as cerca de 200 que explicarão os fundamentos jurídicos que respaldam a sentença. Outras 200 páginas serão destinadas aos 1.841 feridos nos atentados.

No fim de semana, os 18 acusados que estavam em prisão temporária deixaram as onze penitenciárias nas quais estavam detidos e foram levados para quatro prisões de Madri, de modo que pudessem comparecer à leitura. O suposto idealizador dos atentados, Rabei Osman el-Sayed, recebeu a sentença por videoconferência, já que, depois do julgamento em Madri, ele voltou à Itália, onde cumpre pena pelo crime de pertencer a organização terrorista. Ele chorou ao saber da sentença.

A participação do ETA nos atentados não era descartada pela imprensa e por setores conservadores, embora a Promotoria tivesse indicado que a possibilidade não tinha "qualquer consistência". O tribunal, no entanto, resolveu interrogar três membros do grupo: o ex-dirigente Henri Parot e doiss ativistas, Gorka Vidal e Izkur Badillo, detidos dias antes dos atentados quando levavam para Madri uma caminhonete carregada de explosivos. Eles negaram qualquer relação com grupos radicais islâmicos.

Quanto às bombas, os oito peritos encarregados de elaborar o relatório final que indicaria a substância usada nos explosivos colocados na linha ferroviária de Madri concluíram que os terroristas utilizaram dinamite, mas não chegaram a um consenso sobre a marca comercial. Alguns peritos indicaram que os artefatos continham dinamite do tipo titadine, usada habitualmente pelo ETA.

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